Transcrevemos na íntegra a pequena notícia abaixo,
publicada pelo “Estado de São Paulo”:
“Pelo paquete ‘Duque de Caxias’ regressaram hoje ao Norte numerosos ex-presos políticos recentemente libertados.
Ao cais do porto foram conduzidos em carros de Polícia e ao
desembarcarem ali alguns deles prorromperam em vivas a Luís Carlos Prestes e ao
Terceiro Regimento de Infantaria e entoaram a Internacional”.
São essas as ovelhas que o Sr. Ministro da Justiça soltou. Não são
comunistas. Mas apenas se pilham em liberdade, começam a dar vivas a Luiz
Carlos Prestes e à III Internacional.
Quando esses chacais atirarem a um canto a pele de ovelha com que o
Sr. Ministro da Justiça amorosamente os envolveu, para ocultá-los à vindita
pública e arrancá-los à prisão, eles irão procurar carne humana com que saciar
sua fome bolchevista, boa carne branca e macia, de algum burguês rico e bem
tratado. E pode bem ser que escolham o próprio Sr. Macedo Soares...
Ao menos, foi o que sucedeu com Filipe Égalité.
Protegeu os republicanos, defendeu-os, acobertou-os com seu prestígio de
Príncipe. E depois...
Longe de nós desejarmos que aconteça tal coisa. Mas é no que faz
pensar a política desenvolvida pelo Sr. Macedo Soares na pasta da Justiça.
* * *
Está causando imensa celeuma o fato de alguns integralistas
terem seqüestrado um acadêmico de Direito, dando-lhe algo a beber, e cobrindo-o
de pancadas.
Os nossos partidos liberais – P.R.P. e P.C.
- ficaram em grande alvoroço. Como é que se prende um homem, se lhe dá um
violento remédio, e se lhe ministram inúmeros golpes? É preciso protestar! A
dignidade da República exige que o atentado seja punido! É preciso que sejam
objeto da mais categórica censura os autores do fato, e que se lhe apliquem as
penas da lei! Senão, está morto o regime!
Mas os comunistas de 1935 não se limitaram a espancar um homem:
mataram numerosos deles e se preparavam a fazer correr rios de sangue
brasileiro.
Onde o protesto de nossos liberais na Câmara Estadual contra a soltura
de tais criminosos? Porventura, não exigirá a dignidade do regime que os
comunistas sejam presos e justiçados vigorosamente?
Nossos liberais preferem afogar-se em um copo de água. Enquanto isso,
o oceano comunista se apresta a devorá-los.
* * *
Não queremos, porém, deixar passar a oportunidade sem nos
manifestarmos também contra a violência que o Sr. Paulo Zing
sofreu ou alega ter sofrido.
Temos o direito de fazê-lo, porque se erguemos nossa voz contra este
fato, já estamos cansados de vociferar contra o comunismo. Não estamos pois,
com os liberais, cuja companhia reputamos péssima, e cuja vizinhança só nos
agradaria eventualmente, para evitar mal maior.
A violência sofrida pelo Sr. Paulo
Zing é indefensável. E isto principalmente porque a
razão da violência foi o ter ele cometido o “crime” – de que gostosamente o
absolvemos – de sair das fileiras integralistas.
Julgarão os integralistas responsáveis pelo
espancamento do Sr. Zing, que é delito afastar-se um
homem de certa corrente partidária com cujo programa já não está de acordo.
Então, por que não foram ao Rio dispensar ao Sr. Jeovah
Motta o mesmo tratamento que dispensaram ao Sr. Zing? Por que trataram os órgãos integralistas
o Sr. Jeovah Motta com
luvas de pelica, e um grupo de partidários do “sigma” encheu o Sr. Zing de pancadas?
Mas cumpre acrescentar que o caso não está ainda
devidamente esclarecido. E que só depois disto se deve lançar contra ele uma
condenação formal... se for merecida.
* * *
A “Ofensiva” publicou um artigo assinado, em que notamos a descrição
de um cortejo integralista, feita nos seguintes
termos: “Lá vão marchando, irmanados no mesmo sentimento, homens de todas as
posições, de todas as camadas sociais, de todos os credos religiosos. Belisário Penna, uma glória
nacional. General Furtado, o general Vieira da Rosa, Lucio
dos Santos, a grande cultura católica do País, cuja sinceridade todos admiram,
ao lado de espíritas e protestantes do Supremo Conselho e da Câmara dos
Quarenta, numa afirmação conjunta do espiritualismo integral”.
Estamos de acordo com o conceito elogioso que a
“Ofensiva” faz do Sr. Lucio dos Santos.
Mas quereríamos saber o seguinte: o “espiritualismo
integral” é um todo de que fazem parte as religiões falsas, metidas de
cambulhada com a Religião Verdadeira? É assim que se deve entender o
“espiritualismo” de que tanto falam certos documentos integralistas?
E mais outra coisa: será, porventura, esse amálgama em que se
encontram, ao lado de um católico de magnífica têmpera de Lucio
dos Santos, espíritas, protestantes e outros “espiritualistas” de outros credos
talvez, será este amálgama, perguntamos, a droga que se pretende fazer ingerir
ao Brasil, para “recristianizá-lo”?
Em filosofia afirma-se que o efeito não pode ter natureza diversa da
causa.
Como, de águas tão impuras, pretende muita gente que poderá sair um
Brasil inteiramente católico? Como, do ecletismo o mais chocante, resultará a
unidade?
* * *
O Sr. Campos Vergal fez,
na Câmara dos Deputados, diversos discursos que merecem censura.
“Merecem censura”, dissemos. Não merecem, porém,
nosso comentário.
Deixamo-los, portanto, sem uma palavra de análise.