Os leitores devem estar lembrados que o Episcopado
belga e particularmente Sua Eminência o Cardeal-Arcebispo de Malines condenaram a
propaganda rexista. Foi esta uma das causas do
fracasso do Sr. Degrelle nas últimas
eleições.
A este propósito, um órgão fascista da Itália,
inspirado pela evidente solidariedade que liga em todo o mundo o grupo
internacional de partidos fascistas, atirou pesadas injúrias contra o
Episcopado belga, tornando-as extensivas aos Prelados da França e da Holanda.
O “Osservatore Romano” acaba de replicar, em
linguagem firme e vigorosa, a essas injúrias, manifestando a inteira aprovação
dada pelo Santo Padre à conduta dos Bispos atacados.
O que dizem a isto certos católicos que supõem que
ou a Igreja se torna caudatária das direitas, ou será devorada pela esquerda?
Consentem eles em perceber, afinal, que não é esta
a orientação do Santo Padre?
* * *
(...) Declaração do Sr. Stafford
Clips, na Câmara dos Comuns, segundo a qual o Sr. Neville Chamberlain estaria preparando
um tal aumento de impostos sobre a renda que, dentro em breve, a Inglaterra
teria passado do regime de propriedade individual privada para o da propriedade
coletiva. Comentando elogiosamente o fato, o Sr. Stafford
Clips afirma que “é possível que o expediente do Sr. Chamberlain nos torne aptos a terminar o sistema
capitalista muito antes do que esperamos”.
Assim, apesar de toda a sua casca exterior de
aparência monárquica e cristã, a democracia inglesa está conduzindo a
Inglaterra ao comunismo.
Dificilmente poderíamos encontrar um fato mais
eloqüente.
* * *
Nos países liberal-democráticos,
os católicos tem o direito de votar. Compreende-se que na Inglaterra, onde eles
são minorias, este direito não lhes forneça elementos para evitar a flexão das
instituições para a esquerda. No Brasil, entretanto, eles são a imensa maioria. Poder-se-á afirmar
com isto que não somos uma república socialista?
Parece-nos que não. Há algum tempo atrás, o Sr.
Plinio Barreto, um dos mais insuspeitos amigos da democracia no Brasil,
escreveu um artigo em que afirmava que nossa legislação de impostos e taxas é
absolutamente socialista. E tem razão.
Mas há outro campo onde o socialismo, ou antes o
comunismo rubro, avança a passos largos. É o campo da educação.
Quando em visita ao Sr. Armando Salles de Oliveira, o Sr.
Café Filho verificou que o
candidato peceísta à Presidência da República faz dos
assuntos educativos um dos pontos centrais de seu programa. E, cheio de
entusiasmo, comunicou o fato à imprensa.
O que quererá S. Ex.a fazer em matéria de educação?
Poderão os católicos votar nele com a consciência tranqüila, sem ter tirado a
limpo este ponto?
A nós nos parece que nunca!
* * *
O Sr. Nitti, que enche suas horas de ociosidade no exílio redigindo
imensos artigos para meia dúzia de leitores brasileiros, escreveu recentemente
sobre o conflito entre o Vaticano e o III Reich.
É curioso ver-se como este socialista dos quatro
costados procura atrair para a esquerda os elementos católicos, fazendo-os
lembrar-se da “meiguice” com que as
democracias tratavam a Igreja.
Destaquemos um dos tópicos mais curiosos do seu
artigo.
S. Sa afirma
que a Alemanha é o primeiro país
contemporâneo em que se ataca a religião. Nos outros só se teria atacado,
segundo ele, a Igreja. Bela distinção! Orgulhar-se-ia dela qualquer fariseu. De
mais a mais, em que época coloca S. Sa as
perseguições da Espanha, da Rússia e do México? Não são elas de nossos dias?
* * *
Entretanto, há um trecho que, com certeza, S. Sa escreveu inadvertidamente e que deslizou
diretamente do cérebro à pena, sem passar pelo crivo de um exame feito segundo
sua orientação política.
Diz S. Sa: “O
Vaticano pode, em política, fazer qualquer concessão, mas nenhuma no atinente à
essência religiosa do Catolicismo”. E acrescenta que foi movido à luta com a
Alemanha, depois de inúmeras concessões políticas, porque estava sendo atacado
o cerne de sua doutrina.
Que mais belo elogio pode sair da
pena de um autor anti-católico à nobreza dos móveis a
que obedece sempre o Vaticano?
Em uma época em que os interesses políticos são
sempre preferidos às idéias, o que se pode desejar de mais edificante de que a
orientação do Vaticano, inabalável em preferir as idéias aos interesses
políticos ?