Sobre a Greve

“O Legionário”, N.º 162/1, 6 de janeiro de 1935

 

Está agitado o ambiente nacional. Em primeira plana, o movimento grevista dos empregados dos Correios e Telégrafos, que são funcionários públicos, e portanto parte da engrenagem mesma do Estado. Depois, outras greves, seqüestros, empastelamento de jornais, atentados, conflitos políticos, repulsas à autoridade, conspirações, boatos!... Há uma nítida sensação de insegurança, que é mais reforçada ainda pela fraqueza da autoridade governamental, preocupada em não desgostar a certos elementos, quase afastada do estudo dos problemas nacionais, entregue à decifração de complicadas charadas políticas.

Muito fácil e cômodo é atirar a culpa aos outros. Assim se faz no Brasil. Acusam-se os agitadores comunistas, acusam-se as oposições, os descontentes; e sobre esses elementos, muitas vezes meramente oportunistas, descem, nem sempre entretanto, as cóleras do alto. Este, porém, não vai ao fundo da questão e não sabe senão concertar, de um modo muito imperfeito, as inúmeras fendas e desmoronamentos que apresenta o edifício de nossa organização social. Todo ele ameaça ruína, mas o senhor da casa não quer construir um outro; parece que prefere aguardar o desabamento daquele para depois, talvez, aproveitar ainda os tijolos!

Paralelamente à inatividade governamental, observam-se elementos de valor intelectual e moral, que se desviam do verdadeiro caminho da reedificação do Brasil para se entregarem a lutas mesquinhas em campos acanhados. Nelas não ganham nenhum brilho para seus brasões, nenhuma glória para seus nomes; antes, perdem a independência que possuem, em troca da agregação a um pequeno grupo puramente humano e de fins simplesmente humanos.

Se os agitadores conseguem movimentar as massas, é que há algo cujo funcionamento não é perfeito. Elas não reagiriam favoravelmente se a justiça reinasse. É justamente porque não há justiça que o edifício social ameaça ruína, sacudido de todos lados por aqueles de seus componentes que se sentem oprimidos e esmagados, e que querem e reclamam o que de direito lhes pertence. Eles são atendidos pelo governo com paliativos, e são ignorados pelos que fora do governo ainda lêem a cartilha do liberalismo. Aquele é imprudente, estes talvez se admirem um dia ao verem explodir a revolução cujos pródromos não sentiram.

Parece que no Brasil, ainda não é supérfluo repetir, que a organização social deve e precisa ser refundida totalmente. Inútil executar trabalhos simplesmente ocasionais, momentâneos, que depois se desgastam e desaparecem, consumindo energias e abalando confianças. E procurando a verdadeira justiça social, só à luz do Catolicismo ela pode ser encontrada. É ele a única reserva espiritual inesgotável e perfeita a que se possa recorrer para a renovação dos valores morais que toda a reconstrução exige. Não é nos princípios muito limitados do simples nacionalismo, nem nos extensos, mas revolucionários, do internacionalismo socialista. Sob qualquer destes que se erguesse o novo edifício social, suas bases seriam tão frágeis, ou talvez mais ainda que as do erguido sobre a tríade liberal da Revolução Francesa.