Os primeiros frutos

 

“O Legionário”, N.º 126, 20 de agosto de 1933

 

A belíssima demonstração de civismo dos católicos, no pleito de 3 de maio, já está produzindo seus primeiros frutos, com o crescente prestígio que a Liga Eleitoral Católica vai assumindo nas altas esferas da vida pública do Estado.

Colocada fora e acima dos partidos, a Liga tem desenvolvido uma atuação rigorosamente apolítica, e tem sabido, assim, assumir uma posição de grande elevação moral, que a torna objeto do respeito e da simpatia de quantos pugnam na política de São Paulo.

A neutralidade política em que se tem encastelado não obstou, no entanto, que zelasse com grande energia e eficácia pelos altos interesses espirituais que lhe estão confiados.

No momento atual, em que uma nova fase de tranqüilidade e de concórdia parece abrir-se para São Paulo, a Liga Eleitoral Católica, a despeito da discrição de sua atitude, tem uma grande tarefa a cumprir.

Podemos adiantar com toda a segurança que o Dr. Armando Salles de Oliveira, que foi nomeado Interventor Federal no Estado de São Paulo, se dispõe a governar com o programa da Chapa Única, mostrando assim o desejo de que sua administração corresponda à expectativa da grande maioria eleitoral que sufragou os candidatos da legenda Por São Paulo unido.

Ninguém pode fechar os olhos à importantíssima colaboração do elemento católico nas eleições de 3 de maio, colaboração esta cuja valia ficou bem patenteada pelos resultados finais da apuração. Nestas condições, podemos afirmar que, a 3 de maio, ficou claro que a população paulista quer o ensino religioso nas escolas, uma das condições sine qua non (1) do apoio dado pela Liga à Chapa Única.

Qualquer governo que deseje, pois, entrar em franca colaboração com a população, que ainda está em carne viva graças às recordações trágicas e recentes que ainda se gravam profundamente na memória de todos (2), deverá começar por restabelecer o decreto Laudo de Camargo que, devidamente aperfeiçoado, tomará o lugar do infeliz decreto do General Rabello.

Sem que se tranqüilize a consciência religiosa, indebitamente usurpada nos seus direitos mais sagrados, não poderá haver verdadeiramente aquela “tranqüilidade da ordem”, que São Tomás de Aquino chamava paz (3).

Tudo indica que o Dr. Armando Salles de Oliveira soube compreender esta situação, e que se dispõe a restaurar imediatamente o ensino religioso, um dos pontos salientes do programa da Chapa Única.

Com a instauração do ensino religioso, a Liga começará a colher os primeiros frutos de sua benemérita atuação.

Foram os católicos que plantaram a boa semente na campanha eleitoral de 1933. Colham agora o fruto de seus esforços, porque dignum et justum est (4).

 

 

Notas:

 

1 Sem a qual não, isto é, sem a qual não se teria efetivado o apoio em questão.

2 Cfr. A nota da semana, “O Século”, 3-1-32.

3 São Tomás endossa na Suma Teológica (Cfr. II – II, q. 29), a definição de Santo Agostinho (Cfr. De Civitate Dei, L. XIX, c. 13).

4 É digno e justo (do Prefácio da Santa Missa).