A Quinta Arma
“O
Legionário”, N.º 139, 18 de fevereiro de 1934
Já se tornou banal afirmar que a imprensa é o Quarto
Poder. Na Constituinte, um deputado afirmou que é a Quinta Arma, que acaba de
aparecer, novíssima, ao lado da cavalaria, da artilharia, da aviação e da
infantaria. Quarto Poder ou Quinta Arma, o fato é que a opinião pública respira
a atmosfera política por meio dela, digere as novidades como ela lhas
apresenta, julga, condena ou canoniza, de acordo com sua vontade despótica,
irrecorrível.
As responsabilidades da imprensa são, portanto,
colossais, pois que é ela, em última análise, em uma democracia organizada, que
governa a nação.
Nestas condições, absolutamente não se concebe que um
grupo ou uma corrente eleitoral que queira ter verdadeira influência sobre a
opinião pública não tenha a seu serviço um jornal de larga circulação.
A política brasileira vai tomando agora uma gravidade
crescente, que decorre do vulto dos problemas que estão a exigir pronta
solução. Um deles é a eleição do Presidente da República. Ao lado deste já
surge, nos bastidores da política, a preocupação em torno das presidências
constitucionais, das candidaturas a deputado na Constituinte estadual, da
eleição do futuro Congresso Federal, etc.
A eleição do Presidente da República, como é clássico,
depende de combinação entre os candidatos e as diversas bancadas estaduais.
Exceção feita quanto a São Paulo, cuja situação é toda especial, as
candidaturas à Presidência da República que se levantarem vão constituir apenas
uma convergência de esforços de representações estaduais em torno de um
determinado candidato. Como, porém, estes acordos e estas convergências só se
obtêm mediante “compensações” - o termo já está consagrado - no terreno da
política estadual eles exigem “conversações” - é outro termo consagrado - a
respeito dos problemas da política interna de cada Estado.
Nada de impessoal nesta atividade febril, onde se vêem
interesses, ambições e vaidades agitando-se no “deserto de homens e de idéias”
que é o Brasil.
A imprensa recebe, no entanto, a delicada incumbência
de mascarar a degradante voracidade desse entrechoque de interesses atrás dos
grandes pretextos de ordem ideológica, capazes de apresentar ao público uma
galeria de homens de Estado bem diversos dos lobos que só nos bastidores
aparecem às claras. E, assim, todo um regime de profunda deterioração dos
costumes morais da vida pública se vai perpetuando indefinidamente, graças à
benévola cumplicidade do jornalismo que, por missão, deveria apresentar ao
público “a verdade, toda a verdade, e só a verdade”.
De quando em quando, torna-se impossível conter a
corrupção dentro das aparências sadias que o grande público vê. Em países como
a França explodem, então, os escândalos como o affaire [o caso, a questão, o processo] Oustric,
o affaire Stavinsky,
etc. No Brasil... põe-se uma pedra em cima, depois de alguns murmúrios. E a
vida pública continua...
Para este mal, só é possível um método de cura: o da
intervenção do elemento católico no jornalismo.
Tivessem os católicos brasileiros, em todos os
Estados, seus jornais próprios, e eles poderiam comodamente entrar em acordo
para fazer da nossa realidade política uma descrição objetiva, capaz de alterar
o rumo de muito acontecimento!
Tivessem os católicos brasileiros uma imprensa própria,
e eles poderiam mostrar a que ponto os quarenta anos de laicismo oficial
corromperam o Brasil.
Tivessem eles uma imprensa própria e, secundando os
esforços titânicos da LEC, os católicos mais uma vez poderiam salvar o Brasil.
É com este escopo que nos batemos. Há de chegar um dia
em que todos os católicos compreenderão a necessidade de se montar um jornal
católico. Para isto, só esperamos uma lição: a grande lição dos fatos, que não
há de demorar muito.
Neste dia, um capítulo novo se terá aberto na História
do Brasil.