Legionário, N° 261, 12 de setembro de 1937

7 DIAS EM REVISTA

É indubitável que o acontecimento político culminante da semana foi o julgamento dos comunistas detidos desde 1935. Na hora em que escrevemos, a sentença definitiva ainda não foi pronunciada. Mas é dela que de modo eminente depende o futuro do Brasil.

Os nortistas, quando combatiam pela expulsão dos holandeses, os Andradas, quando conspiravam em prol da independência, e os exércitos imperiais, quando rechaçavam os paraguaios invasores, não tiveram missão histórica de menos monta do que a do Tribunal que, em suprema instância, julgará Carlos Prestes e seus cúmplices. Porque o jugo holandês, o jugo português, ou até o jugo paraguaio são menos odiosos para o Brasil católico, apostólico romano do que o jugo comunista dos ateus da III Internacional. E é este jugo que o Tribunal Militar deve rejeitar.

Se as penalidades decretadas contra os chefes comunistas forem justas - o que eqüivale a dizer severas - o jugo ateu do bolchevismo terá sido repelido pelo Tribunal. Se forem irrisoriamente suaves, as portas do Brasil terão sido oficialmente abertas aos colonizadores de Moscou. Não há meio termo a seguir.

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Ninguém, entretanto, pode ignorar que será muito dura a tarefa do Tribunal, se ele agir à altura das circunstâncias, como podemos, queremos e devemos esperar, porque o sentimentalismo piegas de muita gente procurará colocar os comunistas na posição de vítimas.

Seria natural, portanto, que um largo movimento de opinião fosse provocado por todas as forças interessadas em combater o comunismo no sentido de preparar um ambiente apto a compreender as exigências do momento.

Entretanto, todas as nossas forças burguesas se calaram. As associações de classe burguesas, isto é, a Associação Comercial, a Sociedade Rural, a Ordem dos Advogados, o Club de Engenharia, a Federação das Indústrias, etc., etc., se conservaram tão alheias ao assunto, como se estivessem sendo julgados inofensivos ladrões de galinha do planeta Marte.

O mesmo faz a imprensa “neutra”. Onde estão os artigos em que ela advoga a causa do Brasil contra a de Moscou? Onde a propaganda em favor de uma justiça eqüitativa e eficiente?

Por que tanto silêncio?

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Quando o “Legionário” manifesta seu desejo de que sejam eficientemente punidos os homens que, na calada da noite, assassinaram oficiais entregues ao sono, e tentaram levar o morticínio e o saque por todo o Brasil, cumpre um dever de justiça.

De justiça porque não há razão para se condenar a 30 anos de prisão um indivíduo que matou o outro em um acesso de furor, e ser indulgente para com pessoas que, depois de uma longa e fria premeditação, mataram os servidores da Pátria que eles não conseguiram acumpliciar nos seus tenebrosos projetos. De justiça, ainda, porque se se fulminam penas severíssimas contra qualquer gatuno que arromba uma burra para roubar jóias, é imperiosamente necessário fulminar com penas ainda maiores os indivíduos que não quiseram fazer apenas um roubo contra um cidadão, mas generalizar o confisco da propriedade privada, no Brasil inteiro, contra todos os brasileiros.

De justiça, porque, como o sangue inocente de Abel, o sangue dos militares assassinados em 35 clama aos céus e pede justiça de Deus.

Não há um único católico, por mais “flor de laranjeira” que seja, que possa dizer que estamos errados.

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E a caridade? Onde põe o “Legionário”? Manda-a às urtigas?

Não. O “Legionário” pede que se apliquem aos culpados penas severas e longas. Não, porém, penas desumanas, isto é, maus tratos, vexames, humilhações ou privações. Contra estas, ele protestaria com todo o vigor.

Assim procedendo, o “Legionário” pratica no seu maior rigor a caridade evangélica. Querem a prova? Na Rússia, os católicos são mortos barbaramente, sem qualquer processo, sem qualquer defesa, sem qualquer garantia, estupidamente, cinicamente, cruelmente, pelo simples fato de serem católicos. E isto depois de torturas físicas e morais inenarráveis.

E o que fazem os católicos brasileiros? São contrários a que estes processos se apliquem aos representantes do comunismo russo. Querem para eles um tratamento benigno, decente, correto, e humano. E estão dispostos a protestar se as penas, que eles desejam longas, se transformem, de meio de detenção em meio de tortura.

Agindo assim no Brasil, quando com ela se procede de modo tão diverso na Rússia, a Igreja paga o mal com o bem, e estende a outra face a quem lhe deu a bofetada.

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Merece nosso apoio caloroso a moção votada pelo Centro Oswaldo Cruz e Grêmio Politécnico contra o “Comitê pró proteção ao povo brasileiro”, constituído nos EE.UU., para proteger nossos comunistas. A formação de tal “Comitê” é um ultraje ao Brasil.

É também muito digno de encômio que nossos bravos universitários pediram na mesma moção que o Governo tomasse medidas contra a infiltração nazista no Brasil, da qual eles asseguraram ter documentação.

Com esta atitude, nossos acadêmicos dão provas de patriotismo admiravelmente lúcido. Não querem eles que a Rússia e a Alemanha venham lutar dentro do Brasil, transformando-o em ring de cat as catch can [luta-livre].

Aliás, não são a Rússia e a Alemanha que o querem, mas os políticos pagãos ou materialistas que, infelizmente, dirigem aquelas gloriosas nações. Convêm acentuá-lo, para que os “russos brancos” e os alemães verdadeiramente amigos do Brasil percebam que continuam a ser vistos aqui com a maior simpatia.

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É curioso notar que Luiz Carlos Prestes declarou ter passado pelas mãos dos Srs. Getúlio Vargas e Oswaldo Aranha o dinheiro com que ele “trabalhou” no Brasil para preparar o levante de 35.

Certamente a Secretaria do Catete ou algum órgão oficioso desmentirá tal afirmação, que constitui um pesadíssimo ultraje àqueles dois brasileiros, que não quererão que ele passe sem revide.

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O projeto de lei apresentado pelo Sr. Deputado J. F. Fairbanks a respeito de assimilação dos elementos japoneses existentes em São Paulo apresenta, sob o ponto de vista religioso, aspectos muito louváveis.

A este propósito, chamamos a atenção de nosso público para a obra, sob tantos títulos meritória, do Rev.mo Pe. Guido del Toro, S.J., que, evangelizando a laboriosa colônia japonesa aqui domiciliada, trabalha implicitamente, e de modo poderoso, para a sua assimilação ao Brasil.

Desejaríamos muito que um projeto de lei inspirado em razões idênticas fosse apresentado sobre a propaganda nazista no Brasil. Reputamo-la muito mais perigosa do que a formação de núcleos coloniais japoneses. Os erros religiosos japoneses não podem ter expansão aqui. Mas quem ousará afirmar o mesmo quanto aos do nazismo?

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Os EE.UU. são o país das coisas extraordinárias. Por isto mesmo, declarou-se em Kansas City uma greve que julgamos inédita. Os coveiros da cidade, segundo nos informaram os jornais da semana transacta, recusaram-se a enterrar os mortos, sendo necessário empregar novos elementos para substituir os coveiros. Os coveiros ameaçaram, então, de agredir... e talvez de mandar para a cova, os novos colegas. E a polícia teve de intervir à mão armada para evitar um conflito entre os novos e os antigos coveiros.

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O novo embaixador do México no Brasil, chegado há dias a nosso País, exerceu o cargo de cônsul geral do México em Barcelona [nota: sob domínio de um governo comunista], antes de ser nomeado para o Rio.

Não é significativo?