Francamente, ou o Governo começa por exercer
energia contra os chefes comunistas apatacados ou
então ele deve desistir de qualquer obra saneadora. É preciso, em primeiro
lugar, que a lei pese com todo rigor sobre os habitantes do serpentário que é
atualmente o navio “Pedro I” ou o Presídio do Paraíso. E só depois terão as
autoridades direito de ferir os elementos mais obscuros do Partido Comunista
brasileiro.
Dir-se-á que a veemência de nossa linguagem destoa
da caridade evangélica; que em lugar de aplaudir entusiasticamente as medidas
coercitivas e repressivas de Governo, ficariam melhor em nossos lábios preces
caridosas, para conversão dos culpados.
Entre uma coisa e outra, não há
incompatibilidade. Só Deus sabe o ardor com que desejamos sinceramente a
conversão e salvação de qualquer dos presidiários do Paraíso ou do Pedro I.
Enquanto a justiça divina não tiver chamado a contas as suas almas, estão
abertas para eles, de par em par, as portas da misericórdia. E nunca haverá em
nosso coração outro desejo que não o de encaminhar por essas portas largas e
luminosas quantos se acham extraviados nas sendas do erro.
Isto posto, tratemos da repressão.
Dentre os agitadores comunistas, os mais culpados e
mais perigosos são os plutocratas e os altos burocratas.
O que dizer-se de um homem que, colocado pela
Providencia no pináculo da organização social, armado de prestígio, de
influência, de cultura, para amparar as classes menos favorecidas e proteger as
instituições e a sociedade, investe contra a Igreja de que deveria ser ao mesmo
tempo filho e defensor; contra a Pátria, de que deveria ser firmíssimo
protetor; contra a civilização, à cuja guarda foi colocado pelo próprio Deus?
Se vier de cima o exemplo da indisciplina, da revolta, do crime, o que se dirá
do pobre operariado?
Que juízo merece um professor público, munido pela
Providência de inteligência e preparo, para ser um luzeiro das gerações novas,
e que se serve das armas que Deus lhe deu, para guiar para o crime, para a
anarquia, para a depravação completa e inexorável aquelas almas preciosas,
pelas quais deveria zelar como por tesouros inestimáveis?
O que
dizer-se de brasileiros que usam nomes ilustres e tradicionais, ufania de nossa
História, e que arrastam pela lama dos presídios, lado a lado com malfeitores
comuns, uma glória que não lhes pertence, mas à própria Nação?
Não! Enquanto houver um desses operários do mal a
trabalhar contra a sociedade, a perturbar as famílias, a ameaçar a Igreja,
nossa língua não calará. Pois que, se não é contra eles, contra quem, então, é
que Nosso Senhor veio trazer a guerra e não a paz?
Faz muito bem, portanto, o Governo, em prender e
punir severamente os plutocratas que gostam de “brincar” de comunistas trajando camisa de seda, e as “camaradas” que
gostam de preparar dinamite com luvas de pelica. Contra estes, toda a energia
será pouca.
Muitos, é certo, procurarão servir-se exatamente de
seu nome, de sua fortuna, de sua posição, para escapar à pena.
Lembram-nos eles uma anedota chinesa. Conta-se que,
certa vez, a China sofreu uma invasão de ratos vindos da Índia e trazendo
consigo os mais virulentos germens de peste.
Fez-se, em todo o Celeste Império, uma virulenta
perseguição. Morreram todos os ratos exceto uma meia dúzia deles, que conseguiu
penetrar pela boca de uns ídolos do templo imperial que, no seu interior, eram
ocos. Não lhes era possível atingir os ratos com uma vara. E um dilema
angustioso passou a assombrá-los: ou quebrariam os ídolos, ou deixariam
incólumes os ratos.
Prevaleceu a segunda opinião que, sob pretexto de
tradicionalismo, combatia a ruptura dos ídolos. Ficaram os ratos incólumes. E,
dentro em pouco, uma peste tremenda assolava o Celeste Império.
O mesmo vai dar-se agora no Brasil. As ratazanas
apanhadas pela polícia procurarão acolher-se à sombra de ídolos. Esses ídolos
serão, como dissemos, a fortuna da parentela influente, as relações de amizade
com algum cientista ilustre, e assim por diante.
A nosso ver, porém, ai dos ídolos que refugiarem
ratos! Deverão sem tardança ser destruídos com o respectivo conteúdo. Porque,
do contrário, ai do Brasil, ai dos povos que não sabem quebrar seus ídolos!