Os motivos que nos levaram à guerra são por demais
justos e notórios para que o LEGIONÁRIO se sinta no dever de acrescentar uma só
palavra a quanto, sobre este assunto, foi publicado na imprensa diária.
Basta-nos ponderar, aqui, que a unanimidade da
opinião pública se pronunciou de modo tão peremptório sobre o assunto, através
de todos os representantes dos vários matizes de pensamento aqui existentes,
que verdadeiramente se pode dizer que a atitude das autoridades federais teve,
neste sentido, o apoio das vozes procedentes de todos os quadrantes ideológicos
do país.
Os católicos não constituem apenas uma parte
integrante do Brasil: eles são o próprio Brasil. Assim, inútil é dizer que
neste momento, mais do que ninguém, eles são obrigados a um espírito de
abnegação e de patriotismo verdadeiramente modelar. O Brasil está em guerra: é
absolutamente preciso que ele a vença.
* * *
Entretanto não basta lutar. É preciso viver a luta
em plena identificação com todos os princípios que lhe dão seu verdadeiro
sentido. O LEGIONÁRIO vem insistindo, desde o início da presente conflagração,
no sentido de que a guerra contemporânea é ideologista,
e que seu desfecho não pode ser indiferente à Igreja. Com efeito, de um e outro
lado das trincheiras, as ideologias são diversas. Sobre cada uma delas, a
Igreja tem uma palavra que dizer. A vitória de qualquer delas afetará num ou
noutro sentido as atividades da Igreja. E, implicitamente, os católicos não
podem ser indiferentes, como tais, ao desenlace dessa luta titânica.
Já agora, entretanto, o problema assumiu parra nós
um significado especialmente importante. Com efeito, tendo o Brasil entrado em
guerra para salvaguardar sua independência, ou sairá dela vencedor, ou vencido.
Na hipótese de uma vitória, não há quem não veja que a integridade de nosso
território não será o único bem a ser preservado, mas que, acima ainda disto,
se conservará a integridade da alma nacional, que só continuará viva enquanto
viver da seiva sobrenatural da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. Pelo
contrário, uma derrota significará infalivelmente, além do retaliamento
do território brasileiro, a implantação da cruz suástica nesta terra
santificada desde o nascedouro pela Missa celebrada por Frei Henrique de
Coimbra. Para nós, pois, a luta é de vida e morte, não apenas em
um sentido material e terreno, mas em um sentido sobrenatural e eterno, que
transcende a qualquer consideração de caracter meramente temporal.
Há séculos, vem o Brasil lutando contra os fatores
de sua desagregação espiritual. Lutaram os brasileiros do Brasil colônia contra
os protestantes que vinham nas armadas de Vilegagnon e Maurício de Nassau. Lutaram eles contra o paganismo dos índios e dos negros.
Lutaram contra [...] as tendências corruptoras da civilização moderna,
contra a infiltração protestante e a fermentação espírita. E sempre, em cada
uma dessas lutas, preservou-se com a fidelidade do Brasil à Igreja, a
subsistência da própria alma brasileira.
Assim, pois,
o fim da luta está bem claramente definido: lutamos pela Igreja e pela Pátria;
lutamos por Deus e pelo Brasil. E, enquanto o Brasil não estiver livre de
qualquer investida, venha de onde vier, que vise arrancá-lo à Igreja e a si
mesmo, não podemos e não devemos deixar de lutar.
* * *
O LEGIONÁRIO se sente na obrigação de acentuar
pois, e muito fortemente, que nossas tarefas de apostolado não devem cessar com
o esforço bélico. Pelo contrário, devem desenvolver-se paralelamente a este.
Com efeito, nossa luta não tem um significado
meramente negativo. Não lutamos para matar: lutamos para viver. E para que
vivamos precisamos continuar a luta acesa contra tudo quanto, no Brasil, possa
significar descristianização.
O Brasil terá a vitória se combater com a cruz na
mão. É “com este sinal que venceremos”. Cada soldado, cada cidadão, cada pessoa
envolvida em serviços de defesa passiva deve lembrar-se que em guerra contra o
totalitarismo, o Brasil não se bate contra seu único adversário, mas contra o
mais perigoso deles, e que o fim último da luta é a independência espiritual e
política do Brasil. Pugnemos em todos os terrenos por um Brasil católico, e
empreendamos uma luta próxima ou remotamente dirigida contra tudo quanto possa
tornar anti-católico o Brasil.