Legionário, N.º 262, 19 de setembro de 1937

7 DIAS EM REVISTA

Merece inteira aprovação o projeto de lei apresentado pelo Sr. Deputado Theotonio Monteiro de Barros Filho, a respeito da criação de um Colégio Militar em São Paulo.

Já temos dito mais de uma vez que é um dever imperioso de todas as “elites” sociais dar às Forças Armadas a preciosa contribuição do tempo e do talento de seus filhos.

O estabelecimento de um Colégio Militar em São Paulo proporcionará à tradicional “elite” de nossa Capital oportunidade para o cumprimento desse dever, do qual decorrerão, para São Paulo, para o Brasil e, por via indireta, para a própria Igreja, vantagens fáceis de se avaliar.

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Já que tocamos em assuntos militares, queremos fazer um comentário ao discurso proferido pelo Sr. Armando Salles de Oliveira no Rio Grande do Sul, a propósito da política militar que pretende desenvolver, se for eleito para o cargo de Presidente da República.

Estamos de acordo com quase todos os conceitos emitidos no mencionado discurso, muitos dos quais já havíamos, em ocasiões diversas, externado anteriormente a S. Ex.a em nossas colunas.

O ponto capital de seu discurso, incontestavelmente, está na afirmação de que o Exército, por sua sólida formação moral e cultural, principalmente filosófica, precisa constituir uma mentalidade própria, capaz de lhe servir de anteparo contra os princípios dissolventes que poderiam desviá-lo do cumprimento do seu dever.

Mas o que quereríamos saber, e S. Ex.a não disse, é qual será essa filosofia. Não basta uma filosofia qualquer. Como não basta uma formação moral qualquer. Para os católicos, não seria apenas capital, mas capitalíssimo conhecer minuciosamente o pensamento de sua Ex.a a este respeito.

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Magnífico o telegrama que os estudantes do Centro Acadêmico “Luiz de Queiroz, da Escola Agrícola de Piracicaba, enviaram ao Sr. Presidente da República protestanto contra a intromissão do Comitee for protection of Brasilian People de Washington, e as propaladas atividades nazistas no Brasil. Nesse telegrama, não enviam apenas os acadêmicos um protesto platônico, mas pedem que seja aberta uma rigorosa sindicância para se averiguar se corre dinheiro estrangeiro para facilitar a propaganda de alguma corrente política brasileira.

É da maior oportunidade.

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Os Srs. Oswaldo Aranha e Juarez Távora apressaram em explicar a origem do dinheiro que o ex-capitão Luiz Carlos Prestes afirma ter recebido de SS. Ex.a, e do Sr. Presidente da República, para o financiamento da mazorca de 35. Nossos diários reproduziram, sem comentários, tais declarações. Nós, porém, não nos contentamos com tal silêncio.

Para qualquer indivíduo que saiba quanto custa a vida, é evidentemente impossível que a Revolução de 35 tenha sido financiada exclusivamente com mil contos dados em 30 ao ex-capitão Prestes, dinheiro este que deveria necessariamente ter sofrido muitas avarias para satisfazer as necessidades pessoais do seu detentor, homem que nunca exerceu profissão remunerativa no exílio, ao que saibamos, inteiramente absorvido, como estava, pelas suas “conspiratas”, que exigiram dele, até, como é notório, uma viagem a Moscou, onde foi recebido com honras de chefe de Estado.

De onde, então, veio o dinheiro?

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Mas há outra observação muito oportuna. Muita gente excessivamente ingênua ou excessivamente maliciosa, afirmando-se embora anticomunista, compraz-se em tecer loas ao caráter do ex-capitão Luís Carlos Prestes. O assunto não mereceria nossa atenção se, desses elogios, muita gente não deixasse entrever conseqüências perigosas.

Façamos, pois, um comentário. O chefe do movimento de 35 recebeu, em 30, dinheiro para uma revolução burguesa. Recebeu-o em confiança. Foi enviado por amigos. Mas achou que estava no direito de abusar dessa confiança para utilizar-se do dinheiro remetido, contra os próprios ideais de quem lho remeteu.

Em moral, como se chama um ato desses?

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É tal a paixão política que domina atualmente a opinião pública, que já não só os vivos que fazem política, mas também os mortos. Conta-se que, antigamente, os mortos votavam. Hoje fazem mais: interferem diretamente na política, comunicando suas opiniões aos vivos, por meio dos “mediuns” espíritas.

É o que se pode inferir de uma série de cômicos artigos que um Sr. Finger, ex-presidente da Federação Espírita Brasileira, tem publicado no “Correio da Manhã”. Nestes artigos, entre outros espíritos consultados, o Sr. Finger menciona o de João Pessoa. Todos os espíritos movem uma tenaz campanha contra o comunismo e o integralismo.

Como se não fosse suficiente o caráter cômico desta impostura ridícula, outra nota tão cômica veio se acrescentar a esta. Um grupo de integralistas espíritas, pelas colunas da “Offensiva”, publicou uma carta afirmando não poder provir de João Pessoa a comunicação anti-integralista, a menos que o espírito deste ainda estivesse perturbado pelo golpe que o matou, que os demônios andam interferindo nas emissões espíritas, para dizer coisas contrárias ao integralismo, etc., etc. E terminam dizendo que todos os verdadeiros espíritas devem estar com o integralismo, porque este está em harmonia com a doutrina do Evangelho.

Que tal?

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No discurso que proferiu no recente Congresso do Partido Nazista o Sr. Goebbels afirmou que na Alemanha, Itália, Japão, Hungria, Polônia, Brasil, Portugal e Turquia, já está travada a luta visível contra o comunismo. Por que não mencionou S. Ex.a a Áustria e a Bélgica, países governados diretamente por elementos católicos, nos quais a luta contra o comunismo é formidável? Não conhece S. Ex.a as magnificas estatísticas da JOC belga, que demonstram que a Igreja conquistou para si o operariado daquele país?

A coisa parece explicar-se sem dificuldades. É que a Áustria e a Bélgica, principalmente a primeira, são nitidamente refratárias à influencia doutrinária de certas pseudo-direitas.

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São muito louváveis os propósitos de algumas pessoas de nossa alta sociedade que, com intuitos caritativos, deram seu nome para patrocinar uma campanha a favor do Sanatório Ebenezer, de Campos do Jordão.

O que, entretanto, tais pessoas ignoram é que o mencionado sanatório tem uma orientação nitidamente anticatólica, desenvolvendo-se nele todo o trabalho necessário para fazer o proselitismo de crenças adversárias da nossa. A este respeito, recebemos uma informação positiva.

Ora, os católicos não podem dar seu apoio a qualquer iniciativa que, visando embora restituir a saúde aos corpos, introduza na alma a pior das moléstias, que é a heresia. Tanto mais que há inúmeras iniciativas católicas congêneres, necessitadas e merecedoras do mais devotado apoio.

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Fomos dolorosamente surpreendidos com a notícia de que um inspetor do Juízo de Menores, apreendeu, no domingo passado, alguns meninos que efetuavam, na porta da Igreja das Perdizes, a venda dos folhetos litúrgicos, impressos pelos RR.PP. Beneditinos, ameaçando com igual medida os vendedores do “Legionário“.

Este fato, que provavelmente se passou à revelia do Sr. Juiz de Menores, é tão injusto e ilegal que esperamos que não se repita.