Sete dias em Revista

 

"O Legionário" n.º 218, 15 de novembro de 1936

 

Quando já tínhamos encerrado o noticiário de nossa última edição, chegou ao nosso conhecimento que a Fábrica Sudan ofereceu um milhão e meio de cigarros aos nacionalistas espanhóis.

Não nos consta que, de terras brasileiras, tenha partido qualquer outro auxílio material aos heróis da Ibéria. A coragem com que a Fábrica Sudan rompeu a inércia geral que existe em nossos meios, merece o mais franco elogio.

Gestos como estes dignificam o Brasil.

No entanto, a imprensa diária de São Paulo noticiou este fato sem os comentários encomiásticos que ele merece. Geralmente tão pródiga de elogios para com todos os que contribuem para a construção ou manutenção de instituições de beneficência, nossa imprensa foi ultra-lacônica para com o belo gesto da Fábrica Sudan. Porque?

Reflitam um pouco, sobre isto, os nossos leitores. Há muita filosofia, à margem deste fato, aparentemente pequeno.

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Enquanto a imprensa chamada "neutra" tem este procedimento, a imprensa católica do mundo inteiro acompanha com fervoroso entusiasmo os progressos da Revolução.

Os leitores do jornal católico inglês "The Universe" angariaram uma apreciável soma de dinheiro, para mandar ao Gen. Cabanellas uma ambulância para servir aos feridos nacionalistas.

Se, no Brasil já tivéssemos um grande órgão católico, também ele poderia suscitar entre seus leitores um movimento de opinião... e de dinheiro, capaz de auxiliar os rebeldes espanhóis. Mas este grande órgão não existe.

Porque não existe este grande órgão? Eis aí outra pergunta, a desafiar o zelo e a argúcia de nossos leitores.

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Na Câmara dos Deputados, o Sr. Adalberto Corrêa foi o único orador a manifestar seu júbilo pela entrada das tropas revolucionárias em Madrid.

Quando o Sr. Armando de Salles Oliveira pronunciou o seu já famoso discurso em São José do Rio Pardo, inúmeros parlamentares liberais-democráticos telegrafaram ao Chefe de Governo Paulista, hipotecando sua solidariedade pelos conceitos emitidos por S. Ex.a contra o comunismo e as ditaduras da direita.

Dentre todos estes parlamentares, que fizeram profissão de fé anticomunista, nenhum se levantou, para celebrar no Parlamento brasileiro a derrota dos marxistas espanhóis. Foi necessário que, fora das fileiras situacionistas, fora das bancadas que apóiam o Governo vigente, se levantasse uma voz, para festejar este triunfo da civilização.

Tomem bem nota do seguinte, os Srs. deputados situacionistas: é com silêncios como estes, com inércias deste gênero, que eles se comprometem irremediavelmente perante a opinião pública.

Não é só com aplausos protocolares ao discurso de São José do Rio Pardo, que se combate o comunismo. A Nação espera alguma coisa mais.

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Em nossas últimas notas, temos insistido vivamente sobre a vacuidade da fórmula corrente, de "recristianização" do Brasil.

É possível que esta fórmula seja, freqüentemente, empregada com boas intenções. Isto não impede, porém, que ela seja muito larga. E tão larga mesmo, que nem sequer suscita a hostilidade dos mais decididos inimigos da Igreja.

Uma prova curiosa disto está na declaração encomiástica do Gen. Moreira Guimarães, Grão-Mestre da Maçonaria brasileira, a respeito do discurso de São José do Rio Pardo, que qualificou de "obra valiosa e penetrante".

Mais de uma vez, o Sr. Armando de Salles Oliveira se refere, em dito discurso, à "recristianização" do Brasil.

Essa expressão em nada inquieta o grão-mestre da maçonaria, pelo simplíssimo motivo de que há certas lojas maçônicas que, enquanto tramam no segredo das "arriere-lojes" a luta pelo ateísmo, se dizem, no entanto, oficialmente cristãs.

E até exigem, às vezes que todos os seus membros façam profissão de fé cristão (católica, protestante ou cismática) antes de serem aceitos.

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Um telegrama do Rio nos informa que, por intenção da Ex.ma Sra. Da Cândida Vargas, progenitora do Sr. Presidente da República, foi celebrada uma missa na Capela particular do Palácio Guanabara.

Parece-nos que o público, em geral, ignora a existência de tal Capela. Foi ela instalada dentro do próprio Palácio, pela piedosíssima Princesa Isabel, para quem o Guanabara fora construído.

A República laicista fez tal silêncio sobre esta Capela, que o público chegou a esquecer-se dela. Ao que nos conste, o Sr. Getúlio Vargas é o primeiro Chefe da Nação que, depois de 1889, manda rezar uma Missa na sua residência oficial.

Aliás, o Brasil não é a única república laica, em que se celebram Missas na residência presidencial. O Presidente da França que assinou a famosa lei das Congregações, Loubet, antes disto, ouvia todos os domingos uma Missa no próprio palácio dos "Champs Elysées". E, se não nos falha a memória, o Sr. Alcalá Zamora também fazia o mesmo no palácio presidencial de Madrid.

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Na Alemanha, diversos Sacerdotes católicos vão ser processados por crime de conspiração contra o Estado, e conivência com os comunistas.

Não nos espanta que Hitler acuse os Sacerdotes católicos de se ligarem aos comunistas. Esta insinuação faz parte do plano já denunciado pelo Santo Padre, de persuadir a opinião pública que a Igreja não constitui o menor obstáculo à defesa da civilização contra o comunismo.

Embora de forma vaga e hábil, também no Brasil, há quem faça o mesmo jogo contra os católicos.

Para percebê-lo, basta prestar um pouco de atenção a certos fatos.

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Era um velho sonho dos israelitas, poderem conseguir a reunião, na Palestina, de todos os membros dispersos do antigo povo eleito.

Hitler está se encarregando de transformar este sonho em realidade.

Conforme uma estatística que o telégrafo nos comunicou de Berlim, havia 161.000 judeus praticantes da religião semítica, e residentes em Berlim. Hoje, segundo as mais recentes estatísticas, este número está reduzido a 90.000.

Onde foram os restantes... 70.000? A maioria foi à Palestina, onde está se reconstituindo a nação judaica. Os demais foram disseminados por diversos países, entre os quais o Brasil.

Enquanto Hitler repovoa assim a Palestina com os descendentes de seus antigos habitantes, a diplomacia da Santa Sé trata de enfrentar um gravíssimo perigo daí decorrente: a ocupação dos Lugares Sagrados por inimigos do Cristianismo.

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No dia 6 pp., chegaram ao aeroporto de "Le Bourget" 50 jovens espanhóis que foram estudar aviação na França, a pedido do "governo" de Madrid.

Assim, é na França que os aviadores marxistas aprendem a atirar bombas sobre os exércitos da civilização.

E isto se faz com o beneplácito do Sr. Blum, um dos arautos da "não-intervenção" na Espanha!

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Passou quase despercebida uma importantíssima e oportuníssima resolução do Congresso de Secretários de Justiça e Chefes de Polícia, recentemente reunidos no Rio: d’ora avante, as autoridades incumbidas do alistamento dos sorteados para o serviço militar deverão tomar as mais rigorosas cautelas, de comum acordo com a polícia, para evitar a infiltração de esquerdistas em nossas forças armadas.

Nosso aplauso.