É necessário
“O
Legionário”, N.º 125, 6-8-1933
A mocidade mariana, que formou a primeira linha de
combate do grande pleito de 3 de maio e que, como vanguardeira, desbravou o
terreno em que devia caminhar a Liga Eleitoral Católica, assumiu, com o triunfo
que obteve, novas responsabilidades perante a opinião pública.
Os olhos de todos os paulistas estão voltados para
esta mocidade que constitui a sua mais cara esperança. Nada mais se pode
esperar das gerações anteriores que, vitimadas pelo liberalismo e abraçadas
agora ao socialismo, amontoaram em torno de si ruínas sobre ruínas, deixando
aos vindouros a ingrata tarefa da reconstrução. Como a árvore estéril do
Evangelho (cfr. Lc. 13,
6-9), não produziram frutos, e estariam fadadas à destruição, se a mocidade não
chamasse a si, energicamente, a causa da restauração.
Mas a mocidade verá dissiparem-se seus sonhos e
ambições, se ela não repudiar decididamente as fontes envenenadas em que as
gerações que nos precederam foram haurir inspiração.
É necessário que a restauração moral tenha como ponto
de partida a restauração religiosa, e que os brasileiros, em lugar de
reformarem sua Pátria somente a golpes de decretos ou de baionetas, se
preocupem em retemperar seus caracteres e suas energias na prática séria da Religião
Católica.
A mocidade mariana, pois, precisa entrar decididamente
na arena das lutas em que se jogam os destinos da Nação. É necessário que tenha
um órgão que lhe sirva de porta-voz, e em que, denodadamente, saiba externar o
ponto de vista da juventude católica, em todos os acontecimentos que se
desenrolarem, pois que o pleito de 3 de maio provou a sua força, e esta força
precisa ser ouvida.
O afastamento em que o elemento católico tem vivido em
relação às questões de interesse coletivo, poderá destoar, talvez, desta nova
orientação. O terreno está atulhado de preconceitos infundados e de obstáculos
de todo o gênero.
Não conhecemos, porém, obstáculos intransponíveis no
caminho do dever. Já se fez a Liga Eleitoral Católica. É necessário, agora, que
a opinião católica seja orientada e formada de acordo com princípios às vezes
pouco conhecidos pelo público.
É necessário que a mocidade mariana, vanguarda das
coortes católicas, faça sentir a todos que a era da indiferença e da
neutralidade já passou.
É necessário que a mocidade mariana não permita mais
que os grandes problemas da reconstrução nacional continuem a ser debatidos e
resolvidos - como até há pouco - à revelia da Igreja.
É necessário que a cortina de fumaça que a imprensa
paulista procura estender sobre o êxito da Liga Eleitoral Católica seja
dissipada pelo elemento mariano, através de uma nova imprensa que procura
formar.
É necessário que a muralha de aparente ignorância dos
princípios católicos, constantemente ostentada por certos elementos, seja destruída
pela onda mariana que avança.
É necessário, enfim, que, contra os defensores de
todos os erros, os paladinos de todas as corrupções, os advogados de todos os
sofismas, a mocidade mariana empunhe o estandarte imaculado da Cruz,
constituindo-se, como contrapeso, em defensora de todas as verdades, paladina de todas as virtudes e advogada de todas as causas
justas.
E para vencer os obstáculos que se lhe oporão, para
destruir as resistências que lhe queiram embaraçar o passo, para fazer face às
objeções que seu acometimento suscite, ela responderá singelamente que não
desfalecerá em seu empreendimento porque, para a Igreja, ele é necessário.