Legionário, N.º 640, 12 de novembro de 1944

Ação Católica – problemas, realizações e ideais - Em prol da Ação Católica

Constituída para auxiliar a Hierarquia - adiumentum ad apostolatum hierarchicum, como diz nosso Concílio Plenário  - tem a  A.C. por fim a dilatação do Reinado de Jesus Cristo, pois para isso foi instituída a Hierarquia Eclesiástica.

Ora, Jesus Cristo reina nas almas na medida em que estas se submetem às verdades por Ele reveladas e vivem de conformidade com estas verdades. O que quer dizer que a finalidade da A.C. consiste em procurar difundir esta Fé e esta vida nas almas.

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A Fé é uma virtude sobrenatural que dá ao homem a capacidade de admitir as verdades reveladas por Jesus Cristo e Escritores Sagrados, propostas pela Santa Igreja. Envolve, pois, elementos divinos e humanos. Sua origem é divina não somente na Pessoa do Verbo Incarnado, o Mestre por excelência, mas também nos Profetas e Apóstolos, que nada mais foram do que instrumentos do Espírito Santo ao nos transmitirem as novidades doutrinárias da parte de Deus; é também divina no seu princípio, porquanto sem a graça de Deus não é o homem capaz de crer; é finalmente divina  no seu objeto que são as verdades escondidas em Deus, que sua Misericórdia se digna comunicar às criatura. O elemento humano que entra na Fé é o próprio homem, pois que a Fé é um ato humano realizado pela inteligência humana, amorosamente influenciada pela vontade livre.

Considerados os elementos divinos, a Fé é imutável e em dois sentidos. Primeiro, uma verdade revelada jamais poderá ter um sentido numa época e outro sentido diverso em outra diferente. Jamais o que foi crido pela Igreja como verdade de Fé na Idade Média deixará de o ser nos tempos que correm, ou terá hoje um sentido diverso do sentido que se encontra na profissão de Fé dos fiéis daquela época. Depois, o campo da Revelação está limitado, de maneira que não haverá mais novas verdades reveladas. Tudo quanto a Divina Bondade quis manifestar ao homem o fez até a morte do último apóstolo, de maneira que, depois da morte de São João Evangelista, não se devem esperar novas revelações que imponham aos homens verdades não contidas naquelas que se encontram na Sagrada Escritura ou na Tradição da Santa Igreja.

Imutável no seu objeto, compadece a Fé uma certa mutabilidade própria às coisas humanas pela parte de o homem não ver tudo quanto se [problema tipográfico no original impresso] ....progresso e aperfeiçoamento. Este progresso porém, esse aperfeiçoamento jamais se poderá entender no sentido que destrua a imutabilidade da Fé que expusemos acima. Expliquemo-nos. Pode o homem conhecer de modo mais claro, mais profundo, mais minucioso aquilo que conhecia de maneira imperfeita. Mas sempre a mesma verdade. Mais. Pode [o] homem não ver tudo quanto se contém numa verdade que crê firmemente, e, depois, com estudo, reflexão, meditação perceber as riquezas que esta sua crença encerra, e então alargar os seus horizontes pelo conhecimento explícito do que antes admitia tão só implicitamente. Eis porque, embora a Fé seja sempre a mesma, não obstante pode haver dogmas novos, isto é, verdades que se achavam implícitas na Revelação Apostólica e que a Santa Igreja explicitou e impôs à Fé dos fiéis, como acontece com o Dogma da Imaculada Conceição de Nossa Senhora. Note-se, no entanto, que neste crescimento na Fé de que é capaz o homem e a humanidade, jamais pode vir o indivíduo a admitir uma verdade inteiramente nova, que não se encontra de maneira implícita na Revelação apostólica, nem chegar à aceitação de uma atitude que contrarie aquilo que foi explicitamente estabelecido pelo Divino Fundador da Santa Igreja[1].

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Esta exposição mostra-nos como se difunde o Reinado de Jesus Cristo não somente angariando novos membros para a Santa Igreja, mas também intensificando nos fiéis a vida da fé pelo conhecimento mais profundo das verdades reveladas, e pela conformação sempre mais perfeita da vontade com estas verdades professadas pela inteligência.

A A.C. auxilia a Hierarquia num e noutro sentido. E realmente a A.C. tem contribuído para um conhecimento maior da realidade sobrenatural que é a Igreja, bem como para uma vida mais íntima nesta mesma Igreja. Di-lo o Santo Padre na Encíclica “Mystici Corporis Christi, na qual registra que um interesse maior por essa verdade dulcíssima se deve aos estudos sobre a A.C. E qualquer pessoa que acompanhe a literatura eclesiástica percebe como a A.C. veio avivar de maneira saliente vários dogmas do Catolicismo.

Para nos servirmos de uma palavra autorizada, relembremos as vantagens que, segundo o Emmo. Cardeal Piazza, trouxe a A.C. para a intensificação da vida de Fé entre os católicos.

No seu magnífico artigo sobre a “Origem e desenvolvimento de uma definição”, artigo que se tornou substancial nas questões de A.C. porque precisa não poucos pontos desta doutrina[2], o Eminentíssimo Purpurado assim se externa sobre os benefícios da A.C. no campo doutrinário:

Do terreno sólido e profundo da definição papal surgiu copiosa e escolhida literatura dogmática, para a qual o próprio Pontífice subministrou os mais perspicazes e geniais elementos básicos. Na Sagrada Escritura se descobriram belíssimos textos capazes de iluminar os vários aspectos do movimento de apostolado leigo; sua necessidade e obrigatoriedade; sua admirável excelência, suas origens traçadas no Evangelho, nas Epístolas dos Apóstolos e na Tradição cristã; seus objetivos e suas características; enfim, numa florescência de passagens escriturísticas, que encontram na Ação Católica sua aplicação legítima e, às vezes, tão natural, que parecem escritas justamente para ela. A teologia por sua vez estudando e confrontando esses movimentos com vários dogmas, trouxe à luz e fez salientar harmonias estupendas e insuspeitas.

O conceito de apostolado hierárquico abriu o caminho ao estudo comparativo da Ação Católica, enquanto relacionada com a constituição divina e a vida orgânica da Igreja, ao passo que o conceito de colaboração serviu de guia para relembrar a grandeza da solidariedade cristã, a qual importa comunhão de interesses e reciprocidade de ação, para o bem de todos e de cada um em particular. Daí se passou para a doutrina do Corpo Místico, ensinada por São Paulo e às verdades conexas de comum incorporação em Cristo, da vida sobrenatural em Cristo, da conseqüente obrigação de cooperar para o advento do Reino de Cristo. Nos dois Sacramentos do Batismo, que realiza a incorporação e da Confirmação que expressamente impõe a colaboração subministrando juntamente com o título as indispensáveis energias, se viram não somente as fontes daquele sacerdócio régio, para cuja participação são chamados todos os leigos, mas também as características do seu apostolado.

Assim é que forçosamente foi aprofundado o estudo das relações entre a Hierarquia e o laicato, e encontrados os meios de colaboração correspondentes às necessidades dos tempos. De sorte que a A.C. foi solidamente construída sobre a doutrina”.

Por esse tópico do artigo do Cardeal Piazza se pode ver as grandes vantagens que a A.C. causou à intensificação da Fé entre os católicos.

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Não obstante, como, aliás, era natural, o aparecimento da A.C. com seus organismos fundamentais, suscitou a questão das relações entre as novas associações que se fundavam e as antigas que sobreviviam. O estudo desta questão deu margem à manifestação de pendores diversos que se extremavam ou na negação de qualquer novidade no apostolado leigo, sendo apenas questão de novas associações que vinham militar ao lado de outras preexistentes; ou na pretensão de uma novidade substancial na Igreja que revolucionaria a estrutura tradicional dos organismos apostólicos, pelo acréscimo de um valor novo de importância transcendental.

Como acontece com todos os extremismos, estes são também viciosos, e apresentam mais o perigo de levar as pessoas amigas da paz a todo preço a achar que qualquer tentativa de esclarecimento nesta questão é supérflua, inútil e prejudicial à Santa Igreja, suscitada pelo “inimicus homo” que deseja ver medrar a cizânia no campo do Pai de família. Nesta corrente, é claro, se juntam também aqueles a quem apraz ver alastrarem-se os equívocos, enganos e erros sem encontrarem uma voz que lhes impeça a obra avassaladora de cindir a túnica inconsutil de Jesus Cristo.

Embora a A.C. seja uma obra de ação, como seu próprio nome indica, enganar-se-ia quem julgasse que pode ela desenvolver-se sem perigos para a Santa Igreja desde que seja errônea [a] concepção que dela formem as pessoas que lhe estão filiadas. Quem governa o mundo são as idéias; e assim também o apostolado será desenvolvido de conformidade com os conceitos daqueles que a ele se dedicam. Não basta o ideal vago de dilatar o Reinado de Jesus Cristo. É preciso que se conheça em que consiste este Reinado. Os protestantes também eles se empenham pela dilatação dos domínios de seu Senhor, e pretendem ter a Jesus Cristo como Senhor. Ninguém, no entanto, entre os católicos, irá aliar-se a eles para a obra comum da dilatação do Reinado de Jesus Cristo.

Ora, isto que é hoje óbvio, quando se considera uma heresia, já bem determinada e caracterizada, não é menos verdade sempre que está em jogo a integridade da Fé e a pureza dos costumes, pois que é pela integridade da Fé e a pureza dos costumes que impera Nosso Senhor Jesus Cristo, que se dilatam os domínios da Santa Igreja que são os seus domínios. Neste sentido é obra de apostolado toda a atividade endereçada na conservação do Divino Depósito entregue à Santa Igreja íntegro e sem delapidações quer na parte doutrinária, quer na jurídica ou moral.

Se a A.C. tivesse sido, desde o início, bem compreendida por todos, de maneira que nela não se tivesse infiltrado, em lugar nenhum, desvio algum no campo doutrinário, realmente não haveria necessidade de tantas insistências a respeito de seu conceito e sua realidade. Infelizmente, porém, em muitos lugares, e em não poucos escritos o amor por uma causa tão santa levou certos entusiasmos a estabelecer princípios e normas que causavam estranheza no povo fiel. Temos deste fato, testemunhos de todo em todo insuspeitos. A respeito da noção da A.C., por exemplo, o Eminentíssimo Cardeal Piazza registra que o Santo Padre prefere uma expressão à outra, porque menos exposta a perigosas ampliações. Se os fatos não tivessem mostrado estas perigosas ampliações não teria o Pontífice manifestado as suas preferências, pois que de si não se podiam supor tais ampliações; aliás, o Santo Padre Pio XI não se teria utilizado desta expressão. E entre nós, um testemunho também insuspeito, o Rev.mo Pe. Penido, testemunha o infundado da identificação da A.C. com um tipo especial de piedade, como se as pessoas que não têm preferências para este tipo de piedade não fossem capazes de ingressar na Ação Católica. E para não nos alongarmos mais, aí temos a Encíclica “Mystici Corporis Christi”, escrita para rebater erros que serpeiam nos meios católicos.

Denunciar, pois, caridosamente esses erros, e procurar deles desviar os fiéis não é obra de Satanás, que deseja ver dividido o campo do Pai Celeste, mas obra de caridade e união pois que não é possível a união e a caridade a não ser na Verdade que baixou do Céu à terra e apareceu entre nós na pessoa adorável do Filho de Deus. Toda obra, pois, tendente a conservar a pureza da Fé tradicional e dos Costumes austeros do Evangelho é obra de apostolado que merece os encômios e as bênçãos da Santa Igreja.

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Por esse motivo, entre nós, é das mais beneméritas a obra do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira “Em Defesa da Ação Católica”, escrita para combater as perigosas ampliações de que falava o Eminentíssimo Cardeal Piazza, e demais erros que pretenderam desfigurar a obra providencial da Ação Católica, e assim dissipar reservas que muitas pessoas mantinham com relação à mesma. Nós nos propomos aqui a enumerar as verdades que começavam a ser desfiguradas, e que foram vingadas pelo Sr. Corrêa de Oliveira. Melhor do que qualquer encômio nosso, falam as palavras autorizadas de nosso Venerando Episcopado. Citemos algumas opiniões:

Em São Paulo:

D. Alberto Gonçalves, bispo diocesano de Ribeirão Preto:

“São páginas nas quais se percebe não só seu entranhado amor à Santa Igreja, como ainda os profundos conhecimentos da matéria versada, muito apropriada ao momento que passa,  porquanto constitui o assunto de vários ensinamentos de seus últimos chefes”.

D. José Maurício da Rocha, bispo diocesano de Bragança:

“O Sr., com seu livro, prestou inestimável serviço à Ação Católica e, consequentemente, à Santa Igreja, dada a ligação existente entre uma e outra. – Já era tempo de serem rebatidos, e com clareza e documentação com que o foram em seu livro,  os graves erros, que sem culpa dela, se estavam introduzindo nos conceitos da Ação Católica, deturpando-lhe a finalidade”.

D. Manuel da Silveira D´Elboux, bispo auxiliar de Ribeirão Preto:

“Tenho a impressão de que seu livro, firmado em raciocínios autênticos, em fontes seguríssimas e na autoridade do Exmo. Sr. Núncio Apostólico, vai receber agora, com a última encíclica de Pio XII, o selo da consagração do “sentire cum Ecclesia”. Antes dissera: “V.,  meu caro Dr. Plinio, prestou um grande serviço à Ação Católica Brasileira”.

D. Antônio José dos Santos, bispo diocesano de Assis:

“Livro precioso pela doutrina que ensina e em muito boa disposição, precioso também pelo grande e necessário fim a que se propõe.”

D. Frei Luiz de Santana, bispo diocesano de Botucatu:

“Recomenda-se a obra pela sua flagrante atualidade, segurança de doutrina, oportunidade dos assuntos tratados e profusa documentação”.

D. Henrique Cesar Fernandes Mourão, bispo de Cafelândia:

“Felicito-lhe pelo substancioso, erudito e,  sobretudo,  oportuníssimo trabalho “Em Defesa da Ação Católica”... Trabalhos destes fazem um bem imenso porque esclarecem dúvidas e fixam diretrizes”.

A esses Exmos. e Revmos. Bispos que ajuizaram da obra de tal maneira que mostram tê-la lido, poderíamos acrescentar as felicitações dos Exmos. e Revmos. Srs. D. Antônio Augusto de Assis, Arcebispo-Bispo de Jaboticabal, que elogiou a obra e a recomendou ao seu Rev.do Clero por ocasião do Retiro Espiritual, e D. Francisco Borja do Amaral, Bispo de Lorena, que felicitou vivamente o autor, afirmando que esse livro fará grande bem.

O valor destes testemunhos é idêntico aos demais, pois que estamos muito longe de pensar que algum Exmo. Sr. Bispo fosse capaz de recomendar levianamente uma obra cuja utilidade não conheça. Como, no entanto, no agradecimento ao autor não têm palavras de onde se possa deduzir [que] pessoalmente leram a obra, colocamos seus nomes a parte.

Fora de São Paulo,  entre outros:

D. Florêncio Vieira, bispo de Amargosa, Estado da Bahia:

“É uma grande contribuição para o desenvolvimento da A.C. nos seus justos fins e um brado de alarme franco e caridoso contra as deturpações que se vão introduzindo nesse grande movimento de restauração do Reino de Cristo na sociedade moderna”.

D. Francisco de Assis Pires, bispo do Crato, Estado do  Ceará:

“Livro de grande atualidade que julgamos de nosso dever vulgarizá-lo o mais possível, muito embora ele já se recomenda sobejamente, não só pelo nome do autor, como pelo assunto versado...  Trata-se, com efeito, de uma exposição clara da sã doutrina, de um repositório de grandes verdades que nunca deveriam andar esquecidas, em suma, de um guia seguro para todos os que militam nas hostes de Cristo Rei, os quais têm ali muito que aprender e meditar”.

D. Ático Euzebio da Rocha, Arcebispo de Curitiba, Estado do Paraná:

“Magnífica e oportuníssima obra, cuja leitura bem esclarece os espíritos que não são escravos de lamentáveis preconceitos”.

D. Joaquim Batista Muniz, Bispo de Barra, Estado da Bahia:

“Não sei como agradecer seu trabalho escrevendo um livro, talvez o mais oportuno do momento presente. Já, desde muito que estava impressionado com o progresso que tomava o novo movimento litúrgico, absorvendo a Ação Católica em um ambiente, que já sabia demais a heresias e costumes contrários aos da Santa Igreja...”

D. Helvécio Gomes de Oliveira, Arcebispo de Mariana, Estado de Minas:

“Devo-lhe confessar que, antes mesmo de ler sua generosa dedicatória, já havíamos comprado vários exemplares de seu magnífico trabalho, para leitura de nossos bons seminaristas, que o têm saboreado a valer, louvando a Deus que concedeu a V. Excia. tempo e talento, (no sentido também de coragem!) para levar à imprensa obra de tamanho fôlego doutrinário espiritual... “Em Defesa da Ação Católica” para a juventude tem que ser o manual de leitura cotidiana em tudo quanto se refira à verdadeira A.C. entre nós”.

D. Ernesto de Paula, Bispo diocesano de Jacarezinho, Estado do Paraná:

“À exposição inteligente e nítida do seu incomparável trabalho, de par com a doutrina absolutamente ortodoxa, toda ela alicerçada nos documentos pontifícios, há de fazer luz em muitos ambientes até agora agasalhados em confusão quanto ao conceito puro e verdadeiro como ao exercício sublime da Ação Católica”.

D. Hugo Bressane de Araujo, Bispo diocesano de Guaxupé, Estado de Minas:

“Ao passo que dou a V. Excia. o meu parabéns pela excelente publicação, comunico que já a recomendei ao Revmo. Clero desta Diocese.”

D. Germano Vega Campon, Bispo titular de Oreo e Prelado Apostólico de Jataí, Estado de Goiás:

“Julgo, segundo o meu humilde saber e entender, que sua obra será de grande fruto para as almas, e portanto para que Nosso Senhor seja glorificado”.

D. Daniel Hostin, Bispo de Lages, Estado de Santa Catarina:

“Li com especial atenção e grande interesse seu precioso livro “Em Defesa da Ação Católica”, e venho apresentar-lhe meus sinceros aplausos e parabéns pela publicação do mesmo.

“O Sr. rebateu erros, desfez preconceitos, dissipou dúvidas, elucidou dificuldades acerca da Ação Católica, enfim, defendeu-a brilhantemente”.

 



[1] Para explicar este desenvolvimento de que a Fé é passível de progresso, graças às condições humanas a que está submetida, utilizam-se os teólogos de várias analogias. Assim, S. Vicente de Lerins, que é clássico nesta matéria, compara o crescimento da Fé ao crescimento do homem, que, conservando a mesma natureza se desenvolve da infância à idade adulta, passando pelo estado intermédio da adolescência. A criança não é o adulto, mas é o mesmo homem. A natureza não mudou, mudou sua manifestação, a parte acidental. Assim, o dogma, substancialmente se conserva o mesmo, mas seu conhecimento se desenvolve e se aprofunda, não num sentido novo e diverso mas no mesmo sentido melhor conhecido, explicitamente admitido num conceito novo.

Outra comparação utilizada por S. Vicente de Lerins e que deu azo a interpretações que absolutamente não estavam na mente do autor, é a tirada da semente e da planta. A semente, diz o Santo, não é a planta, mas contém a planta, é da mesma natureza que a planta, de maneira que não há divergência de espécie entre a semente e a planta. São Vicente desenvolve esta comparação dizendo que as verdades de Fé, os dogmas consolidam-se com os anos, amplificam-se com o tempo, aumentam com a idade, mas conservam sua perfeita integridade. Não sofrem nenhuma mudança, não perdem nada do que lhes é próprio, e não são objeto de nenhuma verificação na sua definição. São com o tempo cuidadosamente trabalhados, limados, polidos mas nem mudados nem mutilados. Ganham em evidência, luz e distinção, mas conservam em tudo o que lhes é próprio, sua perfeita integridade.

Toda esta explanação mostra até que ponto aplicava S. Vicente de Lerins esta comparação da semente que se desenvolve em árvore. Quem pretendesse, baseado nesta exemplificação, admitir que uma coisa de Fé admite uma novidade essencial, como acontece na árvore que apenas virtual e não implicitamente se contém na semente estaria ampliando a analogia do Lerinense contra a intenção do mesmo e o sentir comum dos teólogos.

 

[2] Um dos pontos que precisa o Emmo. Cardeal Piazza é a exclusividade da missão apostólica, que Jesus Cristo confiou só a Hierarquia. De maneira que, sem uma delegação, uma permissão, um mandato da Hierarquia, ninguém pode dedicar-se ao apostolado. Esta exclusividade justifica a opinião daqueles que não vêm, nem podem ver no mandato da A.C. uma transformação de tal natureza que coloque os membros da Ação Católica num plano especificamente superior ao dos outros leigos que se entregam ao apostolado com as bênçãos e a aprovação da Igreja. De fato, a situação privilegiada que tem a A.C. no apostolado leigo, enquanto incumbida de dirigir e coordenar toda a atividade apostólica dos leigos, não concede em absoluto aos seus membros uma delegação apostólica tal que os coloque na Igreja numa situação especificamente diversa daquela em que se encontram os outros leigos.  É este um ponto que também entende com a Fé, pois que se seguindo essa trilha, iríamos modificar a estrutura da Igreja divina e imutavelmente constituída pelo próprio Jesus Cristo.