Legionário, N.º 495, 8 de março de 1942

“Religião e Guerra”

Muito freqüentemente o LEGIONÁRIO é atacado por leitores que se manifestam incapazes de considerar à luz da Fé a presente situação internacional. Obcecados por um nacionalismo irritadiço e exclusivista, ficam inibidos de emitir um juízo lúcido sobre qualquer problema desde que para tanto se exija a mais elementar dose de imparcialidade quanto aos interesses nacionais.

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Assim, acolhemos com satisfação toda a prova de que a opinião católica, também em outros países, reage ante as catástrofes contemporâneas dentro da mesma orientação que o LEGIONÁRIO.

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Hoje transcrevemos o comentário autorizadíssimo do órgão norte-americano “Jesuit Missions”, de janeiro de 1942. Posto em presença do ataque brutal desferido pelas tropas nipônicas contra as Filipinas, essa prestigiosa revista não ocultou a vivacidade de seu ressentimento patriótico. Isto não obstante, falou mais alto seu espírito de fé e os prejuízos sofridos pela Igreja, nossa Pátria Espiritual, lhe causaram uma dor que superou a expansão de quaisquer outros sentimentos.

 Como adiante se verá, o “Jesuit Missions” soube distinguir claramente o caracter religioso da luta que presentemente se trava na Ásia. Em sua edição de domingo p.p., comentou o LEGIONÁRIO a notícia tristemente significativa de que os nipônicos estão dirigindo em nome de seus deuses pagãos, entre os quais incluem o Micado, um apelo às populações nativas do Pacífico em que mostram na vitória das armas Japonesas o triunfo das divindades do paganismo.

 É, pois, com muita razão que o “Jesuit Missions” vê sobretudo na reação ianque nas Filipinas uma possibilidade de resistência do elemento católico contra o paganismo nipônico.

 Lembremo-nos de que a mesma clarividência também a nós brasileiros nos deve guiar. Lutando contra Duguay Trouin e os Batavos, nossos maiores salvaguardaram a unidade política, mas procuraram acima de tudo defender a unidade religiosa, pelo que nimbaram com a glória do martírio seus esplêndidos louros de heróis nacionais.

 Também nós devemos antes de tudo ver em naus inimigas que possivelmente ameaçam a integridade de nosso solo, além de agressores da Pátria, adversários da Igreja, e com o duplo ardor de Cruzados da Cruz e patriotas denodados devemos enfrentar a ameaça do paganismo moderno.

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 É o seguinte o artigo de “Jesuit Missions”:

A FÉ CATÓLICA E O ASSALTO JAPONÊS

(Do “Jesuit Missions” de janeiro de 1942). - Um ataque selvagem foi desfechado por uma nação pagã contra o único país inteiramente católico do Oriente. Tal, julgamos nós, é o quadro nítido que os católicos americanos deveriam ver na tentativa japonesa de invasão das Filipinas.

 Existe uma certa disposição entre os americanos de considerarem a guerra, em que ora se empenha nossa pátria no Pacífico, simplesmente como uma luta vingativa contra uma potência que nos atacou traiçoeiramente, quando estavam ainda em andamento as negociações de paz. A guerra, sem dúvida, tem este aspecto, mas apresenta também um outro que os católicos, especialmente, não deveriam perder de vista, a saber, que nosso país hoje se encontra na posição de quem defende, com seu Exército e sua Marinha, a causa da Fé Católica nas Filipinas.

Nesta defesa das Filipinas, não podemos acusar os Estados Unidos de motivos imperialistas. Os Estados Unidos ofereceram aos Filipinos independência completa, e esta entrará em vigor em 1946. A perda agora das Filipinas, pois, não significa muita coisa para os norte-americanos, mais seria um golpe severo contra o catolicismo, no Oriente.

A posição singular das Filipinas entre as nações do Extremo Oriente, no tocante à fé‚ ficou bem definida com a decisão da Igreja de realizar ali o Congresso Eucarístico Internacional, em 1937. Em nenhum outro país do Extremo Oriente se poderia verificar tal acontecimento. Dos 16.000.300 habitantes daquelas ilhas, 12.800.000 são católicos. A Igreja‚ é verdade, está estabelecida em todas as demais nações do Oriente, mas apenas como pequenos oásis verdejando em desertos do paganismo. Entretanto, nas Filipinas toda a cultura e o espírito da nação são verdadeiramente e sinceramente católicos.

Como católicos americanos, temos justo motivo de nos orgulharmos da Fé nas Filipinas, porque nos últimos dois decênios contribuímos notavelmente para seu progresso. Existem hoje trabalhando ali mais de 480 missionários americanos, sendo que mais da metade deles são membros de uma Província Jesuíta Americana.

A missão dos Jesuítas Americanos é de fato uma das grandes glórias não somente das Filipinas, mas da Igreja universal. Além de 27 grandes centros missionários, ela dirige 2 seminários, 3 ginásios, 2 colégios e uma grande e famosa universidade, o Ateneu de Manila. Tem também sob seu cuidado espiritual 5 colônias de leprosos, inclusive a de Cullón, que é a maior do mundo. Em Manila, os Jesuítas americanos dirigem o famoso Observatório de Manila repartição oficial meteorológica do governo, e elo importante da Defesa Nacional. Dos 250 Jesuítas que há nas Filipinas, todos membros da Província de Nova York, Maryland, quase metade são Filipinos nativos, o que representa impressionante tributo aos esforços da Missão, para desenvolvimento de um clero nativo.

Como católicos, nos orgulhamos dessa grande realização, que desejamos manter e conservar. E, como americanos, palpitam nossos corações ao pensarmos que as forças armadas de nossa pátria estão presentemente empenhadas numa defesa heróica da obra que conseguiram realizar. Devemos todos orar fervorosamente, portanto, por uma vitória americana, pois que tal vitória, cremos, seria uma vitória católica.