Legionário, N.º 242, 2 de maio de 1937

7 DIAS EM REVISTA

Os leitores devem estar lembrados que o Episcopado belga e particularmente Sua Eminência o Cardeal-Arcebispo de Malines condenaram a propaganda rexista. Foi esta uma das causas do fracasso do Sr. Degrelle nas últimas eleições.

A este propósito, um órgão fascista da Itália, inspirado pela evidente solidariedade que liga em todo o mundo o grupo internacional de partidos fascistas, atirou pesadas injúrias contra o Episcopado belga, tornando-as extensivas aos Prelados da França e da Holanda.

O “Osservatore Romano” acaba de replicar, em linguagem firme e vigorosa, a essas injúrias, manifestando a inteira aprovação dada pelo Santo Padre à conduta dos Bispos atacados.

O que dizem a isto certos católicos que supõem que ou a Igreja se torna caudatária das direitas, ou será devorada pela esquerda?

Consentem eles em perceber, afinal, que não é esta a orientação do Santo Padre?

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(...) Declaração do Sr. Stafford Clips, na Câmara dos Comuns, segundo a qual o Sr. Neville Chamberlain estaria preparando um tal aumento de impostos sobre a renda que, dentro em breve, a Inglaterra teria passado do regime de propriedade individual privada para o da propriedade coletiva. Comentando elogiosamente o fato, o Sr. Stafford Clips afirma que “é possível que o expediente do Sr. Chamberlain nos torne aptos a terminar o sistema capitalista muito antes do que esperamos”.

Assim, apesar de toda a sua casca exterior de aparência monárquica e cristã, a democracia inglesa está conduzindo a Inglaterra ao comunismo.

Dificilmente poderíamos encontrar um fato mais eloqüente.

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Nos países liberal-democráticos, os católicos tem o direito de votar. Compreende-se que na Inglaterra, onde eles são minorias, este direito não lhes forneça elementos para evitar a flexão das instituições para a esquerda. No Brasil, entretanto, eles são a imensa maioria. Poder-se-á afirmar com isto que não somos uma república socialista?

Parece-nos que não. Há algum tempo atrás, o Sr. Plinio Barreto, um dos mais insuspeitos amigos da democracia no Brasil, escreveu um artigo em que afirmava que nossa legislação de impostos e taxas é absolutamente socialista. E tem razão.

Mas há outro campo onde o socialismo, ou antes o comunismo rubro, avança a passos largos. É o campo da educação.

Quando em visita ao Sr. Armando Salles de Oliveira, o Sr. Café Filho verificou que o candidato peceísta à Presidência da República faz dos assuntos educativos um dos pontos centrais de seu programa. E, cheio de entusiasmo, comunicou o fato à imprensa.

O que quererá S. Ex.a fazer em matéria de educação? Poderão os católicos votar nele com a consciência tranqüila, sem ter tirado a limpo este ponto?

A nós nos parece que nunca!

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O Sr. Nitti, que enche suas horas de ociosidade no exílio redigindo imensos artigos para meia dúzia de leitores brasileiros, escreveu recentemente sobre o conflito entre o Vaticano e o III Reich.

É curioso ver-se como este socialista dos quatro costados procura atrair para a esquerda os elementos católicos, fazendo-os lembrar-se da “meiguice”  com que as democracias tratavam a Igreja.

Destaquemos um dos tópicos mais curiosos do seu artigo.

S. Sa afirma que a Alemanha é o primeiro país contemporâneo em que se ataca a religião. Nos outros só se teria atacado, segundo ele, a Igreja. Bela distinção! Orgulhar-se-ia dela qualquer fariseu. De mais a mais, em que época coloca S. Sa as perseguições da Espanha, da Rússia e do México? Não são elas de nossos dias?

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Entretanto, há um trecho que, com certeza, S. Sa escreveu inadvertidamente e que deslizou diretamente do cérebro à pena, sem passar pelo crivo de um exame feito segundo sua orientação política.

Diz S. Sa: “O Vaticano pode, em política, fazer qualquer concessão, mas nenhuma no atinente à essência religiosa do Catolicismo”. E acrescenta que foi movido à luta com a Alemanha, depois de inúmeras concessões políticas, porque estava sendo atacado o cerne de sua doutrina.

Que mais belo elogio pode sair da pena de um autor anti-católico à nobreza dos móveis a que obedece sempre o Vaticano?

Em uma época em que os interesses políticos são sempre preferidos às idéias, o que se pode desejar de mais edificante de que a orientação do Vaticano, inabalável em preferir as idéias aos interesses políticos ?