Legionário, N.º 691, 4 de novembro de 1945

O grande dever

O "Legionário" nunca foi um escouceador de vencidos: neste momento em que tantos "profiteurs" ardem em fervores anti-getulistas, abstemo-nos de acrescentar algo a tudo quanto fizemos para testemunhar nossa oposição ao regime que findou. Não é este o momento de falar de um homem contra cuja obra há realmente muito que dizer. À margem desta enorme mudança de figurantes no cenário de nossa política, abstemo-nos de apodos ou retaliações pessoais, cabíveis ontem, deselegantes hoje.

Mas, há nisto tudo uma categoria de gente que não foi vencida, porque vence sempre: para esta "clique", temos um apodo. Onde está hoje o getulismo aguerrido de certos leitores e "amigos" que nos censuravam por jamais elogiar o Sr. Getúlio Vargas, afinando nossas vozes pela batuta do DIP ou do DEIP? Onde estão? Vamos aos arraiais dos maiores entusiastas da nova situação: aí estão eles, injuriando provavelmente aquele, diante de quem nos queriam forçar a dobrar os joelhos.

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Se as retaliações pessoais não são elegantes neste momento, nada nos impede, entretanto, que proclamemos o motivo essencial por que nos rejubilamos com a nova situação. Restaurou-nos o regime jurídico. Renasce com ele a nova ordem natural. E a Civilização Cristã, opressa por 7 anos do totalitarismo incruento mas muitíssimo autêntico, respira por fim.

Acabou-se o regime da legislação torrencial, dos decretos estrepitosos irrompendo da noite para o dia e transtornando com duas penadas situações honestas, estáveis, que pareciam poder e dever enfrentar os séculos. Acabou-se o sistema de portarias revogando-se e contradizendo-se umas às outras, revogadas por sua vez por circulares administrativas e até por simples telefonemas. Acabou-se nosso perpétuo terror de ver essa torrente legiferante a invadir progressivamente todos os domínios da vida, e obrigando-nos amanhã a explicar ao Tribunal de Segurança porque não pusemos o retrato do Presidente em nosso jornal, em nossa sede, ou quiçá em nosso oratório.

O fim dessa situação de caos, a perspectiva próxima e quase palpável da normalidade legal, eis o que neste momento nos enche de um júbilo real.

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Por isto mesmo, julgamos dever lembrar a nossos patrícios que as questões políticas e particulares tomam a esta altura o aspecto de rugas insignificantes. O que o país de todos eles espera é que não prejudiquem ou retardem essa evolução por questiúnculas habitualmente antipáticas, hoje odiosas.

Evidentemente, é forçoso e legítimo que as disputas partidárias atuem nesta jornada política. Mas elas só serão simpáticas, na medida em que facilitarem, dignificarem e acelerarem a marcha do país para a sua constitucionalização.