O Sr. José Carlos de Macedo Soares acaba de assumir,
para com o Brasil e a Igreja, uma tremenda responsabilidade.
S. Ex.a soltou, de uma só vez, 308 prisioneiros
comunistas detidos no Rio. Desde 1935 para cá, o governo julgou imprescindível
o encarceramento de toda essa gente. E pediu o estado de guerra exatamente para
poder conservar sob custódia os inúmeros brasileiros acusados de conivência com
os emissários de Moscou. Pareceu a nossas autoridades que a soltura de todos
esses indivíduos suspeitos seria nociva à ordem pública.
E vem o Sr. Macedo Soares e coloca-os, todos, na
rua.
S. Ex.a tornou-se responsável pelo mau uso que
fizerem da liberdade que restituiu a 308 pessoas acusadas de atentar contra a
Igreja e a Pátria. Francamente, não quereríamos ter, perante Deus, o peso
tremendo dessa responsabilidade que, muito provavelmente, reverterá em
condenação de seu gesto.
* * *
Dirá alguém: contra os presos que o Sr. Macedo
Soares soltou, nada se apurou de positivo. Seria, pois, uma crueldade mantê-los
sob custódia.
Francamente, não podemos admiti-lo. Se nada se
tivesse apurado contra eles, o Governo do Sr. Getúlio Vargas os deveria ter restituído
a liberdade há muito tempo. Se não restituiu, deve-se admitir pelo menos que graves
indícios se tinham obtido contra eles. E, nesta hipótese, o Sr. Macedo Soares
foi de uma terrível imprudência, restituindo-lhes a liberdade.
Mas se realmente eram inocentes e estavam presos, o
Sr. Getúlio Vargas é um tirano execrável. E o Sr. Macedo Soares não deveria
consentir em lhe servir de ministro.
Não vemos como se possa sair desse dilema.
* * *
Aliás, convém acrescentar que alguns dos presos
deveriam ter evidentemente qualquer “culpa no cartório.”
Basta mencionar a Srta. Justo de Morais, filha de um dos mais eminentes advogados do Rio, que
dispõe de um nome tradicional e de uma grande fortuna. Pode-se crer que o
Governo tenha aprisionado a Srta. Justo de Morais, sem que contra ela se
tivesse apurado algo de muito grave?
O Sr. Justo de Morais é deputado e
pertencia à maioria governamental quando sua filha foi presa. Não obstante
isto, S. Ex.a continuou a dispensar todo o seu apoio ao governo federal, até há
pouco tempo. E retirou seu apoio com razões que nada tem com a prisão de sua
filha.
Não é esta a prova mais esmagadora da culpabilidade
da Srta. Morais?
Não viu isto o Sr. Macedo Soares?
* * *
De mais a mais, ninguém pode negar que os tribunais
estão acelerando seu trabalho e que, dentro de certo tempo, todos os criminosos
estarão julgados. Por que não aguarda, por mais algum tempo, a ação da justiça?
Por que soltar, sem processo, pessoas contra as quais pairavam na opinião
pública graves suspeitas?
E, em última análise, se alguém deveria ser
prejudicado, a ordem pública ou os acusados que o Sr. Macedo Soares soltou, não
seria preferível que o prejuízo recaísse sobre estes últimos?
Não estão a Igreja e a Pátria acima de tudo? Não
deve pensar assim o Sr. Macedo Soares, que se tem afirmado católico e patriota?
O fim de tudo isto se resume no seguinte: mais uma
desilusão.
* * *
Saiu com incorreções o trecho do discurso do Sr. Theotônio Monteiro de Barros
Filho, que publicamos em nosso último número. Vamos pois, reproduzí-lo mais uma vez, transcrito do “Estado de São
Paulo”:
“O Sr. Demétrio Xavier - V. Ex.a acha que o
perigo comunista já passou no Brasil?
“O Sr. Theotonio Monteiro
de Barros - Está reduzido a proporções ínfimas.
Afirmo a vossa Ex.a que, ainda quando esse perigo persistisse, seria menor e
menos mal faria ao País do que a violação de nossos princípios fundamentais de
organização”.
Como se vê, o texto do discurso justifica
amplamente nossos comentários feitos no último número.
* * *
Para muitos católicos que supõem que a Igreja deve
confiar irrestritamente em certas ditaduras, temos
outra desilusão a apresentar.
O Sr. Oliveira Salazar, que muitas pessoas se compraziam em representar como um
cordeiro sem mácula, concedeu, há dias, uma entrevista aos jornais de sua
terra, que o “Diário Popular” transcreveu. Nessa entrevista, o jovem ditador
português se manifestava contrário à união da Igreja e do Estado, não apenas -
o que seria legítimo - por razões ocasionais e acidentais, mas por motivos
doutrinários inadmissíveis.
Não negamos que o Sr. Oliveira Salazar
tenha feito muito bem a Portugal. Mas supor que ele represente 100% de garantia
para os católicos é um erro.
Dirá alguém que em todo o caso é melhor isto do que
o comunismo. Está certo. Mas por que não optar pela orientação do grande Dollfuss?
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A respeito dos desastres que costumam ocorrer nas
disputas automobilísticas como a que recentemente se verificou na Gávea, o
“Estado de São Paulo” teve este trecho:
“É provável que haja desastres, outra vez, como nas
provas anteriores. Que fazer? Não será isto mesmo, esse sacrifício de vida, o
que a massa pede que seja mais alta e mais sangrenta a glória dos vencedores?
Creio que sim; já que estão fora de moda e proibidos os combates entre homens e
feras, as lutas de gladiadores, as inquisições, os enforcamentos e “outros
divertimentos que tais” que deliciaram outrora nossos maiores, deixemo-los
deliciar-se agora com o espetáculo do esmagamento de um outro automobilista
mais afoito, divertimento que é bastante bem mais suave, convenhamos, que os
trucidamentos a machado e os fuzilamentos em massa com que os ditadores do dia
acalmam as massas oprimidas. Deixemos tudo como está e não se lembre algum
gênio legiferante de baixar alguma lei que proíba,
sob pena de multa e de cadeia, a realização de outro pequeno desastre... para
variar”.
O trecho é longo, mas vale a pena transcrevê-lo na
íntegra. Tanto mais quanto dispensa comentários.
* * *
O “Estado de São Paulo” é um jornal que sempre
caracterizou pela seriedade de seu noticiário sobre crimes e outras coisas
imorais deste estilo. Ao menos no cenário doloroso de nossa imprensa nacional,
constituía ele uma exceção relativamente honrosa.
Entretanto, seu último número de retogravura apresentava quadros de tal maneira imorais, que
poderiam ser incluídos em qualquer coleção de postais obscenos, desses que se
vendem às escondidas nos engraxates e nas vendas.
Mas é que os quadros eram artísticos... e há muitos
leitores católicos que, por isto, contribuem com seu dinheiro para adquirir o
jornal.
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Do Sr. Crimilde Leite de
Aguiar, brilhante redator na seção religiosa do “Correio da
Noite” do Rio de Janeiro, recebemos atenciosa missiva em que discorda da
afirmação que publicamos de que a imprensa, em reportagem assinada que fez um
colaborador desta folha, do Rio não noticiou convenientemente.
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Um telegrama da agência de Havas
informa que a sala em que se realizou a cerimônia do enlace do Duque de Windsor com a Sra. Simpson estava toda ornamentada com lírios.
Cruel ironia!