É indubitável que o acontecimento político
culminante da semana foi o julgamento dos comunistas detidos desde 1935. Na
hora em que escrevemos, a sentença definitiva ainda não foi pronunciada. Mas é
dela que de modo eminente depende o futuro do Brasil.
Os nortistas, quando combatiam pela expulsão dos
holandeses, os Andradas, quando conspiravam em prol
da independência, e os exércitos imperiais, quando rechaçavam os paraguaios
invasores, não tiveram missão histórica de menos monta do que a do Tribunal
que, em suprema instância, julgará Carlos Prestes e seus cúmplices.
Porque o jugo holandês, o jugo português, ou até o jugo paraguaio são menos
odiosos para o Brasil católico, apostólico romano do que o jugo comunista dos
ateus da III Internacional. E é este jugo que o Tribunal Militar deve rejeitar.
Se as penalidades decretadas contra os chefes
comunistas forem justas - o que eqüivale a dizer severas - o jugo ateu do
bolchevismo terá sido repelido pelo Tribunal. Se forem irrisoriamente suaves,
as portas do Brasil terão sido oficialmente abertas aos colonizadores
de Moscou. Não há meio termo a seguir.
* * *
Ninguém, entretanto, pode ignorar que será muito
dura a tarefa do Tribunal, se ele agir à altura das circunstâncias, como
podemos, queremos e devemos esperar, porque o sentimentalismo piegas de muita
gente procurará colocar os comunistas na posição de vítimas.
Seria natural, portanto, que um largo movimento de
opinião fosse provocado por todas as forças interessadas em combater o
comunismo no sentido de preparar um ambiente apto a compreender as exigências
do momento.
Entretanto, todas as nossas forças burguesas se
calaram. As associações de classe burguesas, isto é, a Associação Comercial, a Sociedade Rural, a Ordem dos Advogados, o Club de Engenharia, a Federação das Indústrias, etc., etc., se conservaram tão alheias ao assunto, como
se estivessem sendo julgados inofensivos ladrões de galinha do planeta Marte.
O mesmo faz a imprensa “neutra”. Onde estão os artigos em que ela advoga a causa do Brasil contra
a de Moscou? Onde a propaganda em favor de uma justiça eqüitativa e eficiente?
Por que tanto silêncio?
* * *
Quando o “Legionário” manifesta
seu desejo de que sejam eficientemente punidos os homens que, na calada da
noite, assassinaram oficiais entregues ao sono, e tentaram levar o morticínio e
o saque por todo o Brasil, cumpre um dever de justiça.
De justiça porque não há razão para se condenar a
30 anos de prisão um indivíduo que matou o outro em um acesso de furor, e ser
indulgente para com pessoas que, depois de uma longa e fria premeditação, mataram
os servidores da Pátria que eles não conseguiram acumpliciar
nos seus tenebrosos projetos. De justiça, ainda, porque se se
fulminam penas severíssimas contra qualquer gatuno que arromba uma burra para
roubar jóias, é imperiosamente necessário fulminar com penas ainda maiores os
indivíduos que não quiseram fazer apenas um roubo contra um cidadão, mas
generalizar o confisco da propriedade privada, no Brasil inteiro, contra todos
os brasileiros.
De justiça, porque, como o sangue inocente de Abel,
o sangue dos militares assassinados em 35 clama aos céus e pede justiça de
Deus.
Não há um único católico, por mais “flor de
laranjeira” que seja, que possa dizer que estamos errados.
* * *
E a caridade? Onde põe o “Legionário”? Manda-a às urtigas?
Não. O “Legionário” pede que se apliquem aos
culpados penas severas e longas. Não, porém, penas desumanas, isto é, maus
tratos, vexames, humilhações ou privações. Contra estas, ele protestaria com
todo o vigor.
Assim procedendo, o “Legionário”
pratica no seu maior rigor a caridade evangélica. Querem a prova? Na Rússia, os
católicos são mortos barbaramente, sem qualquer processo, sem qualquer defesa,
sem qualquer garantia, estupidamente, cinicamente, cruelmente, pelo simples
fato de serem católicos. E isto depois de torturas físicas e morais
inenarráveis.
E o que fazem os católicos brasileiros? São
contrários a que estes processos se apliquem aos representantes do comunismo
russo. Querem para eles um tratamento benigno, decente, correto, e humano. E estão
dispostos a protestar se as penas, que eles desejam longas, se transformem, de
meio de detenção em meio de tortura.
Agindo assim no Brasil, quando com ela se procede
de modo tão diverso na Rússia, a Igreja paga o mal com o bem, e estende a outra
face a quem lhe deu a bofetada.
* * *
Merece nosso apoio caloroso a moção votada pelo
Centro Oswaldo Cruz e Grêmio
Politécnico contra o “Comitê
pró proteção ao povo brasileiro”, constituído nos EE.UU., para proteger nossos
comunistas. A formação de tal “Comitê” é um ultraje ao Brasil.
É também muito digno de encômio
que nossos bravos universitários pediram na mesma moção que o Governo tomasse
medidas contra a infiltração nazista no Brasil, da qual eles asseguraram ter
documentação.
Com esta atitude, nossos acadêmicos dão provas de
patriotismo admiravelmente lúcido. Não querem eles que a Rússia e a Alemanha
venham lutar dentro do Brasil, transformando-o em ring
de “cat as catch can” [luta-livre].
Aliás, não são a Rússia e a Alemanha que o querem,
mas os políticos pagãos ou materialistas que, infelizmente, dirigem aquelas
gloriosas nações. Convêm acentuá-lo, para que os “russos brancos” e os alemães verdadeiramente amigos do
Brasil percebam que continuam a ser vistos aqui com a maior simpatia.
* * *
É curioso notar que Luiz Carlos Prestes declarou ter
passado pelas mãos dos Srs. Getúlio Vargas e Oswaldo Aranha o dinheiro com que
ele “trabalhou” no Brasil para preparar o levante de 35.
Certamente a Secretaria do Catete
ou algum órgão oficioso desmentirá tal afirmação, que constitui um pesadíssimo
ultraje àqueles dois brasileiros, que não quererão que ele passe sem revide.
* * *
O projeto de lei apresentado pelo Sr. Deputado J.
F. Fairbanks a respeito de
assimilação dos elementos japoneses existentes em São Paulo apresenta, sob o
ponto de vista religioso, aspectos muito louváveis.
A este propósito, chamamos a atenção de nosso
público para a obra, sob tantos títulos meritória, do Rev.mo Pe. Guido del Toro, S.J., que, evangelizando a laboriosa colônia japonesa
aqui domiciliada, trabalha implicitamente, e de modo poderoso, para a sua assimilação
ao Brasil.
Desejaríamos muito que um projeto de lei inspirado
em razões idênticas fosse apresentado sobre a propaganda nazista no Brasil.
Reputamo-la muito mais perigosa do que a formação de núcleos coloniais
japoneses. Os erros religiosos japoneses não podem ter expansão aqui. Mas quem
ousará afirmar o mesmo quanto aos do nazismo?
* * *
Os EE.UU. são o país das coisas extraordinárias. Por isto mesmo,
declarou-se em Kansas City uma greve que
julgamos inédita. Os coveiros da cidade, segundo nos informaram os jornais da
semana transacta, recusaram-se a enterrar os mortos, sendo necessário empregar
novos elementos para substituir os coveiros. Os coveiros ameaçaram, então, de
agredir... e talvez de mandar para a cova, os novos colegas. E a polícia teve
de intervir à mão armada para evitar um conflito entre os novos e os antigos
coveiros.
* * *
O novo embaixador do México no Brasil, chegado há
dias a nosso País, exerceu o cargo de cônsul geral do México em Barcelona
[nota: sob domínio de um governo comunista], antes de ser nomeado para o Rio.
Não é significativo?