Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Neo-paganismo

 

 

 

 

 

Legionário, N° 574, 8 de agosto de 1943

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A Ação Católica e as missões foram, indiscutivelmente, as duas grandes preocupações do pontificado de Pio XI. A respeito destes dois temas de tão grande importância para os católicos do mundo inteiro, o “Legionário” tem hoje mais uma palavra que dizer. Alvissareira quanto à Ação Católica – comentamos o assunto na seção 7 Dias em Revista – ela é de apreensão para as missões. Não somos festeiros, e, por isto, daremos sempre aos assuntos que inspiram cuidado maior lugar do que aos que causam júbilo. A Igreja é militante: por isto a redação dos bonitos boletins de vitória deve causar aos católicos muito menos preocupação do que a análise dos movimentos e manobras do inimigo. Em matéria de boletins de vitória, contentar-nos-emos com o do dia do Juízo Final. Por ora, tratemos mais de vencer do que de comentar as vitórias obtidas. E, por isto, consagramos nosso artigo de fundo, não a um belo triunfo da Ação Católica, mas a uma nova investida do neo-paganismo contemporâneo contra as missões.

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Já temos acentuado em vários artigos que a gentilidade pagã que vive fora da luz do Evangelho e da civilização católica, no Oriente e sobretudo no Extremo-Oriente, está cada vez mais pronunciadamente mudando de atitude perante os povos ocidentais de civilização cristã. Há vinte anos atrás, os cultos pagãos do Oriente pareciam afetados por uma irremediável ancianidade. Viviam, apenas da tradição, ou melhor da rotina. A ignorância popular mantinha em torno deles vastas massas de fiéis. Mas todos os dias a intelectualidade mais se distanciava de tais cultos, e a própria atitude das massas fazia prenunciar com toda a clareza o dia em que, elas também, se destacariam de seus velhos ídolos para abraçar definitivamente a Cruz do Redentor. Os cultos pagãos eram envergonhados. Os que os professavam sentiam aquela vaga confusão que experimentam os adolescentes surpreendidos quando ainda brincam às escondidas com seus soldadinhos de chumbo. Eles mesmos sentem declinar dentro de si o atrativo de tais folguedos. Sabem que a idade destas coisas já passou. É para atender apenas a inclinações bruxuleantes de um estado de coisas que já passou que às vezes brincam um pouco. Com isto, sabem que voltam para um passado morto. Eles mesmos sabem que amanhã nada mais disto restará em seus corações. É assim que há vinte anos atrás o Oriente tratava seus velhos ídolos. Pode-se imaginar com que facilidade este estado de coisas favorecia a expansão missionária. Hoje, este estado de espírito passou. E as missões estão contando com dificuldades crescentes.

Com efeito, o vento gélido de nacionalismo pagão que soprou sobre a Europa totalitária estendeu-se até o Oriente. Se a adoração do solstício, ou de velhos deuses germânicos de eras passadas podia reviver na Alemanha, por que se envergonhariam os japoneses, os chineses, os hindus, os árabes, de suas antigas crenças? Daí uma revivescência do paganismo em todo o Oriente, um paganismo insolente, agressivo, xenófobo e com ares racistas, que determinou para as missões na Índia, na China e no Japão insuperáveis dificuldades, de que em artigos anteriores já temos falado. [...] A desunião do Islã foi uma das grandes causas de sua decadência. A reunião dos Estados Árabes será evidentemente a constituição de um outro vasto bloco político e ideológico oriental anti-católico, que cobrirá desde Tânger até as Índias uma enorme faixa de terra, novamente agrupada em torno do Islã.

Neste sentido, uma notícia da Reuters chega a informar que “a futura Federação dos Estados Árabes no Oriente Próximo constitui matéria de entendimentos privados em Alexandria entre o ministro egípcio Nahas Pachá e o general Nusisaid, do Iraque. Diz-se que, se as conversações tiverem êxito, uma conferência árabe poderá realizar-se no Cairo no próximo inverno. Os países que podem eventualmente participar da federação são o Egito, a Síria, Iraque, Líbano, Transjordânia e Arábia”. Evidentemente, por prudência, não se mencionam as imensas populações muçulmanas da Índia, que, entretanto, tenderão para esta confederação. É este mais um bloco poderoso que se cria, impermeável, ou quase tal, à penetração católica no Oriente.

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No momento em que tantos problemas assediam o Santo Padre, é certo que sua vigilância pastoral não perderá de vista mais este grave perigo. Nossa obrigação não consiste em desanimar, mas em lutar e rezar. Lutar com o Papa e rezar pelo Papa.

Neste mês do Coração Imaculado de Maria, que é o modelo perfeito de todos os corações católicos, e o canal de todas as nossas preces, supliquemos ardentemente à Mãe do Céu que tenha pena da humanidade, e, para a glória e exaltação da Santa Igreja, assista continuamente o Sumo Pontífice, auxiliando-o a vencer as dificuldades tão críticas e tão numerosas que a cada momento toldam seus horizontes.


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