O noticiário a que consagramos boa parte de nosso
número de hoje vem lembrar pormenorizadamente, a todos os fiéis, a grande obra
do Sumo Pontífice Pio XII, gloriosamente reinante, que, com todos os recursos ao
seu alcance, vem suavizando por todo o orbe da terra as dores físicas e morais
com que a guerra mundial oprime a humanidade sofredora.
Não obstante o inexplicável silêncio das agências
telegráficas sobre essa obra magnífica da Santa Sé, os católicos sabem que o Sumo Pontífice, pela oração,
pela penitência e pela ação faz tudo quanto está ao seu alcance em prol da
Igreja e da humanidade. O Vaticano não precisa anunciar em termos superlativos
e bombásticos todas as ações do Pontífice Romano, para alimentar sempre viva a
confiança das massas no Chefe visível da Igreja. Entre os fiéis e o Sucessor de
São Pedro há o íntimo conhecimento que vai do Pai para os filhos, dos filhos
para o Pai. Conhecemos muito bem o Papa, conhecemos de sobra a Santa Igreja, e
não precisamos que nos digam quem é o Papa, nem o que faz o Papa, para que o
saibamos. Quem é o Papa? O Vigário de Jesus Cristo. O que faz? Seu dever. Quem
nô-lo atesta? As próprias funções que exerce. E ainda que sobre ele fossem
absolutamente mudas as notícias telegráficas de costume tão parcimoniosas, com
isto não se alteraria a plácida e imperturbável confiança dos católicos no Pai
comum da Cristandade. Por mais que o homem contemporâneo aprecie o charlatanismo,
os adjetivos sensacionais, a terminologia hiperbólica, o Vaticano jamais
empregará esses processos para obter a confiança e o respeito dos homens. Ele
continuará, simplesmente, a fazer o bem com discrição e dignidade,
negligenciando a fronda silenciosa e passiva das
agências telegráficas, certo de que nada disto é necessário - ao menos no
sentido mais estrito da palavra - para manter unidas a ele as almas nas quais
habita verdadeiramente o Divino Espírito Santo.
Se o LEGIONÁRIO publica hoje um tão extenso
noticiário sobre a ação benfazeja do Sumo Pontífice, fá-lo muito menos a título
de informação que de meditação. Sabemos que é muito o bem que o Papa faz. Mas é
preciso, no momento atual, que vejamos, que sintamos, apalpemos este bem, para
que nossos corações de filhos sintam de modo mais afetuoso e intenso o
magnífico quadro que a Cristandade oferece aos olhos tristes e cansados do
homem do século XX: pelos quatro cantos da terra se estende a solicitude
paternal do Romano Pontífice, e dos quatro cantos da terra estão afluindo para
ele as manifestações de dor, de afeto, de solidariedade do mundo cristão,
provocadas pela situação dolorosa e crítica
em que tão imerecidamente ele se encontra. Esse fluxo é refluxo de amor
do Pai aos filhos, dos filhos ao Pai, é um comentário vivo e magnífico da
recente Encíclica "Mystici Corporis Christi", na qual o
Vigário de Cristo lembrou que a Santa Igreja constitui um corpo animado por uma
vida sobrenatural que a todos une, fiéis e Pastores, na mesma comunhão da
graça, que é dom do Espírito Santo.
Considerada à luz da Sagrada Teologia, esta cena
que a Cristandade oferece presentemente ao nosso mundo tão cheio de trevas e de
ódio é realmente maravilhosa. Ninguém, nem o Papa nem os fiéis, pode fazer um
só ato meritório, sem a graça do Espírito Santo. É o Espírito Santo, pois, que
move o Papa a estender sobre o orbe terrestre inteiro, sua ação paternal. É o
Espírito Santo que trabalhando misteriosamente no íntimo de cada uma das pessoas
beneficiadas pela ação do Pontífice - católicos, protestantes, cismáticos,
judeus, nazistas, comunistas, ateus - desperta em todos um sentimento de
gratidão filial que move os bons a um ardor maior, os infiéis a uma simpatia
cheia de esperanças para a Igreja de Cristo, e os inimigos a um sentimento de
maior brandura para com o Catolicismo. E, reciprocamente, no mundo inteiro, na
Austrália como na Irlanda, em Nova York como em Montevidéu, no Amazonas como no
arroio Chuy, o Espírito Santo move os Bispos a
protestarem contra a situação do Soberano Pontífice, e os fiéis a se associarem
calorosamente neste protesto, a seus legítimos Pastores. A efusão de amor
sobrenatural é, pois, recíproca no grande e místico corpo da Igreja. Este amor
une verdadeiramente na Jerusalém nova que, segundo a profecia bíblica é a
Igreja, todos os povos da terra, filialmente
solidários com o Pai comum, com aquele que com tanta razão Santa Catarina de Siena chama "o doce
Cristo na terra", isto é o Sucessor de São Pedro.
* * *
Ubi Petrus,
ibi Ecclesia - onde está São Pedro, aí está a Igreja. De tal maneira a
Igreja Católica está vinculada à Cátedra de São Pedro, que onde não há a
aprovação do Papa não há Catolicismo. O verdadeiro fiel sabe que o Papa resume
e compendia em si toda a Igreja Católica, e isto de modo tão real e
indissolúvel que, se por absurdo todos os Bispos da terra, todos os sacerdotes,
todos os fiéis abandonassem o Sumo Pontífice, ainda assim os verdadeiros católicos se reuniriam em
torno dele. Porque tudo quanto há na Igreja de santidade, de autoridade, de
virtude sobrenatural, tudo isto, mas absolutamente tudo sem exceção, nem
condição, nem restrição está subordinado, condicionado, dependente da união à Cátedra
de São Pedro. As instituições mais sagradas, as obras mais veneráveis, as
tradições mais santas, as pessoas mais conspícuas, tudo enfim que mais genuína
e altamente possa exprimir o Catolicismo e ornar a Igreja de Deus, tudo isto se
torna nulo, maldito, estéril, digno do fogo eterno, e da ira de Deus, se
separado do Romano Pontífice. Conhecemos a parábola da videira e dos sarmentos.
Nessa parábola a videira é Nosso Senhor, os sarmentos são os fiéis. Mas como
Nosso Senhor se ligou de modo indissolúvel à Cátedra Romana, pode-se dizer com
toda a segurança que a parábola seria verdadeira entendendo-se a videira como a
Santa Sé, e os sarmentos como as várias dioceses, paróquias, ordens religiosas,
instituições particulares e famílias, povos e pessoas que constituem a Igreja e
a Cristandade. Isto tudo só será verdadeiramente fecundo na medida em que
estiver em íntima, calorosa, incondicional união com a Cátedra de São Pedro.
"Incondicional", dissemos, e com razão.
Em moral, não há incondicionalismos legítimos. Tudo está subordinado à grande e
essencial condição de servir a Deus. Mas uma vez que o Santo Padre é infalível,
a união a seu infalível magistério pode ser incondicional.
A simples hipótese de um erro no magistério
infalível já é uma heresia. Podemos ser incondicionais no apoio do que é
infalível. Sim, estamos incondicionalmente com o Sumo Pontífice.
Por isto, é sinal e condição de vigor espiritual
uma extrema susceptibilidade, uma vibratilidade delicadíssima e vivaz dos fiéis
por tudo quanto diga respeito à segurança, glória e tranqüilidade do Romano
Pontificado. Depois do amor a Deus, é este o mais alto dos amores que a
Religião nos ensina. Um e outro amor se confundem até. Quando Santa Joana D’Arc foi interrogada por
seus perseguidores que a queriam matar, e que para isto procuravam fazê-la cair
em algum erro teológico por meio de perguntas capciosas, a um de seus
interrogadores ela respondeu: "Quanto a Jesus Cristo e à Igreja, para mim
são uma só coisa". Magnífica proclamação do Corpo Místico de Cristo,
partida da sábia ignorância da pequena pastora de Domremy.
E nós podemos dizer: E para nós, entre o Papa e Jesus Cristo não há
diferença". Tudo que diga respeito ao Papa diz respeito direta, íntima,
indissoluvelmente, a Jesus Cristo.
* * *
É preciso bem lembrar tudo isto, para tornar claro
que as manifestações da opinião católica - e sobretudo as orações - em favor do
Santo Padre devem continuar vibrantes e ininterruptas. Não se diga que, sendo
todos nós católicos, é evidente que estamos com o Papa e que não é necessário
que o manifestemos. Os sentimentos muito profundos criam uma verdadeira
necessidade psicológica de expansão. Se amamos nossos pais, temos necessidade
de lho dizer a todo instante, e especialmente quando estão em risco ou perigo.
Os filhos solícitos da Santa Sé devem dirigir todos ao Sumo Pontífice suas
calorosas e veementes manifestações de solidariedade neste momento. E, para
isto, os meios são muito simples. Existe no Brasil um elo de ouro que nos liga
ao Pontífice Romano. É o Núncio Apostólico, delegado pela paternal solicitude
da Santa Sé, junto a nosso país, para tornar bem constante, bem viva, bem
intensa a manifestação dessa solicitude do povo brasileiro. Por toda a parte os
Exmos. Revmos. Srs. Bispos
se estão dirigindo à Santa Sé para lhe atestar a solidariedade filial nesse
transe doloroso. Devemos seguir o exemplo de nossos Pastores, e, não podendo
telegrafar à Europa, devemos, às centenas, aos milhares, às centenas de
milhares telegrafar à Nunciatura Apostólica, exprimindo ao ínclito
representante do Santo Padre todos os sentimentos da opinião católica
brasileira nessa emergência dolorosa em que se encontra no momento. A nosso
ver, o setor de Ação Católica, a associação religiosa que não tiver telegrafado
à Nunciatura Apostólica não pode estar contente consigo mesma. Há um dever
inadiável que ela tem de cumprir o quanto antes. Quando algum dia estas
mensagens chegarem até os pés do Soberano Pontífice, ele verá que São Paulo foi nesses dias uma
só alma e um só coração em torno dele. O Pontífice sorrirá certamente de
complacência e ternura e nos abençoará. Esse sorriso e essa bênção serão o
próprio sorriso, a própria bênção de Jesus.