Legionário, N.º 520, 30 de agosto de 1942

GUERRA!

Os motivos que nos levaram à guerra são por demais justos e notórios para que o LEGIONÁRIO se sinta no dever de acrescentar uma só palavra a quanto, sobre este assunto, foi publicado na imprensa diária.

Basta-nos ponderar, aqui, que a unanimidade da opinião pública se pronunciou de modo tão peremptório sobre o assunto, através de todos os representantes dos vários matizes de pensamento aqui existentes, que verdadeiramente se pode dizer que a atitude das autoridades federais teve, neste sentido, o apoio das vozes procedentes de todos os quadrantes ideológicos do país.

Os católicos não constituem apenas uma parte integrante do Brasil: eles são o próprio Brasil. Assim, inútil é dizer que neste momento, mais do que ninguém, eles são obrigados a um espírito de abnegação e de patriotismo verdadeiramente modelar. O Brasil está em guerra: é absolutamente preciso que ele a vença.

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Entretanto não basta lutar. É preciso viver a luta em plena identificação com todos os princípios que lhe dão seu verdadeiro sentido. O LEGIONÁRIO vem insistindo, desde o início da presente conflagração, no sentido de que a guerra contemporânea é ideologista, e que seu desfecho não pode ser indiferente à Igreja. Com efeito, de um e outro lado das trincheiras, as ideologias são diversas. Sobre cada uma delas, a Igreja tem uma palavra que dizer. A vitória de qualquer delas afetará num ou noutro sentido as atividades da Igreja. E, implicitamente, os católicos não podem ser indiferentes, como tais, ao desenlace dessa luta titânica.

Já agora, entretanto, o problema assumiu parra nós um significado especialmente importante. Com efeito, tendo o Brasil entrado em guerra para salvaguardar sua independência, ou sairá dela vencedor, ou vencido. Na hipótese de uma vitória, não há quem não veja que a integridade de nosso território não será o único bem a ser preservado, mas que, acima ainda disto, se conservará a integridade da alma nacional, que só continuará viva enquanto viver da seiva sobrenatural da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. Pelo contrário, uma derrota significará infalivelmente, além do retaliamento do território brasileiro, a implantação da cruz suástica nesta terra santificada desde o nascedouro pela Missa celebrada por Frei Henrique de Coimbra. Para nós, pois, a luta é de vida e morte, não apenas em um sentido material e terreno, mas em um sentido sobrenatural e eterno, que transcende a qualquer consideração de caracter meramente temporal.

Há séculos, vem o Brasil lutando contra os fatores de sua desagregação espiritual. Lutaram os brasileiros do Brasil colônia contra os protestantes que vinham nas armadas de Vilegagnon e Maurício de Nassau. Lutaram eles contra o paganismo dos índios e dos negros. Lutaram contra [...] as tendências corruptoras da civilização moderna, contra a infiltração protestante e a fermentação espírita. E sempre, em cada uma dessas lutas, preservou-se com a fidelidade do Brasil à Igreja, a subsistência da própria alma brasileira.

Assim,  pois, o fim da luta está bem claramente definido: lutamos pela Igreja e pela Pátria; lutamos por Deus e pelo Brasil. E, enquanto o Brasil não estiver livre de qualquer investida, venha de onde vier, que vise arrancá-lo à Igreja e a si mesmo, não podemos e não devemos deixar de lutar.

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O LEGIONÁRIO se sente na obrigação de acentuar pois, e muito fortemente, que nossas tarefas de apostolado não devem cessar com o esforço bélico. Pelo contrário, devem desenvolver-se paralelamente a este.

Com efeito, nossa luta não tem um significado meramente negativo. Não lutamos para matar: lutamos para viver. E para que vivamos precisamos continuar a luta acesa contra tudo quanto, no Brasil, possa significar descristianização.

O Brasil terá a vitória se combater com a cruz na mão. É “com este sinal que venceremos”. Cada soldado, cada cidadão, cada pessoa envolvida em serviços de defesa passiva deve lembrar-se que em guerra contra o totalitarismo, o Brasil não se bate contra seu único adversário, mas contra o mais perigoso deles, e que o fim último da luta é a independência espiritual e política do Brasil. Pugnemos em todos os terrenos por um Brasil católico, e empreendamos uma luta próxima ou remotamente dirigida contra tudo quanto possa tornar anti-católico o Brasil.