Legionário, N.º 238, 4 de abril de 1937

7 DIAS EM REVISTA

Nossos colegas do jornal católico alagoano “O Semeador” publicaram uma pequena nota sobre a sucessão presidencial em que, examinando diversas candidaturas em foco, declararam que nenhuma delas satisfaz, mas que “a menos má” é a do Sr. José Américo de Andrade.

Sem nos manifestarmos por enquanto sobre os nomes em foco, queremos registrar nossa inteira solidariedade com o referido jornal quanto a um ponto: os católicos não tem candidaturas boas a escolher; a política os força, a eles que deveriam dirigir o Brasil, a optarem por alguma candidatura que se venha a averiguar que é “menos má”.

É a esta dolorosa situação que nos conduziu a indiferença e a cegueira do laicato católico brasileiro.

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Não é só o “Correio Paulistano” que tem culpa no cartório. Também o “Estado de São Paulo” anda pelos mesmos caminhos. Na Sexta-feira Santa, publicou o “Estado” uma bela nota sobre a necessidade de se apegar o Século XX aos princípios “cristãos”, para não cair no abismo.

Vejamos, agora, como o Sr. Guilherme de Almeida, da seção social daquela folha, obedece ao programa de seu ilustre redator-chefe. Leiamos para isto a nota de primeiro de abril:

VERDADES

Abril, primeiro.

O belo é o esplendor da verdade.

Mais vale ser do que parecer.

Não há rosa sem espinhos.

Só o trabalho dignifica e enriquece o homem.

O homem vale pelo que é e não pelo que possui.

Os bons triunfam; os maus fracassam.

O homem é o rei da criação.

A economia é base da prosperidade.

Quem com o ferro fere com ferro será ferido.

Ajuda-te e Deus te ajudará.

A justiça é cega.

Querer é poder.

O jogo é o verme roedor das sociedades modernas.

Os justos serão sempre recompensados.

A felicidade existe.

O whisky estraga o fígado.

Etc. ...etc. ..Etc. ...

(N.B. - Hoje é primeiro de abril.- GUY).

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Telegramas da Alemanha nos informam que o Sr. Hitler acaba de se reconciliar com o Marechal von Ludendorf. Este último é o chefe do movimento pagão e ateu na Alemanha. Para captar a confiança dos católicos, Hitler se manifestou publicamente em desacordo com a campanha atéia do Marechal. Brigaram por isto. Muitos católicos aplaudiram freneticamente Hitler por esta razão. E acharam arqui-demonstrado que ele era o salvador da civilização.

Hitler, porém, muito sorrateiramente, começou a dar forças ao movimento que aparentemente condenava. E foi tão longe neste ponto que chegou a se incompatibilizar com a Igreja.

Agora, reconcilia-se com Ludendorf. E todo o mundo vê que sua briga não tinha sido senão “tapeação” para “despistar” os católicos.

Não será esta lição aproveitável para católicos de outros países?

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Realizou-se, no dia 1º de abril, um grande congresso espírita nesta capital. Foi cercado de solenidade notável, e a ele afluíram numerosos representantes de organizações teosóficas etc.

O Sr. prefeito Fábio Prado cedeu o majestoso teatro municipal ao congresso, para que as sessões se revestissem do necessário brilho.

O gesto de S. Ex.a foi tanto mais apreciado quanto se sabe que a Prefeitura cede muito raramente o Teatro Municipal, hoje em dia. Para a colação de grau de bacharéis de direito, de 1936, foi muito difícil de obter de S. Ex.a o teatro.

A gentileza do Sr. Prefeito foi, portanto, realmente notável.

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Um telegrama de Comneo, na Itália, informa que a pequena Villa de Neviglio, naquela região foi oficialmente intitulada de “a vergonha da nação”, pois que, de todas as vilas da Itália, é aquela em que o índice de natalidade é o mais baixo.

Por isto - e vai aí o sal da notícia - o Partido fascista intimou a todos os habitantes solteiros do lugar, que são numerosos, a que se casem até o dia 28 de Outubro p.f. de qualquer jeito e em qualquer situação. O dia 28 de Outubro foi escolhido por ser o dia da marcha sobre Roma.

Como recompensa, haverá viagens de núpcias especiais a Roma, com passagem reduzida.

Quem haveria de dizer, há coisa de 10 ou 20 anos atrás, que a Europa seria, em 1937, teatro de cenas de despotismo asiático, próprio aos contos e lendas do Oriente?

Por pior que seja a limitação da natalidade, como justificar essa inqualificável violação do direito que a todos os homens assiste de seguir sua vocação?

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O “Correio Paulistano” publicou uma réplica de “Atahualpa” ao nosso artigo sobre as considerações daquele Sr. referentes ao divórcio.

Em outra seção, lhe daremos uma resposta definitiva.

Mas quereríamos que o “Correio Paulistano” se explicasse sobre um ponto de suma importância. O programa do P.R.P. é contrário ao divórcio. Por outro lado, o órgão do partido publica artigos favoráveis a tais medidas. O que significa isto? Indisciplina partidária? Ou insinceridade na repulsa oficial do Partido ao divórcio?

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O Estado francês laico, a despeito da ditadura disfarçada do “Front Populaire”, sendo forçado vai cada vez mais ao abandono de sua clássica indiferença em relação ao Catolicismo.

Tivemos uma prova muito recente a respeito da exposição mundial de Paris, a ser brevemente realizada.

A princípio, o comissário geral da exposição queria proibir que figurasse no recinto qualquer igreja. Mas a comissão organizadora viu-se forçada a recuar. E autorizou a inclusão não de uma mas de três igrejas... se os católicos não quiserem incluir um número ainda maior.

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O Ex.mo Rev.mo Sr. Arcebispo de Westminster, em Londres, acaba de publicar uma pastoral em que incita vivamente os católicos a combater, obedientes à voz do Santo Padre, tanto o ateísmo comunista quanto a hidra nazista, que ameaçam infiltrar-se na Inglaterra.

Não significa isto que S. Ex.a Rev.ma assuma, perante o comunismo e o nazismo, a atitude imbecil de certos burgueses inimigos dos “extremismos”. Não há coisa mais autenticamente extremista do que a doutrina católica.

Mas a aludida pastoral prova, mais uma vez, que o extremismo católico não é extremismo, nem da direita nem da esquerda, mas do alto. E que se combate a esquerda, nem por isto está disposto a se deixar absorver pela direita e muito menos pelo centro liberal.

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O Sr. Borges de Medeiros, cujos anos já vão avançados, publicou uma entrevista em que contesta que exista perigo comunista no Brasil.

Positivista como é, S. Ex.a só acreditará no perigo comunista quando ele for perceptível aos seus sentidos. Isto é, só crerá que existe incêndio quando este lhe queimar as barbas e tisnar a pele. Enquanto arder somente nas peles dos outros, não crê...

Confere. Não é o positivismo que nega a existência de micróbios?

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Um telegrama da Agência Havas, procedente do Rio, informa o seguinte: “A PROPAGANDA DO NAZISMO NO SUL DO BRASIL - RIO (H). - O “Diário da Noite” publica, encimada pelo título “Hitler no Sul”, revelações que declara ter colhido acerca das “infiltração nazista nos Estados do Sul do Brasil”, a cujo propósito declara que o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são grandes focos de atividades estrangeiras.

Depois de acentuar que a propaganda hitlerista constitui perigo para a soberania estrangeira, o jornal declara que conseguiu obter um exemplar das medalhas nazistas que foram distribuídas, por ocasião do Segundo Congresso Nazista Brasileiro de Santa Catarina aos que contribuíram para a “subscrição para socorros de inverno”.

O jornal estampa uma fotografia ampliada da referida medalha, na qual se vê uma cruz “suástica”.

Esta notícia deveria provocar as mais enérgicas providências de nossas autoridades. Providências contra a propaganda nazista, se forem verdadeiros os fatos relatados. Providências severamente punitivas contra a “Havas”, se os fatos forem falsos.

Mas no nosso pobre Brasil, por enquanto não é possível pensar-se nisto. Como de costume, “ficará tudo como dantes no quartel de Abrantes”.

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O telégrafo nos trouxe da França uma notícia sublime. Numerosos patrões burgueses, totalmente privados de espírito católico, quiseram que as suas fábricas funcionassem na Sexta-Feira Santa. Os operários católicos, respeitosos da autoridade, não se opuseram. Mas, no momento preciso em que se comemora a morte do Divino Redentor, os operários católicos filiados à juventude católica suspenderam por um minuto suas atividades.

Num século de revolta, os operários deram exemplo da disciplina, obedecendo aos seus patrões. E, ao mesmo tempo, deram uma esplêndida lição de fé aos seus patrões.

Como há de ter agradado ao Cristo Redentor essa oração de um minuto saída de peitos simples e piedosos, nas mais variadas oficinas do “beau pays de France”.