Não podemos passar sem um atento comentário aos
discursos pronunciados, na magnífica noite de triunfo mariano, de domingo p.p.,
por S. Ex.a Rev.ma, o Sr. Arcebispo Metropolitano e pelo Ex.mo. Sr. Ministro da
Agricultura. Tanto em um quanto em outro encontramos considerações da mais alta
atualidade que é de nossa obrigação por em relevo.
* * *
Empolgado certamente pela magnificência sem
precedentes com que o povo católico de São Paulo prestava homenagem a Nossa
Senhora Aparecida na esplêndida
glorificação que lhe preparou no vale do Anhangabaú,
o Ex.mo e Rev.mo Sr. Arcebispo Metropolitano pronunciou de improviso uma
importantíssima alocução, que impôs a São Paulo graves responsabilidades.
Com efeito, as palavras do Ex.mo Sr. D. José Gaspar
de Afonseca e Silva constituíram um
verdadeiro voto de confiança no entusiasmo, na generosidade e no fervor do povo
paulista, e a este cumpre, agora, corresponder-lhe com exatidão e brio.
Enumerando as diversas dificuldades que circundam a
realização do próximo Congresso Eucarístico, é de se notar que o Sr. Arcebispo
não procurou contestá-las, nem contrabalançar seu efeito pela perspectiva de
modificações que venha a suprimi-las. Não, S. Ex.a Rev.ma quis pelo contrário
deixar bem claro que o Congresso exigirá eventualmente, de nossa parte,
sacrifícios, manifestando ao mesmo tempo sua inabalável confiança na jovial
energia com que os saberemos vencer.
Estamos, pois, na obrigação de demonstrar a todo o
Brasil que, com efeito, nossa dedicação não é menor do que a confiança que nela
deposita a Santa Igreja.
Todas as razões nos devem levar a tal.
Em primeiro lugar, cumpre reconhecer que o que de
nós se pedirá é só o inevitável. Tudo quanto poderá ser feito no sentido de
facilitar o acesso ao Congresso, e a participação em suas sessões, foi levado a
cabo pelas Autoridades Eclesiásticas. Assim, não podemos encontrar escusas em
nosso comodismo.
Em segundo lugar, importa reconhecer que Nosso
Senhor Sacramentado merece de nós, como de todas as gerações de fiéis que nos
precederam ou que nos sucederem, o maior heroísmo. Como recusar-lhes, então os
pequenos sacrifícios que o Congresso talvez exija de nós?
Finalmente, é preciso não perdermos de vista que os
princípios e as tradições de verdadeira piedade católica pedem absolutamente
não apenas preces e esmolas, mas o tributo da expiação, para que Nosso Senhor
Sacramentado Se aplaque, ante os pecados da humanidade, nas grandes ocasiões de
sofrimento e de luta. Se Nosso Senhor permitiu, pois, que certos entraves de
caráter material venham a tornar difícil nossa participação nas sessões do
Congresso. Ele nos deu, implicitamente, uma oportunidade sem igual para
perfumarmos nossas preces com o insubstituível perfume da penitência, de tão
bom odor diante do trono de Deus.
Mas não basta que nos disponhamos a tal. Cada um de
nós deve ser um propagandista do Congresso, e essa propaganda se faz não apenas
por meio de farto material para isso preparado pela Junta Executiva, mas pela
ação individual de cada um de nós no ambiente em que vivemos a fim de criar em
relação ao Congresso um ambiente de entusiasmo sempre maior e, em relação aos
pequenos sacrifícios que ele vai exigir, o projeto cada vez mais deliberado,
mais consciente e mais sobrenaturalizado, de viver
com entusiasmo esses sacrifícios.
São Paulo se caracterizou sempre por uma fibra
particularmente rija, uma disposição especial para a luta, uma aptidão particular
para vencer obstáculos. Melhor ocasião não se poderia encontrar para por em
evidência, sobrenaturalizando-se, essas qualidades
providenciais.
* * *
Quanto à oração do Ex.mo Sr. Ministro da
Agricultura, Dr. Apolônio Sales, denotou em seu conjunto uma piedade vivaz e
desassombrada, e teve tópicos verdadeiramente magistrais.
Lamentamos que, de peça tão notável, a imprensa
diária tenha dado apenas um resumo. Com efeito, há sobretudo uma declaração de
S. Ex.a, que para nós, da Ação Católica e das organizações auxiliares,
Congregados, Filhas de Maria, Vicentinos, etc., é
verdadeiramente confortadora.
Tendo diante de si aquela imensa mole humana que se
comprimia em torno das Autoridades Eclesiásticas e Civis a fim de homenagear a
Padroeira do Brasil, o Sr. Ministro da Agricultura lembrou com muita razão que
ali estavam os membros das associações religiosas, inocente e pacífico exército
de Cristo, que entretanto possuía armas de luta e de penetração tão aguda, que
era sobretudo contra elas que investiam em todos os países dirigidos por
elementos anti-católicos, os que queriam destruir a
Igreja.
Essa lúcida observação lembra-nos ao mesmo tempo
nossa eficácia e nossa responsabilidade. Tem razão S. Ex.a: é tal a força de
falanges apostólicas convenientemente organizadas, que elas constituem um
obstáculo intransponível no caminho dos adversários da Igreja. Apoio fortíssimo
de todos os esforços favoráveis ao Catolicismo, tais associações são também o
terror, dos homens, organizações ou correntes das que lhe são contrárias. Se,
portanto, queremos dotar de vigor a Santa Igreja, organizemos fortemente nosso
movimento. Se, pelo contrário, desleixarmos tal preocupação, estaremos
franqueando o campo a nossos adversários. O papel das obras do laicato católico,
e especialissimamente da Ação Católica, é em nossos
dias verdadeiramente imenso. O que implica, em outros termos, em afirmar que é
imensa nossa responsabilidade perante a Igreja e o Brasil.
A segunda resolução que nos foi sugerida na
magnífica noite de domingo é, sem dúvida, no sentido de, no Congresso
Eucarístico, afervorarmos de tal maneira nossa piedade para com a Sagrada
Eucaristia, Nossa Senhora e o Santo Padre, que as vastas falanges católicas
sejam verdadeiros focos de luz e de calor, luz para iluminar os que estão nas
trevas, calor para aquecer os tíbios... e queimar os que quiserem atacar-nos.