Está agitado o ambiente nacional. Em primeira
plana, o movimento grevista dos empregados dos Correios e Telégrafos, que são funcionários públicos, e portanto parte da
engrenagem mesma do Estado. Depois, outras greves, seqüestros, empastelamento
de jornais, atentados, conflitos políticos, repulsas à autoridade,
conspirações, boatos!... Há uma nítida sensação de insegurança, que é mais
reforçada ainda pela fraqueza da autoridade governamental, preocupada em não
desgostar a certos elementos, quase afastada do estudo dos problemas nacionais,
entregue à decifração de complicadas charadas políticas.
Muito fácil e cômodo é atirar a culpa aos outros.
Assim se faz no Brasil. Acusam-se os agitadores comunistas, acusam-se as
oposições, os descontentes; e sobre esses elementos, muitas vezes meramente
oportunistas, descem, nem sempre entretanto, as cóleras do alto. Este, porém,
não vai ao fundo da questão e não sabe senão concertar, de um modo muito
imperfeito, as inúmeras fendas e desmoronamentos que apresenta o edifício de
nossa organização social. Todo ele ameaça ruína, mas o senhor da casa não quer
construir um outro; parece que prefere aguardar o desabamento daquele para
depois, talvez, aproveitar ainda os tijolos!
Paralelamente à inatividade governamental,
observam-se elementos de valor intelectual e moral, que se desviam do
verdadeiro caminho da reedificação do Brasil para se entregarem a lutas
mesquinhas em campos acanhados. Nelas não ganham nenhum brilho para seus
brasões, nenhuma glória para seus nomes; antes, perdem a independência que
possuem, em troca da agregação a um pequeno grupo puramente humano e de fins
simplesmente humanos.
Se os agitadores conseguem movimentar as massas, é
que há algo cujo funcionamento não é perfeito. Elas não reagiriam
favoravelmente se a justiça reinasse. É justamente porque não há justiça que o
edifício social ameaça ruína, sacudido de todos lados por aqueles de seus
componentes que se sentem oprimidos e esmagados, e que querem e reclamam o que
de direito lhes pertence. Eles são atendidos pelo governo com paliativos, e são
ignorados pelos que fora do governo ainda lêem a cartilha do liberalismo.
Aquele é imprudente, estes talvez se admirem um dia ao verem explodir a
revolução cujos pródromos não sentiram.
Parece que no Brasil, ainda não é supérfluo
repetir, que a organização social deve e precisa ser refundida totalmente.
Inútil executar trabalhos simplesmente ocasionais, momentâneos, que depois se
desgastam e desaparecem, consumindo energias e abalando confianças. E
procurando a verdadeira justiça social, só à luz do Catolicismo ela pode ser
encontrada. É ele a única reserva espiritual inesgotável e perfeita a que se
possa recorrer para a renovação dos valores morais que toda a reconstrução
exige. Não é nos princípios muito limitados do simples nacionalismo, nem nos
extensos, mas revolucionários, do internacionalismo socialista. Sob qualquer
destes que se erguesse o novo edifício social, suas bases seriam tão frágeis,
ou talvez mais ainda que as do erguido sobre a tríade liberal da Revolução
Francesa.