Legionário, N.º 487, 11 de janeiro de 1942

CATÓLICOS, APOSTÓLICOS, ROMANOS !

Merece, na pastoral coletiva de nosso episcopado, particularíssimo registro o tópico que, sob o título "Jesus Cristo, Deus e Homem", relembra a Doutrina Católica acerca da Incarnação do Verbo e da natureza divina e humana do Salvador, mostrando ao mesmo tempo que em geral as heresias de todos os feitios e de todas as máscaras acabam por negar ora a Divindade ora a Humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O ensinamento de nossos Bispos constitui um eco eloqüente do que, na Encíclica escrita por Pio XI contra o nazismo, o grande Pontífice deu ao mundo sobre o mesmo assunto. Mostra o Papa que não tem a verdadeira fé em Deus quem não crê em Jesus Cristo; não tem a verdadeira fé em Jesus Cristo quem não crê na Santa Madre Igreja, e não tem a verdadeira fé na Igreja quem não reconhece a autoridade infalível do Santo Padre.

No discurso em que, por ocasião da inauguração da sede da Federação Mariana, saudou o Exmo. e Revmo. Sr. Arcebispo Metropolitano, proclamou o Dr. Ataliba Nogueira que está ao menos momentaneamente, entre nós, encerrada para a Igreja a fase do combate em campo raso contra adversários de viseira erguida. A crescente influência do Catolicismo no Brasil se impõe aos adversários de nossa fé com a inexorável força do fato consumado. Cessou a luta aparente. E, para melhor continuar a lutar, o diabo "se fez sacristão", e a fase entre nós está aberta das "aproximações" insidiosas, das infiltrações pérfidas, das ambigüidades melífluas.

Na eloqüente oração com que, na Cúria Metropolitana, saudou o Ex.mo. e Rev.mo Sr. Bispo de Jacarezinho, o Dr. José Pedro Galvão de Souza foi mais longe, e sob grandes e calorosos aplausos afirmou que, na vida religiosa do Brasil, tal qual aconteceu às margens do Reno, o mais poderoso adversário não era aquele que na frente de combate multiplicava os disparos da artilharia e os avanços dos tanques, mas a quinta-coluna sorrateira, desleal, cavilosa, que sugere as atitudes errôneas, provoca as falsas manobras, suscita questões extemporâneas entre irmãos de crença e triunfa pela intriga, pela calúnia e pela urdidura da conspiração.

O espiritismo e o protestantismo tem usado a valer dessa prática. Enfeitando-se com o imerecido título de cristãos, os hereges procuram difundir suas doutrinas, ocultando o quanto possível a nosso povo bom e piedoso que elas são palavras de destruição e de morte para a alma, e que rompe com a Igreja de Deus quem, culposamente, as professar.

Assim, parece-nos que nenhum meio é mais adequado para reprimir as heresias espírita e protestante do que desmascarar suas verdadeiras doutrinas sobre nosso adorável Salvador. E, ao mesmo tempo, nenhuma ingenuidade é mais culpável do que a de certos católicos snobs que, para imitar não sei que escritores de além-mar, parecem ter relegado ao ostracismo, em seu vocabulário, a palavra "católico", substituindo-a, metodicamente, pela palavra "cristão" de que tanto abuso entre nós se faz. Orgulhemo-nos de nosso título de cristãos. Não pode o homem possuir outro tão belo, mas por isso mesmo timbremos em nos proclamar, sempre e sempre, católicos, apostólicos, romanos! Só é este título que traz consigo a garantia de um Cristianismo sem mácula, sem jaças, sem falsificações.

Quanto mais apaixonadamente amarmos nosso título de cristãos, tanto mais insistentemente timbremos em nos dizer católicos romanos. Sem Roma não há salvação.