Legionário, N.º 258, 22 de agosto de 1937

7 DIAS EM REVISTA

O artigo de fundo que, com a devida autorização, publicamos em nosso último número, teve nos círculos católicos desta capital a mais profunda e grata repercussão. Sabemos de fonte muito segura que S. Ex.a Rev.ma o Sr. Arcebispo Metropolitano tem recebido numerosos telegramas assinados por associações religiosas, famílias católicas e fiéis em geral manifestando seu inteiro acatamento às diretrizes de S. Ex.a Rev.ma, e o entusiasmo que, com muita razão, provocaram em todos os corações.

Este fato mostra que os católicos paulistas compreenderam perfeitamente a elevação de vistas com que a Cúria traçou suas diretrizes e a delicadeza do senso católico de nossa gente, que está disposta a obedecer a qualquer apelo que proceda do grande pastor de almas com que a Providência presenteou a Arquidiocese.

Até o dia em que escrevemos esta notícia, continuavam a afluir à Cúria numerosos telegramas, que certamente serão ainda expedidos no decurso de toda a semana entrante pois que todos os católicos de São Paulo quererão servir-se desse ensejo para testemunhar seu devotamento a SS. Ex.as Rev.mas os Srs. Arcebispo metropolitano e Bispo Auxiliar.

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Dos Srs. Lapetina, Ferreira, Pamma, Assis, Valle Cuiqueto, Freitas, sobre o mesmo assunto, recebeu esta folha o seguinte telegrama:

“Lemos ‘Legionário’ artigo de fundo ordem Arcebispo e Bispo Auxiliar. Salve Maria. Viva Jesus. Nome católicos S. João Batista aceite parabéns causa Deus sua Igreja nossa Pátria”.

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Ninguém tem escrito mais, nem com maior veemência contra o comunismo do que o “Legionário” que, fazendo-o, não cumpre senão o mais elementar de seus deveres. Exatamente por isto, sentimo-nos perfeitamente à vontade para denunciar a campanha de boatos com que pescadores de águas turvas procuram perturbar nosso ambiente político, de per si já tão anarquizado.

Seria natural que o espírito público estivesse apreensivo com manejos, por demais evidentes, de certos elementos simpáticos ao comunismo. Seria natural, ainda, que essa apreensão se traduzisse em conjecturas e boatos de fundo pessimista. Mas o que temos diante de nós não é a simples eclosão de boatos verossímeis, expontâneos e justificados. É uma disseminação sistemática de notícias alarmantes não apenas no nosso Estado, mas até fora dele.

Os intuitos desta campanha são por demais visíveis para que alguém se iluda sobre sua procedência. O processo, para se descobrir os autores do manejo, é simples. Basta perguntar a quem aproveita.

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Dir-se-á, talvez, que exageramos, e que nada nos autoriza a afirmar que esta pululação de boatos é artificial.

Basta, porém, examinar os fatos, para concluir o contrário. No Estado do Rio como em São Paulo e em Santos, os boatos ferveram, sempre com características idênticas: perigo comunista eminentíssimo, necessidade de se armar a população, impotência das autoridades, etc., etc. Por toda a parte, a campanha foi entretida por boletins absolutamente idênticos quanto ao espírito e à linguagem. E os boatos estouraram em datas absolutamente iguais, o que não seria admissível em uma eclosão expontânea de apreensões populares, principalmente tratando-se de cidades bem distantes uma da outra. Acresce que toda esta efervescência se deu antes das dolorosas ocorrências de Campos, que poderiam servir de pretexto a qualquer surto de pessimismo, e não tinha qualquer fundamento ocasional que a explicasse.

Sabemos que a convergência de tantas circunstâncias não impressionará os espíritos apaixonados. Mas temos a esperança de que abrirá os olhos dos que ainda não perderam a serenidade, tanto mais que, mercê de Deus, ainda existe gente imparcial e serena no Brasil.

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A carta que o Sr. Mário de Andrade endereçou ao Sr. Paulo Duarte, e que o “Estado” de 19 p.p. publicou, veio dar à campanha pelo nosso patrimônio artístico a nota de seriedade, de justiça e de distinção que lhe roubara o título panfletário “Contra o Vandalismo e o Extermínio”, sob o qual a mesma campanha vinha sendo feita.

Como diz com muito acerto o Sr. Mário de Andrade, o Episcopado Brasileiro só tem razões para prestigiar com sua alta e incontrastável autoridade qualquer movimento de preservação de nossas tradições. O telegrama de S. Ema o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, citado pelo Sr. Mário de Andrade, é disto uma prova irrefutável.

Folgamos em ver que muda de rumo a campanha, louvável em seus objetivos, que o Sr. Paulo Duarte, iniciou. E esperamos que o “Estado de São Paulo” suprima de vez o título “Contra o Vandalismo e o Extermínio”, que destoa “das tradições de sobriedade, elegância e serenidade” daquela folha.

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A posição absolutamente clara que tomamos com relação aos diversos partidos políticos, que elogiamos no que tem de louvável e condenados no que tem de censurável, permite-nos fazer um comentário sobre as correntes liberais e democráticas.

Deploramos sinceramente que, levados pela natureza das coisas a fazer contra o integralismo certas críticas que, em parte, subscreveríamos, não se contentem tais partidos com isto, e abram complacentemente as colunas de alguns de seus jornais a uma propaganda anti-integralista de cor pronunciadamente vermelha. É este o caso, por exemplo, da complacência manifesta com que os jornais liberais publicam discursos dos Srs. Mangabeira, Chermont e outros, ao mesmo tempo que um deles, denunciando a infiltração alemã no Brasil, insinuava que o General Franco, chefe da revolução espanhola, causava a desgraça de sua pátria.

Quererão porventura suicidar-se os partidos liberais, abrindo o flanco à propaganda vermelha?

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Recentemente, o Sr. Adolf Hitler fez um discurso sobre a arte alemã, em que, em conceitos vigorosos e precisos, condenava a ação deletéria que, sobre as inteligências e os caracteres, exercita a arte dita moderna, pelo aspecto apalermado e deformado das fisionomias de muitos modelos preferidos por certos artistas dessa escola. Como de costume em certas direitas, a crítica aos erros decorrentes do pensamento burguês era perfeita.

Mas, ainda como de costume, veio o reverso da medalha: para completar seus conceitos, foram baixados diversas determinações do Sr. Hitler concernentes à arte religiosa, severamente combatida por ele.

Foi com coisas assim que o hitlerismo subiu ao poder: com uma vigorosa crítica de erros existentes iludiu os católicos. E estes fecharam, por isto, os olhos à solução errônea com que o hitlerismo procurava corrigir tais erros...

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Chamamos a atenção de nossos leitores sobre a nova lei de segurança pública na Áustria, que é um dos países de mais segura orientação católica do mundo.

Segundo essa lei, os liberais e os extremistas da esquerda e da direita, que conspirarem contra o Estado católico, serão passíveis das mais severas penalidades que possa permitir a caridade cristã.

Sirva isto de exemplo para muita gente que pensa que o católico deve ter uma sensibilidade de água de flor de laranjeira.