Tendo passado fora de São Paulo algumas semanas, a
primeira impressão que tive em meu regresso foi de que se acentuou rápida e
significativamente o movimento tendente a colocação dos emblemas do Congresso
Eucarístico nas residências das famílias piedosas. Essa excelente iniciativa
implica em uma propaganda fácil e eficaz do próximo Congresso Eucarístico e por
outro lado constitui uma afirmação de Fé expressiva, que desde já começa a edificar
a toda a cidade e, ampliando-se, atestará até que ponto as manifestações de que
será alvo Jesus-Hóstia não partirão apenas dos lábios
dos fiéis, em momentos de entusiasmo efêmero como os do Domingo de Ramos em
Jerusalém, mas das profundezas do bravo e valente coração paulista.
Com efeito, o distintivo do Congresso, colocado na
fachada de uma residência, significa que ali vive uma família católica; que
deseja ardentemente o triunfo de Cristo-Rei, cujos
membros se esforçam todos neste sentido, e que, ostentando as armas do
Congresso, incita a todos os seus amigos, conhecidos, transeuntes das mais
variadas condições sociais, e recursos pessoais, a que tudo mobilizem em
benefício do Congresso.
Este comentário vem muito a propósito no dia da
Páscoa. Com efeito, as alegrias de hoje têm uma extraordinária analogia com as
do Congresso. Hoje, a Santa Igreja celebra o triunfo definitivo do Redentor
sobre a morte e o pecado, e afirma solenemente que, ressuscitado, Cristo vive
por todos os séculos, como cabeça mística de todos os fiéis. No IV Congresso
Eucarístico, afirmar-se-á solenemente a vitória de Nosso Senhor Jesus Cristo
sobre o pecado e a heresia, a corrupção e as paixões humanas, e a Igreja
deixará transparecer todo o seu gáudio perene pela presença adorável e real de
Nosso Senhor Jesus Cristo entre nós, sob as espécies eucarísticas. Assim, não é
possível pensar-se na Páscoa sem que se sinta um frêmito de entusiasmo, e um
vivo surto de dedicação pelo Congresso Eucarístico Nacional.
* * *
Dizem os autores espirituais que toda a meditação
bem feita deve trazer, como conseqüência, uma resolução concreta. As
considerações de ordem meramente platônica não interessam à vida espiritual. Se
se contempla, é para amar mais e agir melhor. “Ai da
ciência que não se transforma em amor e em ação”, disse o grande Bossuet! E nós poderíamos dizer: “Ai da meditação que não se
transforma em amor, em virtude e em apostolado!”
Assim, de nada nos adiantaria que enchêssemos de
santo gáudio nossos corações, que na fartura e tranqüilidade de nossos lares
celebrássemos as festas da Santa Páscoa, ou na amargura de nossas lutas e de
nossas necessidades abríssemos um rápido e ensolarado parêntesis no dia de
hoje; de nada nos valeria isto, dizíamos, se um acréscimo de amor para com Deus
não se notasse em nossos corações, e esse acréscimo não tivesse como
conseqüência nosso incremento na virtude.
Ora ninguém ama a Deus sem amar a glória de Deus. A
realização dessa glória é o mais vivo anseio de todas as almas verdadeiramente
piedosas. “Que em todas as coisas Deus seja glorificado” é o lema debaixo do
qual trabalham nas vias árduas da santificação interior e do apostolado os
filhos de São Bento. “Para a maior glória de Deus”, é a divisa que serve de
meta para todas as preces e todas as labutas dos filhos de Santo Inácio.
Percorram-se os sistemas de espiritualidade próprios às várias Ordens,
examinem-se os autores espirituais de todos os lugares e de todos os tempos, e
ver-se-á que todos eles fazem da glória de Deus o alvo desinteressado e total
de sua existência.
Ninguém, por outro lado, dá glória a Deus sem
obedecer ao beneplácito divino. A obediência à vontade de Deus, a plena
conformidade de todas as nossas idéias com a doutrina católica, de todas as
nossas volições com a moral católica, de todos os nossos sentimentos com o sentire cum Ecclesia, eis a preocupação que, do berço ao túmulo,
deve acompanhar toda a alma crente. E toda essa obra de infusão do espírito da
Igreja em nosso espírito nos deve levar a uma prontíssima e ardorosa obediência
à vontade da Autoridade Eclesiástica.
No que diz respeito ao IV Congresso Eucarístico,
esses poderosos motivos coincidem. Pela voz de nosso ilustre Metropolita, a Santa Igreja mobiliza em prol do Congresso
Eucarístico nossos esforços e nossa dedicação. E o zelo pela glória de Deus nos
deve levar a desejar o êxito do Congresso, não só porque o deseja a Autoridade
– o que já seria motivo suficiente – mas ainda porque o Congresso em si mesmo
constitui uma esplêndida glorificação de Nosso Senhor.
Assim, nesse dia de Páscoa que celebramos na paz e
no gáudio espiritual, façamos a santa resolução de rezar, sacrificar-nos,
trabalhar, concorrer pecuniariamente, mobilizar todas
as nossas relações e influência, para que o IV Congresso Eucarístico Nacional
seja uma digna expressão do muito que São Paulo pode e deve fazer pela glória
do Ressuscitado.