Um telegrama de Paris informa que o Sr. Leon Blum vai conceder a um
semanário parisiense, que se chama “Sept”, uma entrevista em que procura demonstrar que os
católicos franceses não devem hostilizar seu governo. A entrevista ainda não
foi publicada. No entanto, não hesitamos em afirmar que, sejam quais forem as
promessas do Sr. Blum, os católicos devem manter em
relação a ele e a seu clã, uma atitude de grande reserva.
O Sr. Blum é,
politicamente falando, herdeiro de todas as tradições do anticlericalismo
francês. Representa o que há na política francesa de mais hostil e mais
suspeito à Igreja. Tomou as rédeas do governo em virtude da coligação de
partidos infensos ao Catolicismo. E governa com o apoio desses partidos. Quem,
pois, entre os católicos, lhe poderá dar atenção, quando prometer mais ou menos
vagamente respeitar a Igreja?
Marx dizia, e todos os comunistas repetem, que a Religião
é o ópio do povo, e que constitui o maior obstáculo à revolução social.
Se o Sr. Blum apoia
sinceramente a Igreja, desfere um golpe profundo no comunismo. E se os
comunistas não romperam com ele, é porque esse golpe não é real.
Aliás, por toda a parte, os elementos comunistas
prosseguem numa ativa campanha de desorientação da opinião pública.
“La Croix”, o valoroso órgão católico francês que tantas bênçãos tem
recebido da Santa Sé, em uma recente notícia denuncia as manobras do comunista
francês Thorez, que fez um discurso na assembléia de seu partido em que
externou uma perfídia e insincera simpatia pelos católicos.
E “El Pueblo”, órgão brilhantíssimo dos católicos portenhos, informa que, discursando em Valência perante os
governistas espanhóis, Thorez procurou demonstrar que
os católicos deveriam dar seu apoio à causa do governo espanhol.
Parece-nos que a atitude de Thorez
deixa entrever bem os móveis da atitude do Sr. Blum.
Em torno de tudo isto, porém, há uma observação
curiosa a fazer. Desde 1789 até nossos dias, todos os inimigos da Igreja
procuraram esmagá-la sempre que ocupavam o poder. Daí o Kulturkampf
de Bismarck, as perseguições religiosas da França republicana, o garibaldismo ou gambetismo
italiano, etc.
Agora, porém, a coisa é outra. Os inimigos da
Igreja, mesmo quando detentores do poder, não a atacam de frente. Procuram
iludir os católicos, anestesiar suas prevenções, paralisar seus esforços com
mil boas maneiras. E só depois disto tentarão o golpe.
E é realmente deplorável que muita gente, ignorando
esta força, que vem de Deus, procure apelar para outros recursos, que vêm dos
homens.
A política da desorientação não se pratica somente
na França. Os jornais nos trouxeram, há dias, a notícia quase escandalosa de
que a Universidade do Rio de Janeiro fará celebrar uma Missa para pedir o
completo restabelecimento da saúde do Santo Padre Pio XI.
Há algumas semanas, o telégrafo nos informava de
que os professores de Direito e de Medicina eram favoráveis à soltura dos professores
comunistas.
Essa Universidade que deseja igualmente o
restabelecimento da saúde do Papa e a soltura dos comunistas não é o espelho
fiel desses figurões católicos que acendem uma vela a Deus e outra ao diabo?
Aliás, sua política não é má. Muitos católicos
confiam neles porque eles rezam pelo Papa. E muitos comunistas os pouparão,
porque eles foram solidários com o Sr. Hermes Lima.
Não queremos, aliás, afirmar que todos os
professores da Universidade do Rio sejam desse estofo, o que seria evidentemente
injusto.
Fazemos nossa a observação de um jornal alemão que,
aludindo às crises internas que parecem processar-se na Rússia, mostrava aos
seus leitores que nem por isto se deve ter um momento de descuido quanto à
propaganda comunista.
Com ou sem desordens intestinas,
o monstro comunista continua poderoso e vigilante.
E, quanto ao perigo comunista, descuido ou traição
têm sentido idêntico.
Um telegrama do Rio de Janeiro informa que o
Sindicato dos Distribuidores de Jornais e Revistas resolveu apoiar a Associação
Brasileira de Imprensa nos seus esforços tendentes a obter a soltura de
jornalistas que teriam sido presos como comunistas.
Não sabíamos que a Associação Brasileira de
Imprensa tivesse tomado tal
atitude.
Contra ela, nosso mais formal e categórico
protesto.