Legionário, N.º 253, 18 de julho de 1937

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Merece especial destaque a proclamação que o Sr. Ministro da Guerra baixou contra o comunismo. Muito confortadora por atestar o empenho daquela autoridade em reprimir o comunismo entre os seus subordinados, ela se reveste de especial interesse no momento atual, à vista da confusão quase inextricável que se estabeleceu sobre a situação dos presos de 1935. Atitude corajosa, franca, leal, autoriza grandes esperanças. Queira Deus  que o futuro as confirme.

Entre outros trechos importantes, assinala-se esta vigorosa condenação de fraquezas sobre as quais o “Legionário” já se tem pronunciado com bastante vigor: “aqueles que um dia traíram a confiança de seus chefes e companheiros voltarão amanhã a feri-lo  pelas costas, com maior perfídia e mais requintada indignidade. Abertas as portas das prisões, em conseqüência de processos judiciários defeituosos e falhos, ou por um sentimentalismo ingênuo e incauto, vão eles arrogantemente passeando a impunidade que lhes foi concedida, afrontando com gestos extensivos a mesma sociedade que eles tentaram há bem pouco enxovalhar com a prática de suas ambições condenáveis”.

Esse o ponto de vista do Sr. Ministro da Guerra. Além de enérgico, tem outro grande predicado: é insuspeito.

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Não podemos deixar de acentuar, na proclamação de S. Ex.a mais esses trechos de ouro: “impõe-se contra o comunismo a vigilância constante contra os elementos suspeitos: a caracterização precisa de suas atividades; a repressão imediata e impiedosa de qualquer ação de propaganda ou conquista; a denúncia desassombrada às autoridades e o afastamento dos que assim se tenham manifestado. E, quanto aos que tentarem perturbar a disciplina ou demolir o prestígio da autoridade, cumpre fazer sentir que a força só se opõe a força, imediata e inexorável. É preciso fazer sentir que se  o comunista civil é condenado pelas leis que nos regem; o comunismo, sob qualquer aspecto ou modalidade, é incompatível com a condição do militar, e aquele que o pratica ou dele se mostra adepto, oficial ou soldado, enxovalha a farda que veste, é indigno de ostentar o uniforme e conduzir as armas que a nação lhe confiou para defesa das instituições que aquela ideologia se propõe a demolir”.

Belas palavras, próprias a um digno militar. Resta, agora, aguardar os fatos...

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Nossa política continua com sua indefectível linha confusionista.

Em Belo Horizonte, foi inaugurado solenemente a corrente política que apoiará o Sr. Arnaldo de Salles Oliveira com Missa na Igreja de S. José.

 Por outro lado, o Sr. Café Filho, o invariável defensor de todos os extremistas na Câmara dos deputados, acaba de dar sua solidariedade ao ex-governador de São Paulo.

De sorte que uma mesma candidatura se apoia, simultaneamente, com elementos católicos e esquerdistas.

Também confere.

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É preciso notar que, a despeito de toda a veemência com que o “Legionário” reclama a punição para os conspiradores de l935, nunca deu seu apoio à real desumanidade com que, ao que se diz, tem sido tratados certos comunistas presos. O interesse superior da ordem pública justifica todas as medidas acautelatorias que se tornem necessária contra os culpados. Nada, porém, poderia justificar crueldades inúteis.

Isto posto, não podemos deixar de sorrir, vendo os fundamentos alegados  por Luiz Carlos Prestes para pedir um tratamento mais brando baseando-se “nos mais comezinhos princípios de civilização”, para ficar “ao abrigo das brutalidades, insultos físicos e morais, torturas etc.” que lhe são infringidos pelos policiais do Sr. Filinto Müller.

Somos contrários às desumanidades que porventura sofra o chefe comunista.

Mas com que direito pede ele a aplicação de princípios caritativos que invoca? Em nome das atrocidades que seus correligionários praticaram no Brasil, e agora praticam na Rússia e na Espanha?

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Mas é particularmente curioso que Luiz Carlos Prestes pede para si o direito de “receber visitas de amigos e familiares, e dispor dos recursos em dinheiro, que possuía e que foram apreendidos pela polícia quando de sua prisão”.

É ridículo. Quem é que tem direito a querer receber seus “familiares”? O violento destruidor da Família? E para que reivindicar o uso de seu direito sobre o dinheiro que trazia consigo? Então existe a propriedade?

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Um jornal nazista alemão publicou, há poucos dias, um artigo em que acusa o Cardeal Mundelein de ser bolchevista. E isto pelo simples fato de fazer críticas ao regime nazista.

Confere. Também houve quem insinuasse ser o “Legionário” um jornal sem convicções religiosas sinceras, e houve até quem lhe achasse ares de órgão subvencionado por Moscou.

De sorte que o “Legionário” está em boa companhia.