Legionário, N.º 537, 22 de novembro de 1942

Encerrando uma batalha

O telegrama do Sr. Ministro Marcondes Filho, que publicamos na 1ª página, causou nos meios católicos o mais justificável desafogo. Com efeito, a indissolubilidade do vínculo conjugal é um destes assuntos em cuja defesa a opinião católica do país está disposta a empenhar os recursos dos seus melhores contigentes de campanha, e as melhores energias de sua combatividade.

Não há no Brasil um só católico, digno deste nome, que não esteja disposto a fazer da questão do divórcio uma verdadeira Verdun espiritual em que se atiram todas as forças, se jogam todos os triunfos e se desenvolvem as mais desesperadas resistências. Para dizer tudo numa só palavra, bastará afirmar que todos os católicos estão dispostos a se empenhar tão a fundo as suas forças na luta em prol da indissolubilidade, que, se se preparasse um decreto de fechamento de todas as igrejas no Brasil, não poderíamos fazer mais nem melhor do que estamos dispostos a fazer em prol da indissolubilidade.

A afirmação poderá causar estranheza e, no entanto, é perfeitamente justa. O divórcio representa um golpe tão profundo nos princípios mais fundamentais da civilização católica, afasta de Deus tantos milhares de almas, deforma tão a fundo toda estrutura social que não há meio de luta honrada que não se deva mobilizar contra ele. E esta verdade é tão profunda que se a própria liberdade do culto católico estivesse ameaçada não poderíamos lutar melhor.

Se um viandante fosse assaltado por criminosos que lhe quisessem arrancar os olhos, reagiria com uma fúria não menor do que a empregaria para defesa de sua própria existência. Não creio que haja comparação mais própria para exprimir a inabalável resolução de todos os católicos de lutar à outrance contra o divórcio.

Se não é a própria existência jurídica da Igreja que se pretende golpear, é algo de tão precioso quanto a menina dos olhos que se lhe procura roubar, e por isso ela se vê na contingência de lutar com a maior energia de suas forças contra este terrível ataque.

É fácil imaginar-se, pois, a tensão de ânimos e apreensão de espírito, a geral perturbação que reinaram no seio da opinião católica à vista do projeto de lei em tão má hora debatido na Ordem dos Advogados e na Imprensa.

A segurança de que a decretação do divórcio está fora de cogitações do governo eqüivale, na pessoa do Sr. Ministro da Justiça, à afirmação de que toda esta campanha não impressiona o governo. Com isto, o assunto parece encerrado. A inutilidade de esforços divorcistas se patenteiam de modo irrecusável, e a controvérsia perde toda sua atualidade.

Estamos, pois, com os louros da vitória.

A pujança da opinião católica quebrou o ímpeto dos adversários que não lograram eco na massa da população, tendo os seus esforços fracassados também junto às autoridades civis.

Por isto, podemos permitir-nos um luxo que fica bem a vencedores, e que da parte de vencidos poderia parecer pusilanimidade. Os Srs. Plinio Barreto e Abner Mourão já acentuaram a inoportunidade flagrante dos debates jornalísticos sobre o divórcio. É uma loucura dividir-se a opinião precisamente no momento em que mais se necessita de união.

Se os divorcistas cometeram o erro de levantar esta polêmica, forçando-nos a uma inevitável e vigorosa reação, queremos para nós além dos louros da vitória, que já conquistamos, a honra de encerrar o debate logo que possível.

Calar-nos-emos sobre o assunto, certos de que também nossos adversários o farão. Depois de tudo quanto foi dito e sobretudo depois do pronunciamento do governo federal por meio de seu Ministro Sr. Marcondes Filho, a questão fica morta. A voz da polêmica deve cessar, e nós nos devemos limitar a guardar com respeito os ensinamentos serenos e autorizados que porventura, sobre o assunto, a Hierarquia Eclesiástica nos queira dar, com sua autoridade que transcende qualquer polêmica ou discussão.

* * *

Seriamos injustos se ao terminarmos este artigo que enuncia o propósito dos católicos de porem um ponto final na questão, não reservássemos uma palavra especial de apoio ao grande marechal desta vitória, que foi o Sr. Prof. Alexandre Corrêa.

Há pessoas que vivem sob o peso de um temor crônico até da sombra. Assustam-nas todas as coisas escuras, ou até simplesmente as de lusco-fusco.

E por isto são incapazes de compreender as atitudes intensas, enérgicas e varonis. A posição assumida pelo Sr. Prof. Alexandre Corrêa serviu-lhes de magnífica lição. Não é com sorrisos nem com melúrias que se barra o caminho às campanhas articuladas e insidiosas como a do divórcio. O vigor da atitude do Sr. Prof. Alexandre Corrêa constitui um eloqüente prenúncio do que seria a reação dos quarenta milhões de católicos brasileiros contra o triunfo do divorcismo.

E a energia do Sr. Alexandre Corrêa contribuiu, ao menos tanto quanto a sorte de seus argumentos, para estimular todas as resistências e nos conduzir à vitória.

Pode-se afirmar que os grandes louros desta batalha pertencem a este eminente campeão do Catolicismo, ao qual o LEGIONÁRIO presta aqui a mais afetuosa homenagem de sua solidariedade e admiração.