Legionário, 225, 3 de janeiro de 1937

7 DIAS EM REVISTA

A humildade é condição de prosperidade para todas as obras religiosas. O orgulho mata-as ou determina nelas uma inteira esterilidade.

Se o “Legionário” procura mostrar aos seus leitores os esforços que tem realizado, não o faz para lisonjear sua vaidade, o que seria incorreto e perfeitamente ridículo.

Formou-se entre nós a lenda de que a imprensa católica é coisa votada, no Brasil, a irremediável fracasso.

O “Legionário” tem a obrigação de mostrar que, tanto quanto possível, ele está procurando desbravar humildemente este caminho reputado intransitável.

Fazendo-o, não deseja nem espera aplausos por parte de seus leitores. O que quer é muita oração e muita cooperação.

Não é com fogos de artifícios, mas com bombas autênticas que se ganha uma batalha.

Não é com aplausos ruidosos mas estéreis que se consegue desenvolver uma obra. As vitórias do apostolado só se conseguem com oração, ação e disciplina.

É o que queremos que nossos leitores nos dêem. Com orações confiantes e ação disciplinada, havemos de vencer.

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Há cerca de um mês, a Câmara dos Deputados recebeu um abaixo-assinado de estudantes baianos que, dizendo-se católicos, aplaudiam as medidas repressivas propostas por certo parlamentar contra integralistas.

Estranhamos o fato, por razões óbvias. E suspeitamos que ele constitua mero embuste destinado a impressionar a opinião pública.

Nossa suspeita se confirmou: a Câmara acaba de receber um abaixo-assinado dos mesmos estudantes aplaudindo a libertação dos Professores Hermes Lima e Castro Rabelo.

Evidentemente, evidentissimamente, não se trata senão de um grupo de aventureiros sem escrúpulos, que só ostentam o nome de católicos para melhor servir à revolução social.

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Pesar, grande pesar, profundo pesar causou-nos a atitude do Sr. Ademar de Barros que, em nome da bancada do Partido Republicano Paulista, propôs a libertação dos presos políticos detidos em São Paulo.

Não temos receio em afirmar que se tivesse chefes mais informados das atuais tendências da opinião pública, o P.R.P. não sairia de seu verdadeiro papel de grande corrente conservadora, sempre de atalaia para combater a revolução social. Granjearia assim uma simpatia geral que lhe seria muito mais preciosa do que a amizade felina de alguns extremistas que hoje lhe sorrirão, para melhor lhe cravar, amanhã, o punhal nas costas.

Os partidos tradicionalistas e conservadores que “flirtam” com a demagogia e procuram acompanhar a farândola revolucionária nos dão a impressão dolorosa e vexatória das velhas obesas e cinqüentonas que, fantasiadas de “pierrots”, dançam o samba nos frenéticos cordões de carnaval.

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Não foi menor nosso pesar vendo que nas fileiras governistas aceitou a incumbência de apoiar a moção Ademar de Barros o Sr. Deputado Motta Filho.

Pela sua inteligência, pela sua cultura o Sr. Motta Filho tem a imperiosa obrigação de ser um dos orientadores mais esclarecidos de seu partido.

Como então aceitou S. Ex.a a triste incumbência de anunciar à Câmara e a São Paulo que o Partido Constitucionalista, sempre em antagonismo com o P.R.P. em tudo e por tudo, se unia fraternalmente a ele, para abrir as portas da prisão aos inimigos da ordem?

Estranhamos, lamentamos, discordamos...

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Um telegrama recentemente chegado de Paris, e publicado por nossa imprensa, noticia que 50% do orçamento francês é consumido por duas despesas: o pagamento de juros da dívida pública e a aquisição de novos armamentos.

Poucas notícias passaram tão desapercebidas. E, no entretanto, poucas são tão imensamente graves.

Para verificá-lo, basta refletir um pouco. Para quem vão os juros? Para um grupo de banqueiros internacionais. Para quem vai o dinheiro dos armamentos? Para um pequeno grupo de industriais e produtores de matéria-prima. Assim, pois, 50% do dinheiro pago pelos franceses ao Estado vai para o bolso de um “clã” de privilegiados.

Fez-se a Revolução Francesa para acabar com privilégios. E agora perguntamos: do que serviu a sangueira de 1789 e do Terror?

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É de notar-se a insistência com que jornais e agências telegráficas do estrangeiro anunciam ser gravíssimo o estado de saúde do Santo Padre, a despeito dos enérgicos e repetidos desmentidos do Vaticano.

A razão destes boatos é óbvia. O Papa é um homem incômodo. Ataca a esquerda como inimiga máxima da civilização. Ataca os partidos de centro como relapsos e incapazes de defender a civilização. Ataca a direita por querer defender a civilização sem a Igreja e contra a Igreja; e acusa certa direita de, intencionalmente ou não, favorecer com isto o jogo do comunismo.

Por isto, há muita gente interessada em que o Santo Padre morra. Não podendo provocar a realização desse desejo, matam-no ao menos por telegrama.

Também Jesus Cristo, Nosso Senhor, foi considerado incômodo. Atacava o paganismo do Estado romano. Atacava a hipocrisia dos fariseus. Inimigos uns dos outros, fariseus e romanos uniram-se contra Ele. E mataram-no.

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S. Ema o Cardeal-Arcebispo de Toledo, Primaz da Espanha, noticiou que foram mortos, até agora, 10 Bispos espanhóis e 5.000 sacerdotes.

Enquanto isto ocorre na Espanha, os corações românticos no Brasil fremem de desejos de ver soltos os comunistas que ainda estão presos.

Diz a Escritura: “eles têm os olhos e não vêem, tem ouvidos e não ouvem”.