A “Campanha dos 50%

“O Legionário”, N.º 179, 1° de setembro de 1935

 

Em  fins do ano passado, a “Frente Única de Luta de todos os estudantes, pelas democratização de ensino e pela democracia escolar” promoveu nesta Capital uma greve dos rapazes das escolas, lançando ao mesmo tempo um curioso manifesto que foi comentado pelo O Legionário”. Tivemos oportunidade de mostrar então que a origem do movimento, o motor oculto da greve, estava nos centros de propaganda marxista que, infiltrando os meios estudantis, procuravam arrastar a nossa juventude para o caminho da luta social, a pretexto de conseguir facilidades materiais para os estudantes. Terminada a greve, e ela foi uma das muitas promovidas naquela ocasião como prelúdio à formação da A.N.L., cessou aparentemente a atividade extremista nos meios escolares. Era preciso agitar outras classes, sem deixar entretanto de prosseguir em todas elas o trabalho lento de sapa, próprio da tática comunista.

Chegou novamente a vez dos estudantes, levados à praça pública pelos chefes que não aparecem e não se expõem. E o motivo levantado agora, já constava do manifesto de dezembro de 1934. É a chamada “Campanha dos 50%”, a qual diz-nos A Platéa, jornal aliancista desta capital, “foi lançada através da “A Platéa faz pouco mais de uma semana”. Sua finalidade, é ainda o mesmo jornal quem o diz, é obter “a mais humana de todas as coisas: mais tranqüilidade de espírito para estudar, e estudo mais barato”. E o modo prático para conseguir essa maior “tranqüilidade de espírito para estudar, e estudo mais barato” é obter um “abatimento nos preços dos transportes, dos divertimentos e dos livros, porque a vida está ficando pela hora da morte, e os estudos não podem, por isso, ser interrompidos”.

Preste-se bem atenção ao que acabamos de transcrever o que é da pena do diretor da A Platéa.  A Campanha dos 50% foi lançada através da A Platéa; isso quer dizer que o foi em São Paulo, pelo principal órgão comunista existente nesta Capital como no Rio de Janeiro, foi lançada pela A Manhã e pela A Pátria”, como no resto do Brasil foi ou será lançada pelos jornais de Moscou. Essa é a palavra de ordem do momento: “Campanha dos 50%”. E assim agitasse a classe estudantil, agora, nos começos do segundo semestre para obter “mais tranqüilidade de espírito para estudar, e estudo mais barato”. Mais “tranqüilidade”, com passeatas; mais “tranqüilidade”, com reuniões noturnas, esquecidos os estudantes dos trabalhos que deviam fazer; mais “tranqüilidade”, com discussões e comentários, com o espírito cheio dos “50%”!... é bem uma “tranqüilidade” à maneira marxista! E por sua vez, será “o estudo mais barato” com a reprovação nos exames finais, graças ao período de “tranqüilidade”, desencadeado pela terrível campanha!... Finalmente, quanto aos meios para obter essa “tranqüilidade” e esse “estudo mais barato”, pedem os interessados 50% de abatimento nos transportes, abatimentos esses que se não nos enganamos já existem para todos os estudantes, com exceção dos acadêmicos das escolas superiores; pedem 50% de abatimento nos divertimentos, que é realmente um belo meio para obter “tranqüilidade” e “estudo mais barato”; quer dizer, o estudante que ia ao cinema uma vez por semana, irá d’ora em diante duas vezes aproveitando portanto plenissimamente mais uma noite de seus estudos; além disso, como o que é barato sempre atrai, irá mais duas vezes, exatamente por ser o cinema barato!... E assim teremos para o bem do espírito, e para barateza do estudo, mais três noites lindamente aproveitadas!... e mais os teatros, os esportes, as excursões! Só a reivindicação relativa ao barateamento dos livros se justifica em toda a maravilhosa (!) campanha dos 50%, afirmamos, porém, sem receio de contradita,  que ela está ali apenas como um recurso para mascarar os verdadeiros fins dos agitadores da classe estudantil.

Para quem conhece a psicologia do estudante, nada mais próprio para agradar do que o segundo item, aquele que se refere ao abatimento nas diversões; por meio deste, foram e são apanhados 95% dos que aderiram à campanha, e fracassada esta, e isso mesmo querem os que a promovem, seus leaders continuarão a ser no espírito da juventude escolar, os chefes autorizados de todo o movimento estudantino. Neles, os estudantes terão os olhos fitos, a eles obedecerão e eles os plasmarão à sua vontade e segundo suas idéias; eis aberto o caminho para a propaganda extremista mais intensa e para que novas adesões venham reforçar a elite marxista de nossos intelectuais. E não é sem um fim preconcebido que na Faculdade de Direito se funda agora uma “Ação Universitária Libertadora”, cujo primeiro ato consiste em enviar sua adesão e seu apoio à “Campanha dos 50%”.

Terminamos assim esta nota, que é antes de tudo uma advertência aos estudantes e aos pais que nos lêem. Que todo o bom brasileiro, preste muita atenção às sutilezas dos inimigos de nossa Pátria e de nossa sociedade: suas armas são discretas, suas intenções parecem puras, mas seus desejos são destruidores. E se os deixarmos, sentiremos os efeitos de seu jugo, e então será tarde demais.