Não há muito tempo, que o General Rabello e o sr.
Tristão de Athayde se empenharam em uma polêmica das
mais venenosas. É claro. A verdade e o erro, a lucidez e o nevrotismo,
são coisas irreconciliáveis.
Mas há dias atrás, pela primeira vez na vida, o
grande leader
católico e o virulento ex-capitão mor de São Paulo publicam declarações
absolutamente concordes.
Diante da gravidade do perigo, lembram ambos que
não basta jugular os movimentos armados para restituir ao País sua
tranqüilidade. É preciso atacar a crise nas suas causas mais profundas. Não
basta combater os sintomas: é preciso atingir o mal.
Ao que parece, a cegueira do General Rabello se
dissipou à luz dos incêndios e das granadas. Previdência... quae sera tamem.
* * *
Mas há cegueiras mais teimosas do que a do General
Rabello. É que a vaidade e a ambição são mães de todas as obstinações
irredutíveis. Assim é que não faltam políticos oposicionistas que, para brilhar
na luz mentirosa de uma efêmera popularidade, procuram dificultar a ação
repressora do Governo.
O que é o Sr. João Neves? O que é o Sr. Laerte
Setúbal? O que são os demais próceres da oposição? Burgueses tão autênticos
quanto os que mais o sejam.
Julgam eles, porventura, que aboletados com o
aplauso dos comunistas nos postos de mando, que tanto ambicionam, poderão gozar
por muito tempo das delícias do poder?
Não. Deus às vezes exerce sua justiça já nesta
vida. Eles serão tragados pela tempestade. O fogo que eles ateiam na barba do
vizinho também consumirá um dia a sua.
* * *
No meio de tanta cegueira, não podemos senão
admirar o gesto dos Srs. Arthur Bernardes, Costa Rego e outros que, vencendo as
mais amargas queixas pessoais e políticas contra o Sr. Getúlio Vargas, foram levar
a este seu apoio contra o comunismo.
* * *
É claro que este gesto elegante há de ter custado
grande sacrifício aos políticos oposicionistas que o fizeram.
Portanto eles não o terão levado a cabo sem pesar
longamente a gravidade da situação.
Sua atitude demonstra sua grandeza de alma, mas
prova também que o perigo é grande e real.
No entanto, há quem não se impressione com o
depoimento insuspeito do Sr. Arthur Bernardes e do Sr. Costa Rego, e continue a
afirmar que a revolução não foi comunista.
“Têm olhos e não vêem, tem ouvidos e não ouvem”...
Não falta quem diga que o Governo é culpado pela
situação a que chegamos.
As tendências evidentemente
esquerdistas do Sr. Pedro Ernesto, do Sr. Anísio Teixeira, do Secretário da
Segurança Pública (!) do Estado de Pernambuco, de tantos outros altos
funcionários nomeados pela situação dominante servem de argumento para essa
tese.
Ainda há pouco, o Sr. Chefe de Polícia do Rio
confessou, em entrevista publicada no “Estado”, que o Governo sabia da presença
de Luiz Carlos Prestes no Brasil, mas “que não tinha motivos para prendê-lo”.
Realmente, o Governo foi exageradamente
imprevidente e liberal. Mas esta crítica, que nós católicos lhe poderíamos
fazer, não têm autoridade para fazê-la os demagogos da oposição.
* * *
Os católicos devem reconhecer que o Governo está
agindo agora com uma energia modelar, nosso papel não deve ser, pois, de
carpideiras incorrigíveis, férteis em estéreis recriminações.
Só temos, na atual emergência, uma atitude: a de
defender as instituições.
* * *
É lamentável que o Sr. Professor Afranio Peixoto tenha apoiado com sua grande autoridade o
Sr. Anísio Teixeira, acompanhando-o ao ostracismo.
Quando o Governo procura sanear o ambiente é esta a
atitude que um de nossos mais ilustres intelectuais se sente no direito de
tomar?
Dele esperaria o Brasil uma palavra de ânimo neste
transe difícil, uma solidariedade corajosa contra os seus adversários.
No entanto, o que recebe deste
filho de escol? A afronta de ver seus legítimos interesses postergados em benefício
do comunista Anísio Teixeira.
* * *
O Sr. Anísio Teixeira, aliás, tem as suas
prestidigitações políticas bem organizadas.
Apenas o Governo anunciou que iria
demiti-lo, os órgãos da oposição e da situação se puseram a defendê-lo. E até o
“Estado de São Paulo” publicou com complacência a sua lacrimosa carta de
despedidas.
Qual é o segredo do Sr. Anísio? Como conseguiu ele
a solidariedade de gregos e troianos? (...).
* * *
No meio de tantas defecções devemos pôr em
evidência o gesto corajoso dos cem universitários cariocas que telegrafaram ao
governo, pedindo medidas repressivas contra os mestres e colegas comunistas.
Este gesto viril, que rompeu com o preconceito de
um coleguismo incondicional e absurdo, merece nosso caloroso aplauso.
* * *
Depois dos aplausos, mais um reparo. Os jornais
noticiaram que o pseudo Príncipe comunista (!) Igor Dolguruki
deveria ser posto ao lado de Luiz Carlos Prestes no Governo do País.
Não espanta que, a troco de alguns milhares de
rublos para fazer a revolução, a ANL (a despeito de seu farisaico nacionalismo)
tenha vendido a soberania nacional a um aventureiro russo: Jesus custou só 30
dinheiros, e houve um Judas que achasse o preço razoável!
* * *
Queremos, porém, terminar com um elogio. E este
será ao Sr Ministro do Exterior.
Quando S. Ex.a condecorou
o Presidente do México, com a ordem do Cruzeiro, protestamos contra essa
manifestação de simpatia aos algozes da Igreja Mexicana.
Manda, porém, a justiça, que elogiemos francamente
o espírito que presidiu à realização do acordo vaticano-brasileiro sobre malas
diplomáticas e o filial devotamento que S. Ex.a quis
manifestar, em nome do Brasil, à Santa Sé.