Uma tendência
de sabor acentuadamente totalitário, que se nota nas previsões sobre o mundo de
pós-guerra feitas por partidários das democracias, consiste na formação de
grandes blocos de países, organizados sobre base simultaneamente federal e
racial. Assim, por exemplo, todos os povos de idioma inglês poderiam constituir
uma grande federação - trata-se de uma federação no sentido próprio e exato do
termo, e não de simples aliança ofensiva e defensiva - que abrangeria também os
Estados Unidos.
Este desígnio
político pareceu em certos círculos britânicos tão viável, que uma associação
inglesa chegou a dirigir uma formal petição neste sentido ao governo Churchill.
Por outro lado, os povos amarelos, os povos ibero-americanos, etc., etc.,
constituiriam, por sua vez, grandes super-estados
que, sem absorver inteiramente as nações de que se constituíssem, teriam ao
menos uma consistência e uma autoridade provavelmente maiores que o império
britânico em relação aos múltiplos povos que abrange.
É bem de se ver
que estas tendências não apresentam qualquer diferença substancial em relação
ao projeto de federação do continente europeu sob a égide do Sr. Hitler.
Apenas, haveria talvez, à sombra do nazismo, maior dependência e mais sentido
de centralização. Quanto ao caráter racial destas vastas federações,
representaria ele a vitória, no campo anti-nazista,
do princípio advogado pelo Sr. Hitler quando afirmava que, de direito, todos os
povos alemães minoritários deveriam estar na dependência do III Reich.
Em um como
noutro caso, o princípio é o mesmo: os povos de mesma raça e mesma língua,
sejam quais forem as barreiras entre eles levantadas pela tradição, pela
formação histórica, pelos pendores culturais, pelos acidentes geográficos e até
pelas discrepâncias religiosas, devem ter um só e
mesmo governo. Isto implica em afirmar, em outros termos, que de todas as
influências religiosas, morais, culturais e psicológicas, nenhuma tem valor e
peso equiparável às influências sociais. Daí para a afirmação do predomínio do
biológico sobre o psicológico, do racial sobre o espiritual, a distância é
mínima. E chegados a estas zonas doutrinárias, teremos ingressado francamente
na esfera ideológica do Sr. Alfredo Rosenberg, o truculento filósofo pagão e materialista, universalmente
reconhecido como o mais autêntico inspirador da doutrina neo-pagã
e racista do III Reich.
Em nosso último
artigo, mostramos que a História é rica em fatos que provam ser, por vezes, tão
terrível o poder de expansão do erro que ele se incidia entre as hostes de seus
próprios vencedores, e se propaga, às vezes, nas dobras dos estandartes que se
ergueram para o combater.
Assim, a Santa
Aliança,
evidentemente planejada para combater o liberalismo, pressupunha o princípio da
igualdade entre as religiões católica, cismática e protestante; e com isso
arvorou o liberalismo no terreno onde mais nocivo e satânico ele é, isto é, em
matéria religiosa.
Da mesma maneira
o Congresso de Viena,
reunido para coordenar os esforços de todas as monarquias contra a hidra
satânica da Revolução, aboliu o organismo naturalmente indicado para tão santa
tarefa, e ao decretar a extinção do Sacro Império Romano Alemão consumou,
involuntariamente, uma grande vitória revolucionária! Fato típico: o único voto
discordante foi do núncio apostólico junto ao Congresso.
É razoável que
receamos para o mundo a suprema desgraça de ver que os povos anti-totalitários, vencendo o nazismo, realizassem ao menos
em grande parte os ideais dele. E, portanto, queremos indicar o perigo para que
saibam evitá-lo aqueles que não poupam sangue, ouro e dinamite para expurgar do
mundo o fantasma sombrio do totalitarismo.
No nosso
próximo artigo contamos mostrar que:
1 - a formação
de vastos blocos super-nacionais só agrava os
inconvenientes da desastrosa "política de equilíbrio".
2 - que se
esses blocos não significarem a supressão da autonomia dos países a eles
filiados, terão todos os inconvenientes e toda a debilidade da pouco saudosa
Liga das Nações;
3 - que, se
pelo contrário, a cometerem a supressão de tal autonomia, se afastarão da
sabedoria política das tradições internacionais católicas, que se gloria da
independência fecunda das pequenas nações e não se acumplicia
com o sacrifício delas em holocausto aos grandes molochs
políticos;
4 - que a paz
não pode resultar destas alquimias enganadoras, mas
somente do amor entre os povos. Este amor só vem de Deus; o amor de Deus só o
conhece quem adora a Jesus Cristo; só adora devidamente a Jesus Cristo quem
está no grêmio da Igreja Católica Apostólica Romana, e só está com a Igreja
quem está com o Papa. Quer queiram, quer não, o centro de gravidade do mundo é
o Vaticano, e enquanto sobre ele não se apoiarem, cambalearão de desatino em
desatino, rolarão de abismo em abismo, até que resolvam voltar à paz dulcíssima
da mansão paterna!