Legionário, N.º 499, 5 de abril de 1942

Para a Glória do Ressuscitado

Tendo passado fora de São Paulo algumas semanas, a primeira impressão que tive em meu regresso foi de que se acentuou rápida e significativamente o movimento tendente a colocação dos emblemas do Congresso Eucarístico nas residências das famílias piedosas. Essa excelente iniciativa implica em uma propaganda fácil e eficaz do próximo Congresso Eucarístico e por outro lado constitui uma afirmação de Fé expressiva, que desde já começa a edificar a toda a cidade e, ampliando-se, atestará até que ponto as manifestações de que será alvo Jesus-Hóstia não partirão apenas dos lábios dos fiéis, em momentos de entusiasmo efêmero como os do Domingo de Ramos em Jerusalém, mas das profundezas do bravo e valente coração paulista.

Com efeito, o distintivo do Congresso, colocado na fachada de uma residência, significa que ali vive uma família católica; que deseja ardentemente o triunfo de Cristo-Rei, cujos membros se esforçam todos neste sentido, e que, ostentando as armas do Congresso, incita a todos os seus amigos, conhecidos, transeuntes das mais variadas condições sociais, e recursos pessoais, a que tudo mobilizem em benefício do Congresso.

Este comentário vem muito a propósito no dia da Páscoa. Com efeito, as alegrias de hoje têm uma extraordinária analogia com as do Congresso. Hoje, a Santa Igreja celebra o triunfo definitivo do Redentor sobre a morte e o pecado, e afirma solenemente que, ressuscitado, Cristo vive por todos os séculos, como cabeça mística de todos os fiéis. No IV Congresso Eucarístico, afirmar-se-á solenemente a vitória de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre o pecado e a heresia, a corrupção e as paixões humanas, e a Igreja deixará transparecer todo o seu gáudio perene pela presença adorável e real de Nosso Senhor Jesus Cristo entre nós, sob as espécies eucarísticas. Assim, não é possível pensar-se na Páscoa sem que se sinta um frêmito de entusiasmo, e um vivo surto de dedicação pelo Congresso Eucarístico Nacional.

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Dizem os autores espirituais que toda a meditação bem feita deve trazer, como conseqüência, uma resolução concreta. As considerações de ordem meramente platônica não interessam à vida espiritual. Se se contempla, é para amar mais e agir melhor. “Ai da ciência que não se transforma em amor e em ação”, disse o grande Bossuet! E nós poderíamos dizer: “Ai da meditação que não se transforma em amor, em virtude e em apostolado!”

Assim, de nada nos adiantaria que enchêssemos de santo gáudio nossos corações, que na fartura e tranqüilidade de nossos lares celebrássemos as festas da Santa Páscoa, ou na amargura de nossas lutas e de nossas necessidades abríssemos um rápido e ensolarado parêntesis no dia de hoje; de nada nos valeria isto, dizíamos, se um acréscimo de amor para com Deus não se notasse em nossos corações, e esse acréscimo não tivesse como conseqüência nosso incremento na virtude.

Ora ninguém ama a Deus sem amar a glória de Deus. A realização dessa glória é o mais vivo anseio de todas as almas verdadeiramente piedosas. “Que em todas as coisas Deus seja glorificado” é o lema debaixo do qual trabalham nas vias árduas da santificação interior e do apostolado os filhos de São Bento. “Para a maior glória de Deus”, é a divisa que serve de meta para todas as preces e todas as labutas dos filhos de Santo Inácio. Percorram-se os sistemas de espiritualidade próprios às várias Ordens, examinem-se os autores espirituais de todos os lugares e de todos os tempos, e ver-se-á que todos eles fazem da glória de Deus o alvo desinteressado e total de sua existência.

Ninguém, por outro lado, dá glória a Deus sem obedecer ao beneplácito divino. A obediência à vontade de Deus, a plena conformidade de todas as nossas idéias com a doutrina católica, de todas as nossas volições com a moral católica, de todos os nossos sentimentos com o sentire cum Ecclesia, eis a preocupação que, do berço ao túmulo, deve acompanhar toda a alma crente. E toda essa obra de infusão do espírito da Igreja em nosso espírito nos deve levar a uma prontíssima e ardorosa obediência à vontade da Autoridade Eclesiástica.

No que diz respeito ao IV Congresso Eucarístico, esses poderosos motivos coincidem. Pela voz de nosso ilustre Metropolita, a Santa Igreja mobiliza em prol do Congresso Eucarístico nossos esforços e nossa dedicação. E o zelo pela glória de Deus nos deve levar a desejar o êxito do Congresso, não só porque o deseja a Autoridade – o que já seria motivo suficiente – mas ainda porque o Congresso em si mesmo constitui uma esplêndida glorificação de Nosso Senhor.

Assim, nesse dia de Páscoa que celebramos na paz e no gáudio espiritual, façamos a santa resolução de rezar, sacrificar-nos, trabalhar, concorrer pecuniariamente, mobilizar todas as nossas relações e influência, para que o IV Congresso Eucarístico Nacional seja uma digna expressão do muito que São Paulo pode e deve fazer pela glória do Ressuscitado.