Em artigos anteriores mostramos que é inteiramente
contrário aos interesses de um pacifismo sadio o desígnio de formar
consideráveis federações de povos cujo poderio, contrabalançando-se reciprocamente,
obtenha a consolidação da paz. Pelo contrário, os consideráveis inconvenientes
da “política de equilíbrio” se projetaria dessa forma sobre um campo mais
vasto, produzindo inconvenientes ainda maiores do que aqueles sob cujos efeitos
desastrosos gememos presentemente.
Pelo contrário, consideramos indispensável fixar o
princípio de que o futuro da paz não repousa pela aglomeração de grandes povos,
mas sobre o respeito à independência dos povos pequenos.
Muito se tem escrito a respeito da independência
dos povos pequenos, e isto em estilo tão oco [...], que a tese que defendemos
ficou irremediavelmente prejudicada junto a certos elementos. No entanto, nem
por isto deixa a verdade de ser a verdade, e se ela é bastante forte para
vencer as críticas de seus adversários, devem ter também vitalidade suficiente
para vencer a imperícia de seus defensores incompetentes.
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Se [...] entidades congêneres tem desprestigiado ao último
ponto o princípio, que não cessa de proclamar que os fracos devem ser
protegidos contra a injustiça dos fortes, é porque eles esvaziaram de qualquer
conteúdo esse nobilíssimo princípio, tirando-lhe o fundamento religioso e
tornando-o assim vácuo como alguma sentença moral de Smiles.
O respeito do direito dos mais fracos não é senão
uma das mais expressivas afirmações de amor ao próximo. Se devemos proteção à
viúva, ao órfão, ao aleijado, devemo-lo em conseqüência do princípio que o
próximo tem direito a nosso amor e este amor deve ser particularmente mais vivo
para com aqueles que dele mais necessitam. Transposto este princípio para a
esfera internacional, compreende-se facilmente que o amor que devemos a todos
os povos da Terra nos leva a sentir um zelo especial pelos povos mais fracos.
É, pois, uma conseqüência genuína da lei do amor - a única lei de que pode realmente nascer a paz - este
respeito aos povos fracos. A existência de pequenos países ao lado de grandes
nações é, para estas, o mais glorioso brasão de nobreza, o foro mais
indiscutível de sua autêntica civilização.
E como o amor do próximo só é vivaz e fecundo, só é
heróico e inalterável quando nasce à sombra da Igreja, daí se deduz que,
privado de seu fundamento religioso, o direito das pequenas nações se vê
aviltado à categoria do palavreado oco da Liga das Nações, em lugar de ser a
conseqüência sólida e de uma doutrina e de uma civilização verdadeiramente
católica.
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Não é sem apreensão que consideramos a diferença
cada vez maior com que a opinião pública, viciada pelo Taylorismo
e pela racionalização, concebe o futuro de pequenos países como Mônaco, Andorra, Liechtenstein, São Marinho, Luxemburgo, etc. Não se compreende mais o que representa de nobre e
de vital estas pequenas entidades, e sua supressão parecerá uma simplificação
necessária. Serão quiçá as últimas vítimas imoladas aos grandes Molochs que se
pretende criar. Com sua supressão o mundo terá dado mais um passo no sentido da
estatolatria. E não faltarão talvez mãos de católicos
para aplaudir esse morticínio político.
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Felizmente a Igreja tem forças capazes de aniquilar
as portas do inferno e partir em estilhaços a pétrea imbecilidade de muitos
daqueles que se presumem seus filhos. Dia virá em que a poeira dos novos
Molochs se confundirá com os outros fragmentos de ídolos que jazem ao pé da
Cruz, e nesse dia de vitória o mundo conhecerá como é leve o jugo do Senhor,
que o liberalismo procurou apontar como insuportável e o totalitarismo procurou
caricaturar com correntes de ferro.