Somos dos que pensam que os periódicos católicos,
bem como tudo ou todos que, na Ação Católica, têm responsabilidades definidas, devem abster-se
cuidadosamente de qualquer atitude que possa ser suspeita de facciosismo político-partidário.
Por esta razão, nunca estaria em nossas intenções
comentar os fatos que ocupam atualmente os cartazes da grande imprensa, de
sorte a envolver a causa católica, que é essencialmente espiritual, em lutas de
natureza meramente temporal.
No entanto, não podemos deixar sem um comentário a
indiferença doutrinária que vem presidindo aos conciliábulos
preliminares travados em torno da sucessão presidencial.
É muito provável que a Igreja, orientada por sua
superior sabedoria, não venha a intervir direta ou indiretamente na questão. É
mesmo quase certo que tal se dará. Isto não significa, no entanto, e de modo
nenhum, que aos católicos seja lícito pôr de parte qualquer preocupação
religiosa na escolha de seu candidato à suprema magistratura do país. Qualquer
católico de consciência mediocremente bem formada, ao cogitar da escolha de um
candidato para cargo de tamanha responsabilidade, deve colocar na primeira
plana de suas preocupações a questão religiosa. Satisfeita esta preliminar,
deve cogitar dos interesses temporais legítimos do País. E, determinada a sua
escolha sob este duplo critério, nenhum lugar sobrará para as preferências
oriundas de simpatias pessoais ou da perspectiva de alguma propina governamental.
No entanto, o que vemos diante de nós está longe de
se conformar com tais princípios. Ao que consta, o Sr. Flores da Cunha quer candidatar-se
à presidência da República. Para “queimar”
um possível rival, lançou a candidatura do Sr. Antônio Carlos, que prontamente
exigiu a retirada de seu nome do cartaz. Por outro lado, consta que a minoria
quer lançar o nome do Sr. Cincinato Braga, para forçar S. Paulo a optar entre um paulista e um
gaúcho. E corre, ao mesmo tempo, que amigos e admiradores dos Srs. Salles
Oliveira e Macedo Soares acham que o atual
Governador de São Paulo e o atual Chanceler estão perfeitamente à altura das
duras responsabilidades decorrentes da ascensão à Presidência da República...
Ao debater estas diversas candidaturas, das quais
algumas serão, sem dúvida nenhuma, meros balões de ensaio, o que preocupa a
imprensa diária? Os programas de tais cidadãos? Suas idéias religiosas,
políticas, sociais? Não. Em problema de tal magnitude, persistem quase sempre
em ver as coisas pelo ângulo estreitíssimo do
regionalismo. E, aos seus olhos, o que há no tabuleiro político é um gaúcho
contra um mineiro ou contra dois paulistas!
Assim, os interesses religiosos e nacionais são
postos na sombra, e se compromete a unidade da Pátria, por um manobrismo com que o Brasil só tem a perder!
Senhor, por este mau caminho, onde vai o Brasil?