O que se passa atualmente no Brasil em matéria de
repressão ao comunismo, é a mais perfeita vergonha que se poderia imaginar.
Até há poucas semanas atrás não havia estado de
guerra, nem estado de sítio, nem tribunal de exceção, nem tranca ou cadeado de
cadeia, que bastasse a nossas autoridades, para prender os comunistas.
De um momento para outro, tudo se transforma. Os
presos que estavam retidos são postos em liberdade. Os “habeas corpus” chovem de todos os lados. E todo
o aparelhamento de defesa das instituições, sem o
qual, segundo se afirmava até há pouco, o país soçobraria se esvai agora como
um fantasma de fumaça.
Por que tanta mudança? Mudou a mentalidade dos
presos? Não; apenas postos em liberdade eles reiniciam suas manifestações
comunistas. Mudou o Presidente da República? Não mudou. Mudou o Chefe de
Polícia? Não. Mudou o Tribunal de Segurança? Não. Então, o que mudou? O
ministro da Justiça? Sim, mas no fundo, isto não fez grande diferença.
O que então se mudou? Simplesmente o interesse
político do Presidente atual.
Enquanto isto, o Poder Legislativo está morto. O
que fazem os deputados católicos? O que fazem os parlamentares integralistas? O que fazem os representantes patronais da
Indústria, da Lavoura etc.? Estão mortos.
Por que?
* * *
Está sendo instaurado o sumário de culpa do
Governador Lima Cavalcanti. Todo o mundo sabe que isto não vai dar em nada. Mas uma
das testemunhas, político de grande projeção, fez um depoimento que merece
atenção. Declarou ela que o Sr. Lima Cavalcanti tinha, antes da revolução de
35, dois secretários de Estado que eram comunistas. Mas que não havia
inconveniente nisto, porque ambos consideravam seus deveres sob o prisma exclusivo
da administração, não fazendo propaganda de suas idéias.
O que dizer de tamanha ingenuidade?
* * *
O Sr. Ministro da Justiça parece não ter o menor
desejo, “et pour
cause”, de comparecer à Câmara para atender a intimação do Sr. Adalberto
Corrêa que, seja dito
entre parênteses, é a única voz que se ergueu para profligar energicamente a
moleza criminosa de nossas autoridades.
Para dar certa satisfação à opinião pública, o
gabinete de S. Ex.a baixou simplesmente um comunicado em que afirmou, entre
outras coisas, que os presos só foram postos em liberdade depois de um processo
cauteloso. E que o Chefe de Polícia e o Tribunal de Segurança tinham dado sua
aquiescência à soltura de tais presos.
Pelo telegrama que publicamos em nossa primeira
página, podemos ver facilmente que espécie de gente o governo soltou. Será
verdade que o Chefe de Polícia e o Tribunal de Segurança foram solidários com
essa medida desastrosa? Em caso negativo, por que não se defendem?
* * *
Já que os inimigos da Igreja colocam em tal
atualidade o problema do comunismo, não podemos deixar de insistir longamente
sobre o assunto.
Por isto, vamos relatar outro fato curioso. A
ofensiva comunista está sendo tão forte, que já houve, há dias, um deputado que
propôs restabelecimento de nossas relações comerciais com a Rússia, a pretexto de vender-lhe café.
É absurdo. Um dos maiores produtores de chá do
mundo inteiro, a comprar café no Brasil! Mas não para aí o disparate. Relações
com a Rússia? Para que? Para que o Embaixador soviético no Rio faça como os que
estão acreditados em Paris, Londres e outrora na inditosa Madri, que
transformaram a sua embaixada num foco de propaganda comunista?
Enquanto a III Internacional está praticando as
maiores ingerências nos assuntos de nossa política, será admissível que o
Brasil venha a reatar com a Rússia? Onde foi parar o brio nacional?
E o que mais dói é ver que essa medida foi proposta
por um cientista da têmpera do Sr. Arthur Neiva. Quando S. Ex.a fez essa proposta, havia diversos
deputados católicos no recinto. Mas todos se calaram... como de costume.
* * *
Um telegrama publicado pelo “Diário de São Paulo”
informa que o Bispo de Berlim foi acusado pelo
governo alemão de violar a concordata entre a Santa Sé e o Reich, veiculando,
fora do território germânico, notícias falsas a respeito da situação de seu
país.
Não nos damos o trabalho de comentar a acusação. É
evidente que se trata de alguma notícia que o Bispo de Berlim fez chegar a
algum amigo residente fora da Alemanha, contando-lhe o que sofrem seus
correligionários perseguidos pelo Sr. Hitler.
O Sr. Hitler acha que contar o
que ele fez é falar mal dele. A tal ponto está ele certo de que age mal.
Mas o mais curioso é que o Bispo foi acusado de
violar a Concordata. Que acusação! E que acusador! A acusação é pueril porque a
concordata já está por terra em virtude das inúmeras violações que praticou o
Governo alemão. Mas o mais curioso é o acusador! O Sr. Hitler, que tem violado
com frieza única as cláusulas mais importantes da Concordata, ainda se acha no
direito de acusar outros de o terem feito!
* * *
Na Polônia, há uma questão religiosa surgida entre o Arcebispo Sapieha, e o Governo. Não sabemos bem ao certo do que se trata,
porque os telegramas são muito confusos. Mas para se ter idéia da má fé com que
se está procurando envenenar a questão, basta um fato: um dos telegramas
veiculados no Brasil a esse respeito diz que o Arcebispo retirou o corpo do
Marechal Pilsudsky da Catedral, para
evitar que fosse visitá-lo naquele local o Rei da Rumânia,
que é cismático.
Isto é uma tolice malévola. Um soberano cismático
ou herético pode perfeitamente ingressar em um templo católico, desde que
compareça com caráter individual, ou de Chefe de Estado.
A maior prova disto está em que os Reis da
Inglaterra, que são protestantes, assistiram há coisa de um mês, uma Missa
solene na Catedral católica de Londres, onde foram recebidos por todo o alto
clero católico.
* * *
Voltando ao caso do comunismo, suspeitamos bem que
já se esteja recompondo a antiga Aliança Libertadora.
O Sr. Café Filho já andou querendo
organizar uma liga antifascista. O “Legionário” é bem insuspeito de tendências
fascistas. Mas não pode ignorar que, em geral, essas ligas “antifascistas” ou
coisa que o dera são paraventos de tule transparente
atrás do qual procura esconder-se a hidra comunista.
O Governo vê isto e não providencia. Os nossos
parlamentares vem isto e não protestam. A nossa imprensa vê isto e não condena.
Quer dizer que acham que está muito bem.
E os católicos acham que devem continuar a apoiar
essa gente e essa imprensa?
* * *
Oportuníssima a Missa celebrada pelo
Rev.mo Monsenhor Mac Dowell, no Rio de Janeiro, segundo as intenções de nossas
classes militares, para pedir para elas a concórdia e a prosperidade em suas
fileiras.
Os católicos, no Brasil, não tem o interesse
afetuoso que deveriam ter pelas classes militares.
Daí decorre, em grande parte, a insegurança
contemporânea.
Na medida de suas forças, porém, o “Legionário”
procurará alterar esse alheamento. Porque uma sábia e sadia política militar é
uma de suas mais fortes preocupações.
* * *
Temos chamado muito a atenção de nossos leitores
sobre a política de cortesia estratégica, desenvolvida pelos partidos
brasileiros em relação à Igreja. Muitas atenções, muitas felicitações, muitas
palavras sonoras, muitos propósitos “cristianizadores”
verbais e meramente verbais. Mas, no terreno dos fatos, a mais completa
indiferença quando se soltam os inimigos mais ferozes do Catolicismo, que são
os comunistas.
Típico disto é o que se passou na Câmara Federal
por ocasião da passagem do 10º aniversário da Diocese de Bragança.
O Sr. Vergal protestou contra as
felicitações que a Câmara ia mandar a S. Ex.a Rev.ma o Sr. D. José Maurício da
Rocha. Alguém esclareceu que se tratava só de uma cortesia. E
um deputado peceista, muito solícito, interveio no
debate para esclarecer que votava a favor das felicitações por constituírem uma
cortesia, e só isto.
O que significa, em outros termos: qualquer coisa
de mais proveitoso para a Igreja do que um simples sorriso, não. Mas com esse
sorriso é muito mais proveitoso para nós, deputados sorridentes - em dias de
eleição -, do que para a Igreja, sorriamos à vontade.
Comédia!...