Legionário, N.º 191, 16 de fevereiro de 1936

 

‘A Margem dos Fatos

 

Comemorando o 339º aniversário da morte dos 26 mártires da religião católica no Japão, a Liga Católica dos Japoneses de São Paulo mandou celebrar uma missa solene na igreja São Gonçalo com grande assistência de elementos da colônia nipônica.

É extraordinário o apostolado exercido pela Igreja Católica entre a colônia japonesa de São Paulo, cujos membros tornando-se ardorosos católicos, cada vez mais vão se ambientando em nossa terra. E, enquanto o problema da emigração oriental não passa das discussões do Congresso, a Igreja Católica presta este admirável serviço à nossa Pátria, preparando, pela catolização dos japoneses, a sua rápida assimilação em nosso meio.

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O embaixador brasileiro no México, em declarações à imprensa, disse que o ensino leigo está definitivamente implantado no México, depois da tremenda luta entre o governo socialista e a Santa Sé, e que o Sr. Lázaro Cardenas hostiliza, abertamente, a “política do clero”, tendo o mesmo chegado a sepultar a liberdade religiosa. Acrescenta ainda que, apesar de ser o México o único país da América que se manifestou contra a religião, nem por isso deixou de ter ótimas relações com todos os Estados estrangeiros.

Ora, uma vez que a frente única americana contra o comunismo vem obtendo, ultimamente, magníficas vitórias, principalmente na América do Sul, impõe-se também uma ação, em conjunto com outra política francamente comunista do Sr. Cardenas, que constitui séria ameaça à vida de todos os outros nossos irmãos americanos. Todos os países deveriam se manifestar contra a orientação nefasta desse governo, cooperando com o nobre povo mexicano na luta contra os seus bárbaros governantes que, evidentemente, recebem ordem de Moscou.

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Há quem insinue que o perigo comunista na América do Sul é fantasia do governo brasileiro para manejos políticos. Entretanto, ainda este mês, foi rejeitado em Buenos Aires o pedido de inscrição do Partido Comunista que ficou, assim, impossibilitado de concorrer às próximas eleições nacionais do dia 13. Evidentemente, tal atitude das autoridades argentinas provam a realidade do perigo comunista em toda a América, e desmente as insinuações de muito maquiavel-mirim da oposição.

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Noticiam os telegramas da Alemanha que a Santa Sé se opõe ao estabelecimento de qualquer “modos vivendi”, entre o regime nazista e os católicos, enquanto o Partido Nacional Socialista não definir um artigo de seu programa, em que estabelece a compatibilidade entre a doutrina hitlerista e o cristianismo.

Realmente, a palavra “Cristianismo” tem recebido as mais diversas interpretações, das quais uma é a do famoso “Cristianismo positivo”, cristianismo alheio a qualquer diferença de crenças ou confissões cristãs, e superior, portanto, à autoridade religiosa de Roma.

É à sombra dessas interpretações que se tem afirmado a incompatibilidade entre o Catolicismo e o Nazismo, nos arraiais hitleristas, e se tem perseguido e reduzido ao cativeiro inúmeros elementos exponenciais da vida religiosa alemã.

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Lendo essa notícia, lembramo-nos involuntariamente dos que, no Brasil, pretendem apelar para o cristianismo, pura e simplesmente, como tábua de salvação para o Brasil.

Repetindo trocadilho famoso, apelar para o cristianismo “tout court” é positivamente “trop court”.

Confirmou esta asserção o grande jornalista católico Conde dalla Torre, em editorial recente do “Osservatore Romano”, de que é diretor. Escreveu ele que “os que por interesses urgentes se voltam para Jesus Cristo, devem aceitar Jesus Cristo sem nenhuma restrição”...

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Os telegramas vindos da Alemanha insistem em que as recentes prisões de católicos foram efetuadas por “se terem eles aliados aos comunistas para preparar um atentado contra a segurança do Estado nacional socialista”.

Os cristãos foram acusados, nos primeiros séculos da Igreja, por terem incendiado Roma, a despeito de serem os mais pacíficos dentre os cidadãos romanos.

Hoje, são acusados de comunistas, a despeito de serem os homens mais anticomunistas do mundo.

Nero ressuscitou. Hoje, chama-se ele Hitler.

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Os telegramas vindos da França adiantam que Jacques Bainville é a “primeira personalidade de primeiro plano” na “Action Française” a quem a Igreja recusa funerais eclesiásticos. E acrescentam que “até agora, decisões dessa ordem só tinham sido tomadas em relação a modestos membros da “Action Française” dos departamentos.

A notícia é evidentemente capciosa. Todos os membros da “Action Française” estão excomungados. E a nenhum deles, seja qual for a sua categoria, deu ou dará a Igreja as honras da sepultura eclesiástica.