Sete dias em Revista
“O Legionário”, N.º 216, 1º de novembro de 1936
Nossas calorosas felicitações ao Sr. Prefeito Municipal, pelo seu gesto de mandar construir para o restaurante da Liga das Senhoras Católicas um pavilhão provisório, exatamente no local em que se ergueu, há meses, a famigerada “Caravela da Alegria”.
É tal a benemerência do restaurante mantido por aquela ilustre associação que qualquer ato destinado a facilitar sua manutenção deve encontrar eco agradável no coração dos católicos.
É para nós um verdadeiro prazer poder inserir nesta seção um elogio. Lendo os “7 dias em revista”, é possível que ocorra a algum assinante do “LEGIONÁRIO” a idéia de que somos verdadeiros “dilettanti” da crítica, que prazerosamente investigam na conduta alheia o que ela possa ter de censurável.
Só Deus sabe, no entanto, com que prazer aproveitamos as raras oportunidades que temos de fazer a quem de direito um justo elogio!
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O Sr. Deputado Campos Vergal opôs-se a que a Câmara dos Deputados felicitasse S. Ex.a Rev.ma o Sr. Bispo de Taubaté, pela sua investidura à testa daquela Diocese.
Justificando o voto, o deputado espírita e socialista declarou que, no Brasil, Igreja e Estado estão separados, e que, portanto, tais congratulações não podiam ser dirigidas por representantes do Estado a representantes do Poder Espiritual.
Esqueceu-se S. Ex.a de que a Constituição de 1934 declara que a separação não prejudicará a cooperação em vista do interesse coletivo.
Se Igreja e Estado devem cooperar no interesse do Brasil, o que há de estranhável em que os dignitários de uma e de outra troquem entre si gentilezas próprias a gente bem educada?
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Ainda sobre o mesmo assunto, discorreu o Sr. Deputado Alfredo Ellis, que, aliás, discorre sobre todos os assuntos. Disse S. Ex.a que votava contra as congratulações ao Ex.mo Rev.mo Sr. Bispo de Taubaté, porque se considerava eleito simultaneamente pelas legendas “Liberdade e Justiça”, que é laicista, e “Partido Republicano Paulista”. Ora, sendo a ideologia da 1ª destas legendas hostil a qualquer cooperação com a Igreja, S. Ex.a se sentia na impossibilidade de dar sua aquiescência a uma moção que envolvia simpatias com as autoridades eclesiásticas.
O programa do P.R.P. que, como o do P.C., tem afirmações religiosas, parece favorável a essa cooperação.
Logo, S. Ex.a, eleito por duas legendas contraditórias, violou o compromisso assumido com a direção do P.R.P. Que providências tomou este contra o deputado relapso? Nenhuma.
Mas se tratasse de indisciplina política, certamente já o Sr. Ellis estaria punido... “Politique d'abord”...
Felizmente, porém, a quase unanimidade da Câmara aprovou a moção.
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O Sr. Armando de Salles Oliveira, governador do Estado, por intermédio de seu ajudante de ordens, Sr. capitão Affonso Pires Evangelista, fez-se representar, ontem, na sede do Circolo Italiano, na festa promovida pela colônia russa em benefício da Igreja Ortodoxa Russa.
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Noticiam os jornais que a coroa da Virgem de Macarena, na Espanha, foi dada às tropas nacionalistas. Para substituir esse diadema de ouro, a Virgem foi coroada com um diadema de aço, feito com as balas extraídas aos feridos revolucionários.
É certo que a Nossa Senhora agradará mais o aço batizado com o sangue dos hodiernos mártires espanhóis, do que o mais valioso ouro do mundo.
A idéia dos revolucionários é cavalheiresca e piedosa. Enquanto palpitar com tanta delicadeza e tanto heroísmo o coração fidalgo e católico da velha Espanha, serão impotentes as investidas dos asseclas do anticristo.
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A Espanha está defendendo, com abundante efusão de sangue, a civilização católica.
A Áustria, em uma luta incruenta, mas não menos heróica, está defendendo a civilização católica com prodigiosos golpes de habilidade diplomática.
Os comunistas, estreitamente aliados na Áustria aos fascistas para derrubar o governo católico, não têm evitado os meios mais sinuosos, inclusive o suborno de certas altas autoridades.
Um telegrama de Viena nos informa que Karl Winter publicou um livro em que propõe uma aliança anti-hitlerista de cunho católico, que faça contra a Alemanha uma frente única abrangendo todas as tonalidades do pensamento, desde os monarquistas aos comunistas.
É isto um evidente despistamento, para dar a impressão de que a resistência anti-alemã é de fundo comunista.
Monarquia e comunismo são incompatíveis. Catolicismo e comunismo se entre-devoram.