Legionário, N.º 571, 18 de julho de 1943

O NOVO ARCEBISPO DO RIO DE JANEIRO

A notícia de que a Santa Sé acaba de nomear o novo Arcebispo do Rio de Janeiro foi acolhida em todo o país com o maior júbilo. Com efeito, sabemos todos quais as gravíssimas responsabilidades que pesam sobre os ombros do Antístite daquela Capital. Pela própria natureza das coisas, o Arcebispo do Rio de Janeiro ocupa, no Episcopado nacional, uma situação relevantíssima, e tem em mãos todos os assuntos que mais de perto se relacionam com os destinos espirituais do país. Esta situação é ainda acentuada pelo fato de terem sido Cardeais os dois últimos Arcebispos do Rio, sendo que tudo leva a crer que a Santa Sé conferirá a mesma honra ao atual ocupante daquele sólio. Por tudo isto, o Arcebispo do Rio de Janeiro ocupa um lugar ímpar no respeito e na afeição de todos os brasileiros, e a expectativa ao mesmo tempo curiosa e afetuosa que se estabeleceu em torno do delicado problema do preenchimento da vaga aberta com o falecimento do Cardeal Dom Sebastião Leme tinha realmente chegado ao seu auge, quando o telégrafo nos comunicou a notícia de que o Santo Padre Pio XII transferira de Belém do Pará o Ex.mo Rev.mo Sr. D. Jaime de Barros Câmara, eleito Arcebispo do Rio de Janeiro.

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Pode-se dizer que a notícia foi acolhida com júbilo unânime. Todos sentem que o ilustre sucessor de Dom Antônio de Macedo Costa será um digno sucessor de Dom Sebastião Leme. Com efeito, em todos os círculos católicos do Brasil, o nome de D. Jaime Câmara tem sido apontado como o de um dos mais eminentes prelados de nossa Pátria, notável ao mesmo tempo por seus dotes de inteligência e coração, bem como por suas notáveis qualidades de homem de governo e direção. Em uma palavra, uma figura típica de bispo completo.

Por este motivo, já o nome de S. Ex.a Rev.ma vinha sendo insistentemente mencionado entre os mais prováveis sucessores de Dom Sebastião Leme. É certo esses boatos e versões nenhuma influência têm sobre a escolha de um prelado, assunto que, como é óbvio, a Santa Sé reserva ciosamente para si. Entretanto a insistência com que o nome do preclaro Arcebispo do Pará vinha sendo mencionado, exprime bem o alto grau de respeito, de confiança, de admiração em que o tem o nosso público. E explica o intenso júbilo que sua nomeação causou.

Dom Jaime Câmara tem todos os predicados de um grande bispo. De porte nobre, semblante inteligente e varonil, por sua presença impõe imediatamente o maior respeito. Homem de estudos, é autor de várias obras entre as quais se destaca uma História Eclesiástica citada com freqüência. Com largo tirocínio pastoral, ocupou sucessivamente os cargos de Pároco, bispo e arcebispo, tendo exercido seu ministério tanto no sul quanto no norte do país, e conhecendo portanto não só os problemas e dificuldades inerentes a cada situação, como ainda as peculiaridades de que se revestem em nosso tão vasto território. Em todos os lugares por que tem passado, a ação de Sua Ex.a Rev.ma deixa recordação indelével. Dotado de grande firmeza de princípios, tem se mostrado sempre timoneiro esclarecido e seguro, pastor vigilantíssimo e pugnaz, em cujo coração há sempre, entretanto, uma ternura especial para todos aqueles que sofrem e por isto se recomendam a uma especial solicitude da Santa Igreja.

Todos estes títulos inspiram a antecipada certeza que o olhar arguto do Santo Padre Pio XII encontrou um homem providencial para suceder ao grande Cardeal Leme.

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E já que falamos do Cardeal Dom Sebastião Leme, não poderíamos deixar de encerrar estas rápidas linhas sem uma palavra de homenagem e de saudade à sua inolvidável memória.

No momento em que com tantas e tão fundadas esperanças se abre um novo capítulo na História Eclesiástica do Rio de Janeiro, todos os que conhecemos o extraordinário desvelo com que o Cardeal Leme presidia os destinos religiosos de sua Arquidiocese não poderíamos deixar de ter um pensamento comovido para com o saudoso Cardeal. E, invencivelmente, nos vem ao espírito a impressão de que, em parte, é às orações do saudoso Cardeal que se deve a nomeação de um sucessor tão conforme a suas melhores e mais calorosas intenções. Do alto do céu, Dom Sebastião Leme terá conseguido para o Rio de Janeiro e para o Brasil esta grande graça que foi a nomeação de Dom Jaime de Barros Câmara para lhe suceder.

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Este artigo não se poderia encerrar sem que mencionássemos mais um nome. É o do Monsenhor Rosalvo da Costa Rego. O ilustre vigário Capitular do Rio de Janeiro, uma das mais conspícuas figuras de nosso clero, vigário geral, durante largos anos, do Cardeal Leme, teve de enfrentar os mais delicados problemas durante a vacância da sede, e o fez com um acerto e um brilho verdadeiramente notáveis. De modo muito particular, devemos assinalar como serviço prestado ao Brasil inteiro, os belos editais que baixou sobre a questão social e a doutrina católica, bem como sobre a oração pública e privada, e mais recentemente sobre a última Encíclica do Santo Padre Pio XII sobre o Corpo Místico de Cristo. É este o documento que publicamos em nossa edição de hoje.

O nome do Monsenhor Rosalvo da Costa Rego merece, pois, um lugar mais destacado do que nunca no reconhecimento e admiração dos católicos brasileiros.