Deixamos
propositadamente para o fim, isto é, para o último de nossos comentários sobre
a Pastoral Coletiva do Episcopado paulista, os tópicos referentes aos grandes meios de publicidade moderna.
Com efeito, queríamos que este assunto deixasse impressão particularmente
durável no espírito de nossos leitores, já que, ao que sabemos, ocupa ele uma
posição ímpar nas cogitações de nossos prelados e especialmente nas do Ex.mo. e
Rev.mo. Sr. Arcebispo Metropolitano, cujos gestos neste sentido são de uma
eloqüência absoluta.
Há um
verdadeiro mistério na dificuldade que certos meios católicos sentem em
compreender a importância do problema dos meios de difusão do pensamento em
tudo o que diz respeito ao apostolado. A questão, em seus termos fundamentais,
se apresenta de maneira tão simples que nem o mais obscuro e nebuloso dos
espíritos poderia conceber, a respeito dele, a menor vacilação.
Com efeito, a
Igreja recebeu de seu Divino Fundador a incumbência de ensinar a Boa Nova a
todos os povos, procurando atingir, evidentemente, em cada povo o maior número
possível de pessoas. Assim, todos os meios que proporcionem à Igreja ocasião de
ampliar seu raio de ação, devem ser postos à sua disposição, sofregamente,
pelos fiéis. Esta verdade adquire uma evidência meridiana
se tomarmos em consideração que as massas a serem hoje em dia atingidas são tão
numerosas, que nelas não pode fazer uma penetração suficiente a simples ação de
presença pessoal dos sacerdotes e do laicato católico.
Assim, a
alternativa se põe, diante de nós, límpida e inexorável: ou milhões de almas
deixarão de conhecer a Igreja, ou somos obrigados a lançar mão da imprensa, do
cinema e do rádio para chegar até elas.
É certo que não
é só com dinheiro que o problema se resolve. Mas creio que sem dinheiro ele
jamais se resolverá. Quantas e quantas vezes, as iniciativas as mais generosas
fracassam inteiramente porque no momento oportuno se fechou para elas a bolsa
dos católicos!
Penso que o
grande mal aí está: enquanto uma ação suasória, metódica, lenta e dirigida aos
pontos estratégicos, não fizer compreender às pessoas ricas a gravíssima
obrigação que lhes incumbe de concorrer de preferência para as obras de puro
apostolado do que para as de pura caridade material, muito pouco se realizará.
A Igreja jamais
deixará de abençoar, de proteger e de estimular aqueles que se dediquem ao
alívio das numerosas dores que assediam o homem em sua peregrinação por esta
vida. Mas suas melhores bênçãos, sua mais efusiva dileção, as mais copiosas
graças do Céu se destinarão sempre às obras que, acima do corpo, visem as almas
e façam seu objetivo não a cura de males que passam com a vida, nem o
prolongamento de vidas que cedo ou tarde a morte há de tragar, mas a salvação
de almas imortais cujo preço infinito foi o Precioso Sangue de Nosso Senhor
Jesus Cristo.
Na parábola dos
talentos, o Redentor nos mostra que não nos basta trabalhar para obter alguma
renda sobrenatural para o dinheiro que Deus confiou aos ricos. Não se trata
apenas de fazer o bem, mas ainda de fazer o maior bem possível. E este bem
máximo só o teremos realizado trabalhando para a salvação das almas e
empregando nosso dinheiro de preferência nas obras em que maior número de almas
possa encontrar a Verdade, o Caminho e a Vida, isto é, Jesus, Nosso Deus.
* * *
Mas a realidade
ainda tem cores muito mais vivas do que as do quadro que esboçamos. Não se
trata, no caso da imprensa, cinema e rádio, tão somente de fazer o bem. Se
estes poderosíssimos, e a bem dizer soberanos meios de ação, ou estivessem em
mãos da Igreja ou não estivessem em mãos de ninguém, já seria perfeitamente
verídico tudo quanto afirmamos. Entretanto, a verdade é que se trata também de
evitar a inteira delapidação dos talentos que Deus nos confiou. Se mereceu
inexorável condenação o servo negligente que manteve infrutífero o dinheiro de
seu senhor, o que se diria daquele que o houvesse empregado em subornar
difamadores que pelas vias públicas e pelas casas amotinassem contra o amo a
cidade inteira?
Entretanto, com
quanta justeza esta observação se aplicaria a grande número de pessoas! Se
aqueles que crêem em tudo que crê e ensina a Santa Madre Igreja Católica, Apostólica, Romana, negassem o apoio financeiro que por meio da
compra de ingressos de cinema, da aquisição de jornais, do anúncio em rádio,
prestam ao mau cinema, ao mau rádio, ao mau jornal, não haveria força alguma
capaz de se utilizar no Brasil, contra a Igreja, de tais meios de ação.
Quantos são,
entretanto, em nossos dias, os cinemas transformados em novos pretórios onde
Nosso Senhor Jesus Cristo é implacavelmente açoitado? E quem abastece de
açoites os verdugos? De onde procedem os açoites de cabo forte, de tiras
resistentes, de pontas farpadas, senão daqueles que se proclamam cristãos? E
como negar que a mesma observação se pode fazer quanto ao rádio e à imprensa,
dos quais tanto quanto do cinema se pode afirmar que aqueles dos seus órgãos
que se afastam da linha do respeito e da decência, são verdadeiros instrumentos
de tortura contra a Igreja?
Aqui ficam
estas reflexões severas, porque verdadeiras. Deus nos livre de negar que uma
reação se esboça nesses três campos, mas com muito maior razão não desejaríamos
arcar com a responsabilidade que sobre nós pesaria se não afirmássemos que
muito e muito ainda há que fazer.