Legionário, Nº 676, 22 de julho de 1945
Notas e reflexões sobre o comício do Pacaembu
A imprensa diária publicou com tal destaque o noticiário referente ao comício do Pacaembu, que pouco resta a dizer sobre o assunto, a título meramente informativo, para conhecimento de nosso povo.
Limitamo-nos pois a um noticiário analítico, este sim, realmente necessário pelo muito que se disse de infundado, e pelo muito que se omitiu de importante sobre o assunto.
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Vista da altura dos morros circunvizinhos o Estádio do Pacaembu apresentava, com suas arquibancadas preenchidas, o aspecto de um dia comum de jogo interessante. Informações positivas de pessoas que estiveram em observações no próprio local esclarecem entretanto que de perto se notava claramente o fato de que os espectadores, em lugar de se comprimirem fortemente nas arquibancadas, nelas cabiam com muita folga. Esta observação não é ociosa à vista da ênfase com que certos círculos declararam sobre a grande massa popular que teria ido ouvir o Sr. Luiz Carlos Prestes.
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Ao certo, o que significava essa afluência?
Para o comunismo, muito menos do que à primeira vista se poderia imaginar. É um erro supor que a simples presença de uma pessoa, ao comício do Pacaembu, significava sua adesão ao comunismo. Só pode imaginá-lo quem não leu os folhetos de propaganda do comício e não atentou para a posição em que oficialmente se colocou a comissão promotora daquela assembléia. Foi o Partido Comunista que promoveu o comício, nele, Luiz Carlos Prestes falou oficialmente como chefe do comunismo nacional! Mas, entre os elementos que cooperaram de modo saliente para a realização desse "meeting", a maioria não eram membros do Partido Comunista e não se apresentavam ao povo senão como democratas postos em frente única com os comunistas, para o triunfo de um programa comum de reivindicações populares. E, nem o comício pretendeu ser outra coisa, senão uma grande concentração democrática em que os comunistas, de mãos dadas com outros elementos da esquerda, pediu o apoio de todas as forças vivas da nação, para as finalidades declaradas do Sr. Luiz Carlos Prestes. Este reconheceu, aliás expressamente, que falava a um público que longe de constituir massa homogeneamente comunista, era muito eclética em sua composição ideológica. Afirmou expressamente em seu discurso: "Aqui seguramente não estamos apenas comunistas. Aqui estão homens e mulheres de todas as tendências democráticas, de todas as crenças e ideologias, de todas as raças e classes".
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Não parece que esse público tão eclético tenha saboreado os petiscos retóricos que lhe foram servidos durante o comício. Quando o Sr. Luiz Carlos Prestes chegou ao Pacaembu, o Estádio, decorado com um vistoso retrato do "füehrer" vermelho, com numerosas bandeiras e estandartes, cheia a tribuna de personagens representativos, apresentava o aspecto aparatoso e ardente das malsinadas manifestações nazi-fascistas.
À medida que o caudal oratório foi correndo, parece que um tédio invencível foi dispersando a multidão, que, aos magotes se retirava do Estádio. Durante a leitura do longo discurso do ex-Capitão Prestes o êxodo tomou aspecto de um verdadeiro fluxo, que não se diminuiu nem mesmo com um ou outro incidente pitoresco, como o da silabada, aliás bastante cômica, do chefe comunista, que em lugar de "década" disse "decáda".
O fim do comício apresentava aspecto melancólico. Eram 15 ou 20 só os espectadores que permaneceram obstinadamente fiéis. É talvez o que explique o mau humor de que deram mostra, pois que, ao se dispersar, conduzidos em numerosos caminhões (de quem esses caminhões? Pagos por quem?) dirigiam insultos às famílias ao longo da Avenida Angélica.
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Se fazemos questão de frisar esses pormenores, é porque a propaganda comunista, depois de cultivar por longo tempo, cuidadosamente, a letargia das classes burguesas, procura agora propagar um pânico que desarme todas as resistências. É ridículo dar crédito à propaganda declarada ou disfarçadamente comunista. Nem as proporções do comício justificam pânico, nem o êxodo cômico e espetacular dos ouvintes permite a idéia de que no Pacaembu se comprimisse, rubra e sanhuda, uma inumerável horda de petroleiros sôfregos de desencadear sobre nós um novo Terror.
Só os espíritos absolutamente pusilânimes e falhos de objetividade poderão imaginar que "está tudo perdido".
Pelo contrário, de uma reação anticomunista vigorosa não há o que possamos esperar.
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É esta a primeira lição do dia 15. Mas há outra. Se de nossa ação tudo podemos esperar, de nossa inércia, de nossa divisão, não há o que não possamos, o que não devemos recear.
Não nos iludamos com frases feitas ou com simplificações perigosas. Não durmamos o sono dos insensatos ao som da famosa afirmação de que o Brasil é um povo católico, e de que por isto é uma cidadela inexpugnável da civilização cristã.
É certo de que não devemos imaginar a multidão do Pacaembu como uma horda de chacais. Não é menos certo de que aquela dezena de milhares de pessoas que ali estavam, sabia que era comunista o comício e prestaram à propaganda de Moscou o ouvido complacente deixando lares, diversões, comodidades, para ouvir a cantiga vermelha. Para nós, aquela massa não estava perdida. Mas é indiscutivelmente uma massa que se desloca em direção ao comunismo. Abandonada à tibieza religiosa, tangida pela fome, até onde chegará? Quem pode responder por ela amanhã? Quem não vê que ela encarna uma tendência que está longe de existir só nela, mas que representa uma imensa vacilação em zonas importantíssimas da opinião nacional?
Em outros termos, quem não percebe que o Sr. Luiz Carlos Prestes teve um gesto de soberana habilidade quando, em lugar de exigir dessa massa uma inscrição imediata no Partido Comunista - o que ela sem dúvida recusaria neste momento - lhe propôs uma vasta frente afetuosa e despreocupada de convívio fraternal numa trincheira contra inimigos comuns? Essa cooperação criará todo clima necessário para que esse deslize para a esquerda se transforme em uma completa capitulação. O aperto de mão se transformará em abraço e o abraço em casamento.
Nós, continuamos inertes.
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Inertes, só? Não, suicidamo-nos.
Todas as seitas que se afastam de Roma tendem implicitamente para o declínio. O desgraçado ex-Bispo de Maura deu prova patente e escancarada de quão grande é o tombo quando se cai do vértice da ortodoxia para o abismo da heresia, comparecendo ao comício comunista do Vasco da Gama. Em São Paulo, deu espetáculo idêntico o "reverendo" José Pacheco, que figurava na tribuna de honra na qualidade de "presidente da Confederação das Igrejas Evangélicas do Brasil".
Que papel fazia nesse comício o "reverendo"? Sua presença significava evidentemente uma esperança. Esperança de que lhe restasse um lugar ao sol, na eventualidade de uma vitória do comunismo. Percebeu ele que as próprias palavras que o Sr. Luiz Calos Prestes disse para aquietar os "crentes" traziam em si mesmas seu desmentido? Notou ele que Luiz Carlos Prestes mentia aos católicos, nas próprias palavras com que procurava atraí-los a si?
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É patente, é indiscutível, é evidente que os católicos não podem ser comunistas, nem podem cooperar para a ascensão do comunismo ao poder. É igualmente certo que nenhum católico digno desse nome estaria presente ao comício do Pacaembu, sobretudo depois que o Revmo. Sr. Cônego Paulo Loureiro, Chanceler da Cúria Metropolitana em entrevista concedida a um dos maiores matutinos dessa capital, pôs em relevo a iliceidade desse comparecimento.
Parecendo pois estender a mão aos católicos, era de fato um velado incitamento à insurreição contra a autoridade eclesiástica que lhes dirigiu Prestes, quando depois de saudar "particularmente" os crentes de todas as fé (sic), de todas as religiões católicas, os protestantes, espiritas ou positivistas", depois de ajudar pois os católicos que ali se encontravam em contravenção do que lhes impunha sua consciência religiosa, as incitou a que fossem mais longe nessa orientação, quando deu como argumento de que o Partido Comunista não desejava investir contra a Igreja... a própria presença desses elementos no estádio!
Fraco argumento, aliás, argumento pueril! Então, com uma simples reflexão dessas, julga o Sr. Prestes que pode sepultar no olvido mais de vinte anos de perseguição e de guerra declarada do comunismo contra o Catolicismo no mundo inteiro? Que pode lançar uma ponte sobre os abismos doutrinários que separam a concepção filosófica, política e social do comunismo, da doutrina religiosa, política e social da Igreja?
E, voltando ao "reverendo Pacheco", se "sua reverência" vê tão vulpinos os propósitos do comunismo em relação à Igreja não receia por suas próprias "ovelhas"? Não vê que como "pastor" pratica em nome do "rebanho" um suicídio coletivo?
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E nessa ordem de idéias, o que faz a U.D.N. representando-se nesse comício, precisamente por uma pessoa com toda a expressão política e intelectual do Sr. Júlio de Mesquita Filho?
Na relação das pessoas admitidas ao estrado de honra, não lemos os nomes de representantes de autoridades. Entretanto, parece que lá estavam, já que o Sr. Luiz Carlos Prestes, dirigindo-se aos presentes incluiu uma saudação especial aos "digníssimos senhores representantes das autoridades do Estado". Há algo de mais singular, de mais inexplicável?
Representou-se ainda no comício, oficialmente também, o Partido Agrário também por pessoas de expressão em nosso meio. Que disseram eles à verrina do Sr. Prestes contra a lavoura?
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O "Legionário" tem o hábito de não entrar nas questões políticas de caráter meramente temporal. No presente caso, continuaremos fiéis à nossa tradição. Entretanto, dada a extensão do discurso do Sr. Luiz Carlos Prestes, é possível que muitos leitores não tenham apanhado o sentido essencial de suas palavras mesmo porque sua atitude em questões muito atuais, como perante o Governo Federal, parece muito incerta ao menos à primeira vista. E a título meramente informativo queremos frisar os aspectos mais salientes da linha de conduta que o Sr. Luiz Carlos Prestes vem de tomar.
O Sr. Prestes considera antes de tudo a situação internacional. "Nova é a situação do mundo após a derrota do nazismo", diz ele. "Sobre a Europa ondula a bandeira da vitória dos povos e da paz entre as nações". Nesse ambiente de vitória uma figura se destaca, é a do "general Stalin, guia genial dos povos soviéticos e comandante do Exército Vermelho, que foi não só o construtor principal da vitória militar, como também a grande força moral que pelo exemplo magnífico de sua atuação mais concorreu para a elevação do nível de combatividade dos povos de todo o mundo". Evidentemente, esse fato tem conseqüências, não apenas diplomáticas, mas ideológicas: "a influência da União Soviética, como esteio máximo da democracia e fortaleza inexpugnável do mundo socialista é cada vez mais evidente e decisiva".
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Estranhamos o papel absolutamente secundário em que o Sr. Prestes pôs homens como Churchill e Roosevelt. Certamente para só falar de Churchill que ainda luta na política, seus desígnios em combater o III Reich não eram os do Sr. Stalin. Parece que o Sr. Prestes o considera "un très triste sire". O Sr. Prestes vê por outro lado que Churchill está lutando ferozmente contra o socialismo inglês. Neste quadro da vida mundial, que papel fica para os que como Churchill, como tantos outros homens de honra e de bem, atacaram o III Reich para destruir o nazi-fascismo, dispostos a não permitir, entretanto, que o mundo por isto ficasse socialista ou comunista?
Pensamos em tudo isto ao ler as seguintes palavras do Sr. Prestes: "Mas por outro lado, essa própria luta pela consolidação da paz, pela completa e definitiva liquidação do fascismo, determina o reagrupamento das forças de reação, a união dos elementos pró-fascismo e do capital financeiro muniquista e isolacionista de parcelas não desprezíveis da burguesia que tendo participado da luta contra o nazismo, visava a reconstrução da Europa em bases reacionárias em proveito dos "trustes" e cartéis a que sempre estava ligada".
É difícil não pensar em Churchill, nos que com Roosevelt lutaram nos EUA contra o nazismo quando se lêem frases como esta.
Em última análise, pois, no campo dos que se opõem ao comunismo o Sr. Prestes só vê duas categorias de homens: os nazi-fascistas e uma burguesia reacionária... reduzida ao papel inglório de ancila de trustes e de cartéis. É ao que se vêem reduzidos os chefes de família que lutam pela sobrevivência da honra e integridade do lar.
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Essas "marionettes" dos trustes e cartéis parece que tramam algo de terrível como seja de fazer o contrário do que deseja o "genial Stalin": "Eliminado seu rival - o imperialismo alemão - querem agora assegurar-se essas forças reacionárias e poderosas dos EUA e da Inglaterra, o domínio político e econômico do mundo e isto tanto mais rápida e brutalmente quanto mais se alarmam com as conseqüências democráticas da vitória conquistada".
O Sr. Prestes parece ter uma explicação para a resistência que a Inglaterra e os EUA opuseram à política da URSS, em S. Francisco. "As forças da reação e da tirania procurarão impedir que as Nações Unidas continuem vivendo em harmonia. Mesmo no momento em que a maquinária militar do "eixo" era destruída na Europa, continuavam procurando dividir-nos. Fracassaram, porém voltarão a tentá-lo. Dividir e conquistar era e continua a ser o seu plano".
Contra isto, é preciso lutar. "A luta pela paz exigirá pois novos e crescentes esforços para a liquidação política e moral do nazismo em todo o mundo, e assim como o contra-ataque sistemático às forças de reação que se reagruparão para levar ao mundo novas guerras e, mais particularmente, à agressão por elas sempre desejada contra os povos soviéticos".
Eis o grande perigo internacional, contra o qual Luiz Carlos Prestes pede não só a cooperação de todos os comunistas mas de todos os "democráticos" numa vasta frente única.
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O Sr. Luiz Carlos Prestes considera a situação nacional em íntima conexão com a situação internacional.
"É sabido, diz ele, como naquela época, especialmente entre os anos de 1935 e 1940, marchava nosso governo, e com ele a grande maioria das classes dominantes, para o fascismo, para a ditadura contrária ao espírito e à letra da Constituição de 1934".
De outro lado crescia o Partido Comunista, que entretanto cometeu erros: "Evidentemente, grandes foram, naquela época os nossos erros e numerosas nossas debilidades. Não conseguimos, principalmente, romper com o sectarismo e dar à ALN a amplitude de frente única nacional antifascista popular e democrática que deveria ter". Confissão preciosa que significa em outros termos que, para lutar com êxito e realizar seus objetivos o partido Comunista reconhece que não deve agir só, mas em conexão com forças a-comunistas, em uma frente única mais ampla. O que ainda em outros termos, significa que servem aos objetivos do Partido Comunista os que se prestam a essa curiosa cooperação.
Se bem que o Governo não tivesse chamado ao poder os integralistas, as instituições eram integralistas, diz Prestes: "Naturalmente, com o golpe de 10 de Novembro, acentuou-se mais ainda em nossa terra a marcha para o fascismo apesar da rápida desmoralização do integralismo que, após o movimento aliancista de novembro de 1935 passava a exercer simples papel de briga de choque da polícia estúpida e assassina".
Mais tarde, entretanto, o Governo começou a lutar contra o nazismo no plano internacional, e o povo "conseguiu afinal obrigar os governantes a voltar atrás em suas tendências mais contrárias às tradições democráticas do nosso povo".
Em 1945, novas vitórias com a democratização do país, conseguida "mau grado sua constituição em nada modificada", pois que há elementos reacionários no governo.
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Chegou, pois, também para o Brasil o momento de investir contra os odiosos reacionários que têm a audácia de pensar que a derrota de Hitler não signifique a vitória universal do comunismo.
"Nestas condições, é evidente que se abriram novas possibilidades do proletariado e das grandes massas trabalhadoras do campo e das cidades a melhores perspectivas para a rápida mobilização política e unificação das mais amplas camadas sociais..."
Interrompemos aqui a frase para observar que Luiz Carlos Prestes encara ai uma frente geral dos trabalhadores e não-trabalhadores. Para quê? Continua a frase "...visando sempre a união nacional indispensável à completa liquidação do fascismo em nossa terra, passo primeiro para solução efetiva, sem maiores choques e atritos dos graves problemas econômicos e sociais da hora que atravessamos".
Uma união nacional voltada contra o fascismo. Contra o fascismo só? E os burgueses reacionários tipo Churchill e Roosevelt, que aqui também os há? E os operários, e os intelectuais, e os proprietários católicos, apostólicos, romanos, que, precisamente como Roosevelt e Churchill estavam dispostos a lutar contra o nazismo mas estão igualmente dispostos a lutar contra o comunismo?
É bem evidente que o Sr. Luiz Carlos Prestes abstrai deles para ter o direito de atirar o epíteto de fascista sobre todos eles.
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Depois, o Sr. Prestes entra a analisar a obra do Sr. Getúlio Vargas, a qual ataca de todos os modos. Finalmente conclui afirmando seu apoio ao Governo: "Não fazemos cambalachos nem temos compromissos com ninguém, já o dissemos. Se apoiamos o Governo é porque marcha para a democracia e enquanto assim proceder".
O Sr. Prestes quer paz com todos, inclusive com o Governo. Mas sob uma condição: que todos caminhem no seu rumo. Senão...
Deste modo, não é difícil ser pacifista.
O que se compreende muito dificilmente, é como o Sr. Prestes, depois disto, ainda fale em "unir todos os patriotas, independente de diferenças sociais e ideológicas, de pontos de vista políticos e crenças religiosas". Unir homens de opiniões diversas, para que caminhem harmoniosamente para que rumo? Para o rumo dele. Isto quer dizer que por mais diversas que sejam as opiniões, mesmo religiosas, o Sr. Prestes espera servir-se de todas para a execução de seus propósitos político-sociais.
Quando o "reverendo Pacheco" ouviu isto, não ficou pensativo?
De que modo quer o Sr. Prestes chegar a esta união - que sem dúvida lhe convém muito - de homens de todas as idéias? Por meio dos Comitês Democráticos Populares; esses Comitês "serão como que as células iniciais do grande organismo democrático capaz de unir o nosso povo e de guiá-lo no caminho da democracia e do progresso". Isto é, no caminho daquilo que o Sr. Prestes entende como progresso e democracia. Útil advertência para os que ainda tenham dúvidas sobre o verdadeiro sentido de tais "comitês".
Idêntica função, no campo operário, terá o Movimento Unificador dos Trabalhadores (MUT), incumbido de realizar "todos os esforços... para unificar em um movimento sindical de todo o país" o operariado, para que este possa exercer seu papel de "força dirigente dos acontecimentos, efetivamente capaz de acelerar a marcha para a democracia e a liberdade".
Fica bem entendido que a III Internacional foi extinta. Tão extinta, que o Sr. Prestes nem a menciona. Todavia o chefe vermelho sonha com a realização de "MUTs", a "Confederação Geral de Trabalhadores do Brasil, através da qual se possa ligar o movimento trabalhista brasileiro com a classe operária do continente e de todo o mundo". E voltamos a uma espécie de Internacional...
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Só? A tática do disfarce comunista através de mil outras organizações irá longe, e foi muito bom que o Sr. Prestes já nos dê elemento para a denunciar quando for posta em prática. Não só são os homens de todas as convicções políticas religiosas, mas as associações de todo tipo e feitio, que deverão auxiliar o comunismo: "Através da luta pelas reivindicações mais sentidas será possível unir em organismos os mais diversos - clubes, associações ou ligas camponesas - as grandes massas de trabalhadores rurais, desde os sitiantes e pequenos proprietários mais ou menos abastados, ou arrendatários capitalistas mais ou menos independentes até aquela maioria a mais miserável etc. etc.".
Mas isto não basta. O Sr. Prestes timbra em afirmar mais uma vez que conta com a cooperação de todas as "correntes políticas e muito especialmente da atividade governamental, da rapidez, coragem e audácia com que souber marchar o governo para a frente no caminho da democracia"... "um governo capaz de, por sua própria recomposição, inspirar confiança e não deixar dúvida quanto à realização de eleições livres e honestas na data já marcada".
É preciso que saiam do governo certos elementos, e entrem outros. Quais? O Sr. Prestes não os menciona. Modéstia?
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Considerando tudo de um golpe de vista panorâmico, nota-se que para o Sr. Prestes no mundo inteiro se trata de preparar um imenso movimento de frente única "democrática", em que o elemento comunista seja o mentor, o dirigente, e beneficiário, frente única de esquerdas, para a qual se trata de atrair todos os incautos, todos os ingênuos, de qualquer religião.
Com isto, a opinião e a estrutura social irão "maturando" no sentido comunista. E é para a realização dessa obra, que o Sr. Prestes estende a mão para todos...