O “Estado” publicou na semana passada a seguinte
notícia do Rio: “O Presidente da República assinou o decreto, na pasta da
Justiça, declarando que Bernardo Gemin, da ordem Franciscana Capuchinha, perdeu os direitos políticos de cidadão
brasileiro, por motivos de convicção religiosa”.
Notícias como esta nos vem constantemente do Rio.
Referem-se elas a Seminaristas que, não desejando prestar serviço militar,
perdem a cidadania brasileira.
Pode-se afirmar que uma apreciável porcentagem da
atual geração dos seminaristas está privada dos direitos de cidadania por essa
razão. E nossas leis não lhes facultam nenhum modo de readquirir essa cidadania
perdida.
Tais seminaristas se vêem forçados a renunciar seus
direitos de cidadão simplesmente porque não foi regulamentada a disposição
constitucional que autoriza os clérigos a prestarem serviço militar sob a forma
de assistência religiosa às classes armadas. É uma clamorosa injustiça forçar a
essa “capitis diminutio”
legal os jovens que se vão consagrar ao serviço de Deus.
Por que não cuidam nossos representantes de
regulamentar essa lei? Porque os católicos dormiram em 1934. Por isto, e só por
isto.
* * *
Um jornal do Rio de Janeiro noticiou que, na
manifestação popular em que foi solicitada a soltura do ex-prefeito Pedro
Ernesto Batista, os
manifestantes se apresentaram às autoridades erguendo a mão com o punho
cerrado, sinal adotado pela Aliança Libertadora que preparou o movimento
revolucionário de 1935.
Essa notícia é da maior gravidade. A ser
verdadeira, deveria ter sido matéria de sensação de toda a imprensa do País. A
ser falsa, deveria ter sido objeto de imediato desmentido.
Entretanto, não sabemos que ela tenha provocado nem
uma nem outra coisa.
Em lugar de se ocuparem com essa gravíssima ameaça
à ordem pública, os nossos jornais procuram noticiar escandalosa e enternecidamente uma ridícula pseudo-tentativa
de assassinato levado a efeito contra o ex-capitão Luiz
Carlos Prestes.
E essa imprensa se diz neutra.
* * *
A igreja anglicana, que de todas as confissões
protestantes é a menos decadente e a menos desorganizada, acaba de fazer mais
uma capitulação perante a onda de paganismo que invadiu o Ocidente. Foi
aprovada pela Câmara dos Lordes, que tem poderes
civis e religiosos reconhecidos pela própria igreja anglicana, uma lei que
amplia o número de casos em que se permite o divórcio seguido de novo casamento.
Entre os casos ora aceitos como motivo de divórcio,
figura a alienação mental por mais de cinco anos.
Quer isto dizer que só de um cônjuge sofrer de uma
moléstia mental, sua desventura será acrescida pelo abandono de outro cônjuge.
E, se por acaso a alienação mental passar depois de cinco anos, ficará na dura
contingência de ver seu lar destruído e perdida a afeição com que mais tinha
direito de contar na vida, a de seu consorte.
* * *
Telegrama proveniente do Chile informa que o
governo de Santiago se recusou a reconhecer a URSS.
Não nos admirará muito que apareça de um momento
para outro no Congresso Brasileiro um projeto de lei mandando reconhecer o
governo da URSS. Tanto mais que um parlamentar baiano, que goza de grande
prestigio pessoal no Congresso, já se manifestou favorável à medida, em meio ao
silêncio e à indiferença dos demais.
Aliás, já esta aberto, para tanto, um perigoso
precedente: se o Brasil reconhece o “governo” de Valência, por que não
reconhecerá o da URSS?
Que o exemplo do Chile inspire, nessa
emergência, uma linha de conduta prudente aos nossos legisladores.
* * *
Merecem nosso aplauso as palavras proferidas pelo
Sr. General Pargas Rodrigues, por ocasião de sua posse no comando da II Região
Militar, quando S. Ex.a se referiu ao perigo a que estão expostas nossas
classes armadas de serem arrastadas ao terreno da política. São palavras de um
militar brioso e digno.
* * *
Na coluna sindical da “Offensiva”,
lemos há dias atrás o seguinte tópico:
“O Integralismo adota tudo o que há
no sindicalismo de útil às classes proletárias. Adota o espírito de luta contra
o capitalismo reacionário, a colaboração com o Estado (o anarquista é contra o
Estado e dele apenas se aproveita), o trabalho para levantamento da cultura das
massas, o nivelamento moral das pequenas classes às classes burguesas; apenas
não é anti-nacional e anti-militar
(quer dizer, não é anti-estatal) e não se envolve com
problema religioso – ‘cada qual tenha lá as religiões suas, de seus pais ou até
mesmo nenhuma’: ninguém faça, dentro do sindicato, proselitismo religioso ou
irreligioso”.
Não concordamos com esses conceitos sobre a
Religião. Exatamente agora, quando a Igreja procura intensificar sua ação nas
camadas operárias, dizer-se ao operariado sadio que silencie sobre religião
dentro do sindicato, parece-nos absolutamente errado.
* * *
O Sr. Roberto Noble, secretário de Estado da Província de Buenos Aires,
passou recentemente por Santos e nessa
cidade concedeu uma entrevista aos jornais, em que declarou formalmente
estar proibida em toda a Argentina qualquer propaganda
comunista, “seja com que denominação for”.
Confessamos que ficamos com água na boca. Teoricamente
também no Brasil a campanha comunista está proibida.
Teoricamente... Mas do que valem neste terreno
teorias sem aplicação prática? Não são apenas inócuas. São nocivas, porque
incutem um falso sentimento de tranqüilidade aos elementos que deveriam velar
pela preservação da Pátria contra o vírus comunista.
Querem os leitores uma prova? Proibida teoricamente
a propaganda comunista, os pais de família, fiados nisto, deixam penetrar nos
lares, sem sequer os examinar, os famosos suplementos juvenis que intoxicam as
crianças brasileiras. Abra-se porém um suplemento. O que se encontra lá? Muito
freqüentemente, propaganda comunista!
Afirmando que reprime o comunismo, não auxilia o
“Estado” aos comunistas na sua execrável obra de depravação?
* * *
O cronista parlamentar do “Estado de São Paulo”, em
artigos sem assinatura, que corre portanto sob a responsabilidade da direção
daquela folha, comentou desfavoravelmente o discurso pronunciado pelo Rev.mo
Deputado Luís de Abreu na Assembléia
Legislativa do Estado.
Sem atacar de frente a assistência religiosa aos
menores desamparados, o que não seria político, o cronista parlamentar esboça
uma defesa confusa do laicismo ou da ação dos leigos
- não sabemos bem - nas obras de assistência social. E, depois, tem
considerações também confusas sobre o perigo das lutas religiosas.
Quanto à ação dos leigos nas obras de assistência
social, a Igreja não a combate. Pelo contrário, dá-lhe o maior estímulo
possível. Nunca foi seu intuito monopolizar na mão de Sacerdotes e de ordens
religiosas a beneficência. Simplesmente o que a Igreja deseja é que a
assistência social desenvolvida pelos leigos seja conforme os princípios
católicos e abra o campo ao apostolado.
Quanto ao laicismo, isto
é quanto à ausência de influência religiosa nas obras de assistência social, é
coisa nitidamente anti-católica. Em recente discurso
o Sr. Governador do Estado manifestou-se contra tal laicismo.
Estará o “Estado” contra o governador?
Finalmente quanto ao receio de lutas religiosas,
parece-nos ridículo, não vemos por [que] razão o moderadíssimo discurso do Sr.
Pe. Luís de Abreu poderia acarretar lutas religiosas.
Mas essas críticas são boas: mostram aos católicos
qual é a neutralidade religiosa da imprensa chamada neutra.