Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 21 de novembro de 1937, N. 271

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Um dos fatos que os últimos acontecimentos puseram em mais dolorosa evidência é o absoluto desinteresse com que os maiores órgãos de nossa imprensa diária consideram as questões religiosas. Reformada a estrutura política do país, claro está que muitas alterações feitas poderiam pôr em jogo interesses gravíssimos da Religião adotada pela quase totalidade dos leitores de tais jornais. Entretanto, eles se ocuparam com a situação do Catolicismo na nova Constituição como se preocupariam com a do islamismo em alguma nova constituição feita por Mustaphá Kemai Pachá, isto é, agiram com o mais absoluto desinteresse. O máximo que fizeram foi divulgar alguns trechos de entrevistas sobre os efeitos civis do casamento religioso. E nada mais. Enquanto isto, para tratar do café, do câmbio ou da composição das futuras câmaras, não havia espaço que bastasse.

Este fato não será suficiente para mostrar, até para os mais cegos, que os católicos devem ter uma imprensa própria?

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À margem do discurso que o Sr. Presidente da República pronunciou pelo rádio, quando anunciou a reforma constitucional, há considerações que não podem deixar de interessar os católicos.

Uma delas é referente ao quadro que S. Exa. traçou do panorama nacional. Quem ler com atenção as palavras de S. Exa., não pode deixar de verificar que, como inúmeras vezes temos dito, nossa crise fundamental é uma crise moral. E é desta crise moral que brotam os frutos envenenados de nossos problemas econômicos, sociais e políticos.

S. Exa. fala, em primeiro lugar, do uso inadequado que foi feito entre nós da vida partidária, transformada em disputas personalistas, nas quais o idealismo raramente se notava. Qual a causa desse fato? A ausência de convicções solidamente esteadas e de princípios verdadeiramente orientadores da mentalidade de inúmeros políticos....[erro tipográfico; faltam palavras]... médio? Qualquer católico não terá dificuldade em responder.... [erro tipográfico; faltam palavras].... formação católica.

No quadro da situação econômica nacional que S. Exa. traçou particularmente no tocante ao café, onde estão as mais graves causas de erro apontadas pelo Presidente? Nas dificuldades técnicas? Nas deficiências da organização? Não, porém na imprevidência, na falta de espírito de organização, no imediatismo de que nossa vida econômica se ressente até nas menores esferas da atividade individual. Ora, estes defeitos são morais. E só a boa formação religiosa os poderá corrigir.

Com isto, têm os católicos mais uma confirmação exuberante daquela verdade que os Pontífices têm proclamado tão insistentemente: é na Igreja que devemos procurar uma base sólida para a prosperidade material e a grandeza espiritual do mundo.

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A este propósito, tem extraordinária oportunidade o comentário de uma notícia que o telégrafo nos trouxe há dias. O Episcopado espanhol reuniu-se para tratar da imediata e vigorosa reorganização da Ação Católica em toda a zona já ocupada pelas forças nacionalistas.

Em plena guerra civil, portanto, quando poderia parecer que todas as energias e todas as atividades deveriam ser absorvidas pela luta armada, o Episcopado Espanhol trata da reorganização da Ação Católica. E nem espera ele sequer a vitória final, para poder fazê-lo com mais método e mais tranqüilidade. Por que? Evidentemente o Episcopado não aconselha que se desviem da guerra toda as energias necessárias. Mas a Ação Católica é tão absolutamente indispensável nos dias que correm, que nem sequer durante as angústias da guerra civil pode ser esquecida, e, para levá-la a cabo, não se pode esperar o dia radioso e talvez próximo da vitória. Os venerandos Prelados espanhóis consideram que a Espanha precisa da Ação Católica já e com o máximo de intensidade.

É óbvia a aplicação que este exemplo tem para o Brasil, onde nada, absolutamente nada pode tornar adiável a Ação Católica, máxime quando gozamos da paz necessária para lhe dar todo o desenvolvimento desejado.

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Muita gente, ao ler estas considerações, pensará no seu íntimo que são exageradas. No entanto, podemos argumentar também com a irrecusável autoridade do Sumo Pontífice.

Em recente Encíclica ao Episcopado mexicano, o Santo Padre Pio XI recomendava que no pobre México, ensangüentado e martirizado, se organizasse quanto antes a Ação Católica, devendo esta tarefa ser preferida a qualquer outra, até mesmo à resistência armada para a defesa dos direitos da Igreja, a tal ponto é ela indispensável. Se assim é no México, onde a Ação Católica a custo poderá florescer, o que se dirá do Brasil!

Mais uma vez insistimos em lembrar, entretanto, que Sua Santidade não afirma com isto que os católicos não devem lutar quando necessário em outros terrenos. Pelo contrário. Mas preocupação nenhuma pode pairar acima da de organizar perfeitamente a Ação Católica. E a História confirma o acerto do conselho pontifício. Não foi a ação católica desenvolvida pelos católicos das catacumbas, que regenerou o mundo, embora estivesse a Igreja entregue sem qualquer resistência ao despotismo dos Imperadores?

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Alguém argumentará, talvez, com as cruzadas. Ora, exatamente este exemplo é característico para demonstrar o que afirmamos.

As cruzadas demonstram que o católico deve defender com um heroísmo total e entusiástico a sua Fé, em qualquer terreno em que ela seja ameaçada, inclusive no campo de batalha. Mas ao mesmo tempo que a Igreja promovia a organização das cruzadas, não se descuidava por um só momento de intensificar por todos e absolutamente todos os meios ao seu alcance a vida religiosa da Europa. Porque era essa vida religiosa a fonte das energias sobrenaturais que, nas cruzadas, se iriam traduzir em magníficos lances de heroísmo.

Se fraquejasse a vida religiosa na Europa, as cruzadas imediatamente seriam esmagadas pelos muçulmanos. Porque a luta é o fogo, e a vida espiritual é o azeite de que este fogo se alimenta.

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Devemos receber com simpatias as múltiplas iniciativas que no Rio, no Rio Grande do Sul e no Paraná estão sendo tomadas para reprimir a jogatina. Entretanto, parece-nos que o Sr. delegado de Segurança Pública do Paraná se excedeu proibindo o uso de bebidas alcoólicas. Que ele regulamentasse esse uso, seria excelente e digno dos maiores aplausos. Que ele o proibisse, não. Porque não é o uso, mas o abuso que é condenável.

Como é sabido, a Igreja, com sua sabedoria sobrenatural, discorda a este respeito de certas seitas protestantes que condenam absolutamente o uso de álcool, pois que a Igreja só condena o uso desordenado e nunca o uso razoável, moderado.

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Lemos com emoção que S.S. o Papa recebeu em audiência um grupo de oficiais e marinheiros brasileiros que foram a Roma. Esta filial atenção encheu-nos do maior júbilo. E a benção que paternalmente Sua Santidade deu, por intermédio dos presentes, a toda a nossa marinha é prenúncio feliz do que essa classe armada continuará a ser sempre um baluarte de civilização católica e brasileira contra todos os inimigos que procuram destruí-la.

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Assim como comentamos com apreensão as declarações que por ocasião de sua visita à Alemanha fez o Sr. Benito Mussolini, devemos censurar do modo mais positivo, categórico e absoluto, o telegrama que o Sr. Franklin Roosevelt, Presidente dos Estados Unidos, dirigiu ao “Camarada” Stalin, felicitando-o pelo 20º aniversário da revolução na Rússia. Para um gesto destes, só há um comentário: é inominável.

O curioso é que temos sobre nossa mesa de trabalho, exatamente no momento em que escrevemos esta nota, uma recentíssima fotografia do Sr. Roosevelt em visita a S. Ema. o Cardeal-Arcebispo de Chicago.

Duas velas, uma a Deus e...

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Não deixa de ser expressivo o fato de ter o “Camarada” Cardeñas, Presidente da República Mexicana, condecorado com o grão colar da Ordem da Águia Azteca, o “Camarada” Azaña. É mais um atestado da estreita afinidade que une o regime mexicano ao da desventurada parcela da Espanha entregue aos vermelhos.

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O corpo do Sr. Ramsay MacDonald, que faleceu quando em viagem para nosso continente, foi reconduzido à Inglaterra, onde o colocaram na famosa Abadia de Westminster. Realizado um ofício protestante nessa Abadia, foi o corpo transportado para Lessiemouth, onde foi cremado.

Permitindo a realização das exéquias religiosas, quando já estava anunciado o propósito de cremar o corpo, a igreja anglicana deu mais uma prova de sua inegável permeabilidade aos desmandos de nosso século, pois que o enterramento dos mortos é uma piedosa tradição cristã que nunca poderia ser abandonada, por ser conforme em todos os pontos à doutrina evangélica. A cremação, pelo contrário, é um hábito absolutamente pagão.

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Grassa atualmente, em certas regiões da Alemanha, uma intensa febre aftosa, que tem ocasionado consideráveis prejuízos materiais. Nas regiões ora afetadas, costuma haver periodicamente tais surtos epidêmicos, mas o deste ano é mais forte do que de costume, pela deficiente alimentação do gado, decorrente da aplicação do famoso plano de 4 anos, que limita as rações dos animais. Depauperado, o gado está naturalmente mais exposto a contágio.

No entanto, a imprensa nazista precisou encontrar outras causas. E aproveitou como tema para intermináveis diatribes duas principais: os estrangeiros, que teriam feito envenenar o gado, e a Igreja, cujos Ministros foram solicitados pelos camponeses a espargir água benta sobre os rebanhos, a ver se diminuía o flagelo de que estes sofriam.

Confere.


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