A Constituição Federal estabelece que se
elaborará, para todo o Brasil, um plano uniforme de educação. Preocupado em dar
cumprimento ao preceito de tamanha monta, o Governo Federal solicitou a todos
os Governos Estaduais que organizassem comissões incumbidas de, nos seus
respectivos Estados, colaborar na grande obra, enviando ao Governo Federal
planos, sugestões, etc.
Evidentemente, o assunto interessa muito de perto à
Igreja, cuja missão tão de perto se relaciona com todos os assuntos
educacionais. Seria, pois, de se esperar que o Governo do Estado procurasse
consultar as altas autoridades Eclesiásticas para incluir, na comissão que
deveria organizar, alguns elementos representativos do pensamento católico.
Aliás, não seria apenas um gesto de simpatia do
Governo, este que acima indicamos, mas uma atitude inspirada na estrita
justiça, pois que a Igreja colabora eficientissimamente
com o Estado, no Brasil, para a educação nacional, mantendo uma imponente rede
de estabelecimentos de ensino, com os quais o Governo não poderia sequer pensar
em enfrentar com êxito a hidra do analfabetismo.
Efetivamente, imagine-se que, de um momento para
outro, fossem fechados todos os estabelecimentos de ensino católicos e que o
Brasil tivesse, para neles estudar, os pouquíssimos ginásios oficiais e alguns
poucos estabelecimentos de ensino privados, de inspiração católica, que por aí
andam. Em que situação se acharia a cultura nacional?
Seria, pois, de estrita justiça que, recebendo o
Estado, da Igreja, uma tão valiosa colaboração, procurasse ouvi-la no momento
de elaborar planos para o desenvolvimento da obra em que um e outro colaboram,
e em que ambos estão interessados em alto grau.
Pelo contrário, o Governo do Estado constituiu uma
comissão de educadores apaixonados pelas doutrinas pedagógicas mais
radicalmente anticatólicas e, tendo de juntar-lhes um
professor estrangeiro da Universidade, em lugar de procurar a colaboração de
algum professor católico - e poderíamos citar diversos dentre eles que fazem
profissão de fé católica - não encontrou melhor nome do que o do Sr. Arbousse Bastide, o único professor protestante, contratado na França para
a Universidade.
Existe em São Paulo uma Confederação de Colégios
Católicos, organizada graças aos esforços infatigáveis e
beneméritos de Dom Xavier de Mattos. Compreende todos os colégios católicos do Estado, e já
tem prestado os mais assinalados serviços à causa católica em diversas
emergências, como por exemplo no Congresso de Educação de Fortaleza.
A Confederação Católica é uma verdadeira pepineira
de excelentes professores que poderiam, com o maior brilho e eficiência,
representar, na comissão, o pensamento católico.
Mas não é apenas no ensino secundário que podemos
apontar nomes. Também no ensino superior, têm os católicos expressões
autênticas de seu pensamento, e também aí poderia facilmente o governo encontrar
representantes autorizados e competentes do esforço educacional da Igreja. Por que,
por exemplo, não recorrer à Escola de Filosofia de São Bento?
Mais do que estranheza, este gesto do governo nos
causa pesar. Sempre dispostos a respeitar a autoridade constituída e prontos a
aplaudir sem menor preocupação partidária todas as iniciativas governamentais
acertadas, nosso dever nos impele, no momento, a formular uma categórica
censura.
Aliás, ainda é tempo de remediar o mal. E estamos
certos de que mais de uma vez terá chegado ao Sr. Secretário da Educação, a lhe
indicar a injustiça talvez involuntária, de seu pecado por omissão contra os
direitos da consciência católica.
E se o erro for corrigido, aqui estaremos nós a
aplaudir com a mesma imparcialidade, a mesma preocupação exclusiva dos
interesses da Igreja, o gesto nobre e reparador que a consciência católica
espera do governo.