O Sr. Presidente da República, em sua mensagem de
Ano Bom, deu como definitivamente assegurada no Brasil, a tranqüilidade social.
Desejaríamos ser da opinião de Sua Ex.a. Infelizmente, porém, não podemos
concordar com sua afirmação. Realmente, não é crível que o Governo solicite a prorrogação
do estado de guerra sem que um sério motivo exista para isto. Não é crível,
também, que o Governo esteja sendo forçado a expulsar diariamente do País estrangeiros
que atentam contra a ordem social e que, a despeito disto, não exista
propaganda comunista.
Não sabemos se será boa política esta de negar o
perigo. Não será preferível apontar o inimigo, para que não adormeçam na
inércia as forças anticomunistas? Parece que sim.
O Sr. Getúlio Vargas, no entanto, é doutor em política. Terá seus
motivos para agir assim. Quais serão? Diga-o o leitor arguto.
Um confusíssimo telegrama
da Agência Havas noticia que os Prelados alemães
resolveram hipotecar seu apoio ao Hitlerismo.
À primeira vista, causa surpresa a notícia. A Santa
Sé tem condenado
repetidas vezes o nazismo, e tem denunciado a política pagã do Füehrer
alemão. À vista disto, como poderiam os bispos alemães afirmar sua
solidariedade ao hitlerismo? Não representaria isto
uma ruptura com Roma?
Não. O que se deu foi o seguinte: os bispos alemães
hipotecaram sua solidariedade à campanha anticomunista do Governo. Afirmaram
que cabe à Alemanha ser um baluarte da
luta anti-bolchevista. Mas afirmaram também, e
energicamente, que estão no mais cabal desacordo com a política paganizante do Füehrer.
Significa isto que os bispos alemães agiram com uma
louvável imparcialidade, elogiaram o que Hitler faz de bom, e
criticaram o que faz de mal.
O Sr. Dr. Cardoso de Mello Neto, no discurso que proferiu na sua posse no Governo do
Estado, afirmou que onde quer que o destino nos haja colocado, unidos na mesma
Fé, pondo a nossa confiança em Deus, trabalhemos pelo Brasil. Louvável a
confiança em Deus. Louvável também, a preocupação de externar sua Fé em
circunstância tão solene. Louvável, ainda, o desejo de trabalhar pelo Brasil,
com um forte sentimento da unidade nacional.
Mas o que faz nisto a palavra “destino”?
O brilhante jornal católico Italiano “L'Avenire d'Itália” publicou um
longo artigo sobre a 8ª Conferência Pan-Americana de Buenos Aires.
Neste artigo de grande responsabilidade, o jornal católico mostra que a
Conferência falhou porque não passou de um encontro disfarçadamente hostil de
nações disputadas pelo imperialismo inglês e pelo dos Estados Unidos. Em lugar
de tratar de questões interessando a esses imperialismos,
a Conferência deveria tratar da repressão ao comunismo.
Este artigo só nos chegou ao
conhecimento por um telegrama da Havas, de 25 p.p.
Antes disto, porém, vínhamos sustentando insistentemente a mesma tese.
Folgamos em acentuar esta identidade de pontos de
vista.
O Sr. Campos Vergal opôs restrições
formais ao projeto que autoriza a abertura de um largo crédito para auxiliar a
construção das catedrais em São Paulo e no Interior.
Doravante, não comentaremos as atitudes do Sr. Vergal a respeito de Estado e Igreja. Nem sequer oferecem o
interesse de uma argumentação bem feita. Tudo quanto S. Ex.a diz tem sido já
muito antes refutado e arqui-refutado.
Julgamos, pois, perfeitamente dispensável qualquer
comentário.
Parece que não é só o Carnaval que se quer
“oficializar”. Também se quer “oficializar” e “carnavalizar”
as principais datas do ano. Por isto, armou-se na Praça do Patriarca um grande
tablado, para que nossa população passasse o Ano Bom dançando.
Se a dança fosse só dança, e dança às direitas,
ainda não seria tanto. É lícito dançar. Embora não seja recomendável dançar na
passagem do ano, quando se deve estar rezando.
Em todo o caso, não é isto o pior. Sabemos como
costumam ser, em regra geral, as danças dos bailes públicos. E sabemos que,
muitas vezes, elas têm suas “suites”.
Como aprovar a oficialização dessas “suites”?
É curioso notar-se uma tendência para reformar o
calendário, de sorte a não contar mais os anos a partir do nascimento de Jesus
Cristo, mas de substituí-lo por outros acontecimentos.
Na Itália, o ano acaba atualmente não mais a 31 de dezembro, mas a
28 de outubro, que é o aniversário da marcha fascista sobre Roma.
Quem, no entanto, ousaria afirmar, por mais
admirador que seja de Mussolini e do fascismo, que
o Nascimento de Cristo foi menos importante para a História do que a marcha
sobre Roma?
Não há nisto evidente absurdo?
* * *
Registramos com prazer as palavras calorosamente disciplinadoras com que o Sr. Ministro da Guerra saudou a
oficialidade da 1ª Região, por ocasião da passagem do ano.
Palavras como esta fazem-nos esperar que a
orientação do General João Gomes não sofrerá solução de continuidade. (...)