Sete Dias em Revista

 

“O Legionário”, N.º 214, 18 de outubro de 1936

 

Na Baviera, há 1.675 religiosas ensinando em cerca de 400 escolas públicas. O que elas ensinam, ninguém o ignora: que seus alunos devem ser filhos modelares, futuros chefes de família exemplares, patrões benignos, operários disciplinados, cidadãos respeitadores das autoridades legítimas, e amantes da Pátria. Sua obra constitui, pois, uma eficientíssima propaganda anticomunista.

Os hitleristas, que se proclamam os paladinos da civilização contra o comunismo, vão, no entanto, proibir a essas religiosas que lecionem nas escolas públicas.

Para isto, será necessário violar a concordata entre a Baviera e a Santa Sé. Mas o que custa a Hitler a violação de mais uma concordata ou de mais um tratado?

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Estamos em uma época infeliz, em que a palavra oficial dos maiores países de nada vale. Nas mãos de Hitler, perdeu o valor a palavra do governo alemão, que dirige, no entanto, os destinos de um dos povos mais inteligentes e gloriosos do mundo. Se isto se dá com Hitler, é fácil imaginar o que se verifica com a malta de bandidos que, aboletada no Kremlin, asfixia a Rússia e procura incendiar o mundo.

No mesmo dia em que os jornais nos informaram de que a Rússia protestava contra a intervenção de Portugal na Revolução da Espanha, um telegrama informava que aportara em Barcelona, sob os vivas da população, um navio soviético trazendo víveres para os legalistas.

É a isto que a Rússia chama não-intervenção? É assim que ela respeita o tratado que assinou?

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Infelizmente, porém, não só a Rússia e a Alemanha, mas também a França viola a palavra empenhada no pacto de não-intervenção na Espanha.

Um telegrama de Almeria informa que o cruzador francês “Duplessis” foi recebido em Barcelona sob os aplausos de todo o povo. Palmas por que? O que teria de extraordinário a passagem de um vapor francês por Barcelona, se ele estivesse em simples viagem de excursão?

Evidentemente, os aplausos não foram para o navio, mas para algo que ele trazia consigo...

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Enquanto se discute gravemente, em Londres, o tratado de não-intervenção, também a Universidade de Glasgow mete sua colher de pau na revolução espanhola, enviando uma unidade hospitalar para servir... os marxistas!

Em linguagem sisuda, a Agência Havas informa que os sete membros que compunham o corpo de saúde dessa unidade hospitalar voltaram para a Inglaterra, dois por motivo de saúde e cinco “por motivos disciplinares”. Para bom entendedor, meia palavra basta. Não é difícil imaginar quais tenham sido esses motivos “disciplinares”.

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Enquanto permite que seus nacionais aticem o incêndio na Espanha, a Inglaterra procura evitar, a todo o custo, que as chamas lhe alcancem as próprias barbas.

Por esta razão, o conselho de cidadãos (espécie de Câmara Municipal) do Este de Londres, resolveu montar uma organização destinada a manter a ordem no lugar, evitando as agitações populares. E foram buscar para isto o Arcebispo católico de Canterbury.

Como se sabe, Canterbury é a sede do Primaz da igreja anglicana. Por que não se arranjaram eles com a prata da casa? Isto é, com o Primaz protestante, que é Par do Reino, membro do Conselho Real etc.? Por que foram buscar um católico? É óbvia a razão: só a Igreja Católica é um dique eficiente contra o comunismo.

Enquanto isto, porém, a diplomacia inglesa se agita para evitar que a Itália e Portugal detenham o braço criminoso dos salteadores da Igreja na Espanha.

Onde foi parar a lógica?

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Dormem em mansa paz as chancelarias sul-americanas. Nenhuma delas se lembra de dar um passo, ainda que meramente moral, a favor da Espanha. Enquanto cochilam os governos burgueses, o México despeja combatentes sobre combatentes na Espanha, para auxiliar o “governo” de Madrid. Os jornais nos informam que estão para partir do México numerosos grupos de novos combatentes marxistas.

O México quebra assim, a linha de neutralidade que todos os países americanos estão seguindo.

Por que não fazem nossas chancelarias uma “démarche” junto ao governo do México? Para marxistas, não haverá por acaso a famosa “não-intervenção”?