Tendo a Junta Arquidiocesana da Ação Católica
telegrafado ao Eminentíssimo Senhor Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro
apresentando-lhe os melhores votos de pronto restabelecimento, recebeu de Sua
Eminência a seguinte resposta:
“À querida Ação Católica e seu digno Presidente com
muitas bênçãos agradeço votos e preces”. Cardeal Arcebispo.
Supérfluo será que [observemos] a nossos leitores
que precioso estímulo constitui para a A.C. de São Paulo esta expressiva
manifestação do paternal agrado de nosso grande Cardeal.
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Começam a aparecer na imprensa diária, com
crescente insistência, notícias referentes à simpatia ou cumplicidade de
Sacerdotes católicos com as potências do “eixo” e a infiltração totalitária no
Brasil.
Como este assunto é de capital importância para
nós, católicos, é indispensável que o LEGIONÁRIO diga, sobre o assunto, uma
palavra de orientação. Fazendo-o, não nos move qualquer intuito de polêmica.
Dizemos mais: recusaremos pertinazmente qualquer polêmica sobre o assunto
qualquer que seja o aspecto que possa tomar, ou o terreno em que seja situada.
A honra do Clero e o decoro da Igreja exigem apenas algumas afirmações sóbrias
e serenas quanto a este ponto e não comportará sobre o mesmo nem discussões
públicas nem qualquer forma de sensacionalismo
jornalístico.
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Mais do que ninguém, lutou o LEGIONÁRIO contra o
perigo totalitário. Quando quase todos pareciam dormir, já nossa voz se alteava
para proclamar os riscos que a Igreja e a Pátria corriam com a expansão da
influência nazi-fascista. A muitos olhos, tão
distantes parecia o perigo que não poucos nos acusassem de visionários e monomaníacos. E, a despeito de tudo, seguindo o preceito da
Escritura “clamamos sem cessar, erguendo nossa voz em tempo oportuno e
importuno”, denunciando sobretudo a infiltração insidiosa da “quinta coluna”
nos países ameaçados pelo “eixo”, inclusive no Brasil.
Hoje, que o perigo se torna palpitante e exacerba a
legítima sensibilidade patriótica de tantos espíritos bem intencionados, é para
o LEGIONÁRIO, durante tanto tempo acusado de intolerante e irratibilidade, uma
verdadeira recompensa do Céu o poder, com toda a insuspeição,
dizer sobre o assunto uma palavra de orientação serena e ponderada.
* * *
Há um primeiro fato que todos devem reconhecer.
Dada a escassez do Clero nacional entre nós, para [cá] atraíram nossas
Autoridades Eclesiásticas numerosos Sacerdotes estrangeiros que, renunciando
por vezes a vantagens pessoais mais legítimas, vieram cooperar para a
manutenção de nosso país na Religião de Nosso Senhor Jesus Cristo, e fecundar
com seus suores esta parte da vinha do Senhor.
Destes Sacerdotes, muitos se entregaram à faina
árdua das missões com um êxito de que a recente Exposição Missionária foi um atestado
evidente, e com isto perpetuaram a tradição desses outros Sacerdotes também
“estrangeiros” como Anchieta, por exemplo, que são figuras das mais gloriosas de nossa
História. Outros ocupam na direção de nossa vida religiosa situações salientes,
com todas as bênçãos da Santa Sé e aprovação do Episcopado Nacional.
Supor que a grande maioria desses Sacerdotes seja a
tal ponto composta de pessoas indignas, que constitua perigo para o país, é
afirmar de duas uma: ou que a alta direção da Santa Igreja tem os olhos
fechados à realidade, ou que pactua com os propósitos censuráveis do Clero
Estrangeiro.
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Na realidade, nem uma nem outra coisa se dá.
Interpretando o sentimento unânime do laicato católico de S. Paulo, pode o
LEGIONÁRIO afirmar que o Clero estrangeiro aqui vive cercado do respeito, da
gratidão e do afeto de todos os brasileiros, que nele vêem uma falange de
autênticos beneméritos da Igreja e da Pátria.
E, de tal maneira a opinião católica reconhece a
importância do papel do Clero estrangeiro entre nós, que considera que qualquer
coisa que se empreenda contra ele afetará de modo substancial os interesses e
princípios do Catolicismo.
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Evidentemente, não implica isto em afirmar que
possamos por a mão no fogo pela unanimidade absoluta dos Sacerdotes
estrangeiros - como aliás por qualquer pessoa, desde que ninguém está
confirmado em graça, e somos todos pecáveis - pelo que não excluímos a
possibilidade de uma vigilância em torno dos elementos que possam despertar
suspeitas merecidas.
Entretanto, o respeito devido à Santa Igreja, em
geral, e ao Clero de modo particular, exige absolutamente que qualquer trabalho
feito neste sentido se cerque de toda a discrição, de toda a reserva necessária
para salvaguardar o decoro a que tem direito os Sacerdotes estrangeiros, muitos
deles vitimas do próprio nazismo. Com efeito, atirar por meio de notícias de
jornal absolutamente inúteis e imprudentes, o descrédito sobre todo o Clero
estrangeiro pela possível culpa de alguns, é uma injustiça dolorosa e
flagrante, que não pode deixar de magoar a fundo a opinião católica. E, por
isto, entendemos que quaisquer medidas tomadas neste sentido devem ser cercadas
da máxima discrição.
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Finalmente, há outra observação a fazer. Ninguém,
no Brasil, pode exceder em patriotismo e em ardente devotamento
aos mais justos interesses do País que o Episcopado Nacional. Por isto mesmo,
podemos afirmar de modo peremptório e irretorquível
que qualquer providência referente a uma vigilância sobre figuras eventualmente
suspeitas no Clero só devem ser tomadas de acordo com nossa Hierarquia,
respeitando-se assim a confiança que se deve à Igreja Católica, e pondo em ação
recursos muito mais eficazes e menos chocantes de que uma ação puramente
policial.
De modo muito particular, não se concebe que o
Clero estrangeiro seja sujeito a medidas de exceção que não atinjam outros
estrangeiros, não-Sacerdotes. Há nisto um desrespeito
e uma injustiça flagrantes.
Estamos certos de que a evidente moderação do
procedimento que aqui sugerimos à imprensa em geral, e a todas as pessoas
justamente receosas das incursões da “quinta coluna” acalmarão apreensões e
temores que, no interesse do próprio Brasil, não podem transformar sua
vigilância em um jacobinismo que representa, em última análise, uma negação da
catolicidade da Igreja.
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RIVERA, (A.N.) - Abrindo
os trabalhos da Conferencia Regional dos Países Limítrofes com o Brasil, que
ora se realiza nesta cidade, o Ministro do Interior do Uruguai, Sr. Hector Gerona, disse estar o conclave refletindo o mais puro anseio dos
países da América pelo extermínio da “quinta coluna”. Acrescentou esperar que
se encontrasse uma fórmula capaz de trazer a mais estreita colaboração entre os
países limítrofes do Brasil, a fim de que elementos clandestinos, que se vem
infiltrando pelas fronteiras, sejam controlados mediante eficaz fiscalização,
de maneira a evitar-se o trânsito de espiões sabotadores,
bem como toda a atividade contrária aos governos que neste continente procuram
solicitar uma política de solidariedade de Pan-Americanismo.
Concluiu fazendo vibrante saudação ao Brasil, sob aplausos da assistência.