Legionário, N.º 251, 4 de julho de 1937

7 DIAS EM REVISTA

O que se passa atualmente no Brasil em matéria de repressão ao comunismo, é a mais perfeita vergonha que se poderia imaginar.

Até há poucas semanas atrás não havia estado de guerra, nem estado de sítio, nem tribunal de exceção, nem tranca ou cadeado de cadeia, que bastasse a nossas autoridades, para prender os comunistas.

De um momento para outro, tudo se transforma. Os presos que estavam retidos são postos em liberdade. Os “habeas corpus” chovem de todos os lados. E todo o aparelhamento de defesa das instituições, sem o qual, segundo se afirmava até há pouco, o país soçobraria se esvai agora como um fantasma de fumaça.

Por que tanta mudança? Mudou a mentalidade dos presos? Não; apenas postos em liberdade eles reiniciam suas manifestações comunistas. Mudou o Presidente da República? Não mudou. Mudou o Chefe de Polícia? Não. Mudou o Tribunal de Segurança? Não. Então, o que mudou? O ministro da Justiça? Sim, mas no fundo, isto não fez grande diferença.

O que então se mudou? Simplesmente o interesse político do Presidente atual.

Enquanto isto, o Poder Legislativo está morto. O que fazem os deputados católicos? O que fazem os parlamentares integralistas? O que fazem os representantes patronais da Indústria, da Lavoura etc.? Estão mortos.

Por que?

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Está sendo instaurado o sumário de culpa do Governador Lima Cavalcanti. Todo o mundo sabe que isto não vai dar em nada. Mas uma das testemunhas, político de grande projeção, fez um depoimento que merece atenção. Declarou ela que o Sr. Lima Cavalcanti tinha, antes da revolução de 35, dois secretários de Estado que eram comunistas. Mas que não havia inconveniente nisto, porque ambos consideravam seus deveres sob o prisma exclusivo da administração, não fazendo propaganda de suas idéias.

O que dizer de tamanha ingenuidade?

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O Sr. Ministro da Justiça parece não ter o menor desejo, “et pour cause”, de comparecer à Câmara para atender a intimação do Sr. Adalberto Corrêa que, seja dito entre parênteses, é a única voz que se ergueu para profligar energicamente a moleza criminosa de nossas autoridades.

Para dar certa satisfação à opinião pública, o gabinete de S. Ex.a baixou simplesmente um comunicado em que afirmou, entre outras coisas, que os presos só foram postos em liberdade depois de um processo cauteloso. E que o Chefe de Polícia e o Tribunal de Segurança tinham dado sua aquiescência à soltura de tais presos.

Pelo telegrama que publicamos em nossa primeira página, podemos ver facilmente que espécie de gente o governo soltou. Será verdade que o Chefe de Polícia e o Tribunal de Segurança foram solidários com essa medida desastrosa? Em caso negativo, por que não se defendem?

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Já que os inimigos da Igreja colocam em tal atualidade o problema do comunismo, não podemos deixar de insistir longamente sobre o assunto.

Por isto, vamos relatar outro fato curioso. A ofensiva comunista está sendo tão forte, que já houve, há dias, um deputado que propôs restabelecimento de nossas relações comerciais com a Rússia, a pretexto de vender-lhe café.

É absurdo. Um dos maiores produtores de chá do mundo inteiro, a comprar café no Brasil! Mas não para aí o disparate. Relações com a Rússia? Para que? Para que o Embaixador soviético no Rio faça como os que estão acreditados em Paris, Londres e outrora na inditosa Madri, que transformaram a sua embaixada num foco de propaganda comunista?

Enquanto a III Internacional está praticando as maiores ingerências nos assuntos de nossa política, será admissível que o Brasil venha a reatar com a Rússia? Onde foi parar o brio nacional?

E o que mais dói é ver que essa medida foi proposta por um cientista da têmpera do Sr. Arthur Neiva. Quando S. Ex.a fez essa proposta, havia diversos deputados católicos no recinto. Mas todos se calaram... como de costume.

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Um telegrama publicado pelo “Diário de São Paulo” informa que o Bispo de Berlim foi acusado pelo governo alemão de violar a concordata entre a Santa Sé e o Reich, veiculando, fora do território germânico, notícias falsas a respeito da situação de seu país.

Não nos damos o trabalho de comentar a acusação. É evidente que se trata de alguma notícia que o Bispo de Berlim fez chegar a algum amigo residente fora da Alemanha, contando-lhe o que sofrem seus correligionários perseguidos pelo Sr. Hitler.

O Sr. Hitler acha que contar o que ele fez é falar mal dele. A tal ponto está ele certo de que age mal.

Mas o mais curioso é que o Bispo foi acusado de violar a Concordata. Que acusação! E que acusador! A acusação é pueril porque a concordata já está por terra em virtude das inúmeras violações que praticou o Governo alemão. Mas o mais curioso é o acusador! O Sr. Hitler, que tem violado com frieza única as cláusulas mais importantes da Concordata, ainda se acha no direito de acusar outros de o terem feito!

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Na Polônia, há uma questão religiosa surgida entre o Arcebispo Sapieha, e o Governo. Não sabemos bem ao certo do que se trata, porque os telegramas são muito confusos. Mas para se ter idéia da má fé com que se está procurando envenenar a questão, basta um fato: um dos telegramas veiculados no Brasil a esse respeito diz que o Arcebispo retirou o corpo do Marechal Pilsudsky da Catedral, para evitar que fosse visitá-lo naquele local o Rei da Rumânia, que é cismático.

Isto é uma tolice malévola. Um soberano cismático ou herético pode perfeitamente ingressar em um templo católico, desde que compareça com caráter individual, ou de Chefe de Estado.

A maior prova disto está em que os Reis da Inglaterra, que são protestantes, assistiram há coisa de um mês, uma Missa solene na Catedral católica de Londres, onde foram recebidos por todo o alto clero católico.

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Voltando ao caso do comunismo, suspeitamos bem que já se esteja recompondo a antiga Aliança Libertadora.

O Sr. Café Filho já andou querendo organizar uma liga antifascista. O “Legionário” é bem insuspeito de tendências fascistas. Mas não pode ignorar que, em geral, essas ligas “antifascistas” ou coisa que o dera são paraventos de tule transparente atrás do qual procura esconder-se a hidra comunista.

O Governo vê isto e não providencia. Os nossos parlamentares vem isto e não protestam. A nossa imprensa vê isto e não condena.

Quer dizer que acham que está muito bem.

E os católicos acham que devem continuar a apoiar essa gente e essa imprensa?

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Oportuníssima a Missa celebrada pelo Rev.mo Monsenhor Mac Dowell, no Rio de Janeiro, segundo as intenções de nossas classes militares, para pedir para elas a concórdia e a prosperidade em suas fileiras.

Os católicos, no Brasil, não tem o interesse afetuoso que deveriam ter pelas classes militares.

Daí decorre, em grande parte, a insegurança contemporânea.

Na medida de suas forças, porém, o “Legionário” procurará alterar esse alheamento. Porque uma sábia e sadia política militar é uma de suas mais fortes preocupações.

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Temos chamado muito a atenção de nossos leitores sobre a política de cortesia estratégica, desenvolvida pelos partidos brasileiros em relação à Igreja. Muitas atenções, muitas felicitações, muitas palavras sonoras, muitos propósitos “cristianizadores” verbais e meramente verbais. Mas, no terreno dos fatos, a mais completa indiferença quando se soltam os inimigos mais ferozes do Catolicismo, que são os comunistas.

Típico disto é o que se passou na Câmara Federal por ocasião da passagem do 10º aniversário da Diocese de Bragança.

O Sr. Vergal protestou contra as felicitações que a Câmara ia mandar a S. Ex.a Rev.ma o Sr. D. José Maurício da Rocha. Alguém esclareceu que se tratava só de uma cortesia. E um deputado peceista, muito solícito, interveio no debate para esclarecer que votava a favor das felicitações por constituírem uma cortesia, e só isto.

O que significa, em outros termos: qualquer coisa de mais proveitoso para a Igreja do que um simples sorriso, não. Mas com esse sorriso é muito mais proveitoso para nós, deputados sorridentes - em dias de eleição -, do que para a Igreja, sorriamos à vontade.

Comédia!...