Na quarta-feira p.p., publicaram os jornais mais
uma alocução do Santo Padre Pio XII. O mundo já se está habituando a admirar as produções do
Pontífice, tão notáveis por sua bela forma literária, quanto por sua unção
verdadeiramente angélica. Enquanto, de todos os lados, só se ouve falar em
luta, matança, em ódio, o Santo Padre é infatigável em empregar a linguagem do
amor, e sabe dar às suas palavras uma autoridade e um calor que estabelecem um
imenso contraste com o pacifismo oco e vazio [...], que tão freqüentemente se
encontra entre nós.
O que, entretanto, é sobretudo digno de nota, é que
o Santo Padre mantém, em sua doçura, uma invencível firmeza. Insulado, em pleno
território italiano, no meio de forças militares do “eixo”, sujeito a qualquer
momento a um ato de violência ou de simples pressão, o Santo Padre tem sabido
manter, nas circunstâncias atuais, uma linha de conduta firmíssima,
que deve causar a maior admiração.
Logo no início da guerra, manifestou-se o Sumo
Pontífice, com sobranceira energia, contra a agressão feita à Holanda, Bélgica
e Luxemburgo. Depois, a Santa Sé acentuou, por meio do “Osservatore
Romano”, que não era neutra no presente
conflito, mas simplesmente evitava de enfeudar os interesses da Santa Igreja a
pontos de vista meramente humanos e temporais. Neutra, ela não o era e não o
poderia ser. Na presente luta quando estavam empenhados de um e de outro lado
interesses e princípios que tão de perto afetavam a vida e doutrina da Igreja,
a Santa Sé não poderia ver com indiferença o desfecho da luta. Pouco depois, o
nazismo começou a alardear sua ridícula propaganda no
sentido de persuadir o mundo de que estava em vias de realizar uma cruzada
triunfante contra a Rússia soviética. E, assim, católicos ingênuos, de todos os
matizes intelectuais ou ideológicos, começaram a aplaudir o novo Godofredo de Bouillon.
Entretanto, a Santa Sé continuou firme em sua atitude inicial, e jamais deu a
esta pretensa “cruzada” a palavra de incitamento, de apoio, de estímulo que os pseudo-cruzados esperavam ansiosamente. E, cada vez que o
Papa vai falar, desilude mais uma vez esta expectativa, com uma perseverança e
uma firmeza que - nós o podemos imaginar - há de custar ao Vigário de Cristo
preocupações e angústias sem conta.
Com efeito, a Santa Sé, como todas as outra
potências que lutam contra o nazismo, há de experimentar a terrível “guerra de
nervos” de que a diplomacia do III Reich tem tirado tantos lucros. E, por isto,
bem podemos imaginar as insinuações, os pedidos, as ameaças, as manobras que, a
todo o momento, circundam o Trono de S. Pedro, a fim de arrancar ao Santo Padre
uma palavra, uma só, uma pequenina e rápida palavra de apoio ao “eixo”, ao
menos.
E, no entanto, esta palavra não veio... e não virá.
Só Deus pode saber o que, para tal resultado, o
Papa sofre, as apreensões que lhe torturam o espírito, as amarguras que lhe
invadem a cada momento a alma. Neste mês, mês em que se festeja a festa de S. Pedro,
oremos pelo Papa, ofereçamos a Deus sacrifícios e mortificações
pelo Papa, a fim de que mais fácil lhe seja o cumprimento de seu heróico dever.
* * *
Com efeito, é preciso insistir sempre sobre o
grande dever da oração. Todos sabemos, pela Fé, o valor da oração. Sabemos
todos ainda que é este o melhor modo que temos, para auxiliar a Santa Igreja em
suas múltiplas e graves necessidades. Tudo isto não obstante, continuamos a
acompanhar o curso dos acontecimentos com muito interesse, muitos comentários...
e poucas orações.
Mas, por mais importante que seja a oração, ela não
basta. É preciso que seja seguida de mortificações.
Com efeito, a penitência é indispensável para que aplaquemos a cólera divina.
As almas expiatórias são mais necessárias em nossa época do que nunca, e
infelizmente se deve reconhecer que o espírito de penitência decai dia a dia
entre nós. Quando o Papa tanto sofre por nós, soframos também por ele,
oferecendo a Deus além de nossas súplicas algum sacrifício voluntário... que
não seja dos mais leves, a fim de O ajudar a carregar a sua Cruz.
É muito melhor que procedamos assim do que como
meros observadores que, curiosos e às vezes simpáticos, assistem placidamente
ao desenrolar trágico dos acontecimentos em nossos dias.