Sete Dias em Revista

 

"O Legionário" N.º 213 - 11 de outubro de 1936

 

Os atuais dirigentes da Inglaterra são de uma incoerência perfeitamente liberal. Fecham os olhos às atrocidades cometidas na Espanha e procuram paralisar as iniciativas ítalo-germânicas favoráveis aos revolucionários. Fecham os olhos à propaganda comunista que se desenvolve na própria Inglaterra com toda a liberdade, às barbas da polícia. Fecham os olhos aos verdadeiros móveis do autor de um recente atentado contra a vida do Rei, dizendo que ele quis tão-somente amedrontar o governo com seu gesto. Dir-se-ia que é um governo de displicentes. (...)

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A Bolívia e o Paraguai estão dominados por elementos esquerdistas, do naipe dos que, em 1935, assaltaram o Brasil. Tais elementos, porém, procuram "despistar" o público, baixando proclamações contra o comunismo, enquanto elaboram uma legislação absolutamente vermelha.

Recente telegrama do Paraguai informa que o Presidente Franco, baixou simultaneamente dois decretos: um que obriga todos os cidadãos a trabalhar, e outro que proíbe a propaganda comunista.

É certo que o trabalho é um dever moral que incumbe a todos, indistintamente, mas há certos deveres morais que não podem ser transformados em obrigação jurídica sem que, implicitamente, descambemos para o socialismo avançado. Todo mundo, por exemplo, deve dar esmolas. Mas no dia em que a lei obrigasse todo o mundo a fazê-lo, estaríamos praticamente em regime comunista.

Aqui, já tivemos coisa análoga a isto.

Que o digam os que ainda se lembram do Cel. Rabello.

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Aliás, são muitos os artifícios de que se serve o comunismo para iludir a opinião pública. Um deles é o "imposto único" do georgismo. É uma medida tributária francamente comunista. E, no entanto, ela conseguiu iludir a perspicácia do Sr. Lellis Vieira que, no "Correio Paulistano", o aconselha como meio seguro de se extirpar o perigo comunista.

Uma medida meramente econômica nunca extinguiria o comunismo, cujas causas são sobretudo morais. É Leão XIII quem o afirma.

Qualquer concessão às esquerdas é uma derrota que prepara novos reveses: "abyssus abyssum invocat".

Aliás estranhamos também que S. Sa mencione como autores comunistas São Tomas Morus, o grande mártir inglês, recentemente canonizado, e, ao que parece, até São João Crisóstomo e Santo Ambrósio.

Achará S. Sa que pode haver um santo comunista e que, sem embargo disto, a Igreja possa ser anticomunista? Esta incoerência estaria bem para protestantes. Para católicos, nunca.

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Realmente, protestantismo e contradição são coisas inseparáveis.

Na semana passada, um bispo anglicano baixou uma pastoral em que condenava a Revolução espanhola e manifestava sua simpatia pelo governo de Madri, cujos propósitos julga compatíveis com a doutrina cristã.

Nesta semana, um telegrama do Canadá noticiou que Igreja Unificada protestante "aprovou o princípio de esterilização dos indivíduos cuja prole possa herdar suas taras".

Enquanto a Igreja Católica luta pela civilização, as confissões protestantes recuam, transigem, sofismam.

Confere.

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O Sr. Café Filho apresentou um longo projeto sobre a proteção às famílias numerosas. É que S. Exa. quer defender o instituto da família contra os perigos que o ameaçam.

Será talvez por isto que S. Ex.a dirigiu ao Governo um pedido de informações em que censura as justíssimas medidas de vigilância tomadas a respeito dos criminosos políticos que em 1935, de armas na mão, atentaram contra a família e a propriedade?

Incoerência? Ingenuidade? ou maquiavelismo?

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Em lugar de se preocupar com criminosos que aguardam a ação da justiça, não seria mais lógico que o Sr. Café Filho se preocupasse com a triste sorte da cidadã brasileira que foi barbaramente fuzilada pelos marxistas na Espanha?

Por que razão não dirigiu S. Exa. um pedido de informação ao governo sobre as providências dadas pelos ministros do Exterior a este respeito?

O Uruguai, pequena potência secundária da América Latina, rompeu relações com a Espanha por idêntico motivo.

E o Brasil? Romperá também com a Espanha? ou condecorará com a Ordem do Cruzeiro o Sr. Azaña, como já condecorou o Sr. Cardenas, Presidente do México?

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Convém notar, a este propósito, que a Câmara está cheia de católicos. Nenhum deles, porém, se interessou em saber do governo o que fez para vingar o ultraje sofrido pelo Brasil na Espanha.

Mas o mundo é assim. Nenhum católico (?) apresentou um projeto favorável às famílias numerosas. Foi preciso que o Sr. Café Filho pensasse nisso, para que o assunto viesse a ser ventilado.

Também confere.

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(...) Todos os jornais andam cheios de palavras de simpatia para com a civilização cristã. E, enquanto as notas de fundo ressoam com tais declarações, a seção de crimes conspira contra a pureza e integridade da família.

De propósitos assim tão sérios, o que se pode esperar?

E ainda há gente que não compreende a necessidade da imprensa católica!

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O candidato à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Comunista foi preso por praticar a vagabundagem.

E, no entanto, queria ser representante dos trabalhadores. Vivendo do trabalho alheio, afetava advogar a causa dos que vivem do suor do próprio rosto. Espichado indolentemente nos bancos dos logradouros públicos, deblaterava contra o excesso de horas de trabalho. E, passando junto aos clubes burgueses, maldizia dos que ali consumiam horas a fio no ócio, enquanto os operários trabalhavam!

É o caso da trave e do argueiro...

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O "Legionário", no seu número de 27 de setembro último, procurou esclarecer o público acerca do caso da Rádio Católica. Salientamos hoje que todas as nossas afirmações então emitidas estão de pé, apesar de duas entrevistas concedidas pelo Sr. Marcellino de Carvalho aos "Diários Associados". Pois limita-se este diretor da Organização Record a divulgar a circular da Rádio Excelsior, prenhe de inverdades, como demonstramos no nosso artigo de domingo atrasado; e a afirmar que as irradiações católicas duraram nove meses. Foi talvez um lapso de memória. Pois todo o mundo sabe que a nova transmissora da Rádio Excelsior, pela qual, segundo o contrato, se deveriam fazer as irradiações católicas, só se inaugurou em 31 de maio deste ano, tendo o contrato com os católicos sido rompido em 4 de agosto. Ora, de 31 de maio a 4 de agosto contam-se dois meses e 4 dias, e não nove meses.

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Reconhece, entretanto, o Sr. Marcellino de Carvalho que os católicos contribuíram com quase duzentos contos. Esta asserção vaga esconde talvez sua impressão de que não deve prestar contas. Fiquem, porém, os católicos cientes de que não falharam com sua cooperação, senão que a prodigalizaram largamente generosa. Pois realmente concorreram com duzentos contos por dois meses de irradiações mais ou menos regulares.

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A entrevista sobre o assunto, concedida por Mons. Ernesto de Paula aos "Diários Associados", relatada com muita exatidão pelo "Diário da Noite" de 6 do corrente, não foi bem fielmente reproduzida pelo "Diário de São Paulo" do dia seguinte. Estamos autorizados a afirmar que a última frase que aí se atribui ao Vigário Geral da Arquidiocese não exprime seu pensamento. Foi um muito explicável engano, involuntariamente cometido pelo repórter, ao querer variar a expressão de seu colega do "Diário da Noite".