A notícia da
promoção para o episcopado de Mons. Ernesto de Paula foi recebida nesta capital
com aquela alegria serena e transbordante que
caracteriza a realização dos fatos de há muito esperados. Quem quer que
estivesse iniciado, ao menos de leve, nas fainas do apostolado católico não
tardaria em perceber que o altíssimo apreço em que eram tidas geralmente as
qualidades do eminente Vigário Geral faziam dele uma figura evidentemente
talhada para arcar, dentro da Santa Igreja de Deus, com maiores
responsabilidades. Um contato pessoal com S. Ex.a Rev.ma serviria apenas para
acentuar esta convicção. Mons. Ernesto de Paula é destas pessoas que tem o dom
de impressionar favoravelmente todos os observadores de valor. Verdadeira e
superior figura de Sacerdote, despreocupa-se ele, de modo ostensivo, do emprego
dos mil pequenos expedientes charlatanescos com que
habitualmente as nulidades se esmeram em disfarçar
sua vacuidade. Por isto mesmo os espíritos superficiais, a quem só a
charlatanice impressiona, não atinam imediatamente com o valor de Mons. Ernesto
de Paula. Pelo contrário, a rara precisão, clareza e firmeza de sua
inteligência, a distinção de seu trato, a sua insuperável capacidade de
trabalho, sua ilimitada dedicação à Igreja cativam desde logo o respeito
entusiástico e afetuoso de quantos dele se acercam. Há árvores consideradas
padrões de terra boa: só se desenvolvem em solo fértil. O ter alguém em grande
apreço a Mons. Ernesto de Paula é padrão de mentalidade lúcida.
Ainda é cedo
para se estabelecer o balanço do muito que a Arquidiocese deve a Mons. Ernesto
de Paula, já que o inventário de longos e preciosos serviços não se pode fazer
em pouco tempo. Não pretendo, pois, mencionar neste artigo quais os melhores
títulos que, à nossa gratidão, tem S. Ex.a Rev.ma. Aliás, esta enumeração seria
supérflua para realçar méritos que estão inscritos na admiração geral.
Escolhido para as altas funções que exerceu por essa grande figura de “connaisseur” de homens que foi o imortal D. Duarte,
mantido no cargo pela clarividente confiança do atual Arcebispo, Mons. Ernesto
de Paula recebe, com sua promoção ao Episcopado, a consagração de suas altas e
nobres qualidades.
Congregado
Mariano que tenho a honra de ser, não quero entretanto deixar de fazer uma
alusão comovida a uma obra de Mons. Ernesto de Paula que simboliza todas as
suas atividades, pois que nele empregou S. Ex.a Rev.ma seus melhores
predicados. Todos estarão entendendo que se trata da Congregação do Ginásio do
Estado. Obra verdadeiramente providencial, essa Congregação constitui uma forma
esplêndida de apostolado, e pelo valor dos elementos que ela contém, bem se
pode dizer que é ela um “vaso de eleição” com que Mons. Ernesto de Paula
brindou a Arquidiocese. Seria inútil destacar que esta hora de júbilo por tão
merecida nomeação é também uma grande e dolorosa hora de despedida e de
tristeza. Certamente, em nenhum lugar as saudades serão mais pungentes do que
naquele sodalício mariano, onde a ausência de Mons.
Ernesto provocará uma desolação que só o amor à Igreja e a confiança na
Providência conseguirão remediar. Posso entretanto acrescentar que entre os
redatores do “Legionário” a mágoa da separação e a alegria da nomeação não
serão muito menores. Por mil razões que S. Ex.a Rev.ma bem conhece, o
“Legionário” lhe dedica uma amizade respeitosa e indelével, que o tempo e a
distância jamais conseguirão amortecer.
* * *
A Providência
sabe temperar com consolações todos os sentimentos de pesar. A escolha dos dois
Vigários Gerais com que a sabedoria do Ex.mo e Rev.mo Sr. Arcebispo dotou São
Paulo é, para todos os fiéis, motivo do mais intenso júbilo.
Mons. José
Maria Drost Monteiro é uma destas veneráveis e
vigorosas figuras de Sacerdote que encarnam as melhores tradições do Clero
brasileiro. Não há, em nossos círculos católicos, quem não o respeite e não o
estime. A nota saliente de sua personalidade é uma afabilidade ao mesmo tempo
distinta e acolhedora, que nos dá a dupla impressão de que tratamos com um verdadeiro
Pai com quem podemos e devemos ser filiais, e uma autoridade que sabe fazer
respeitar-se de todos. De inteligência viva e solerte, ilustrada não só por
sólidos estudos como por uma inapreciável experiência do ministério das almas,
o novo Vigário Geral trará, para o desempenho das altas funções que o Ex.mo e
Rev.mo Sr. Arcebispo Metropolitano lhe atribuiu, um lastro de qualidades
verdadeiramente notável.
Em Itu – na fidelíssima e tradicionalíssima cidade de Itu – a ausência deste Pároco benemérito causará por certo
um inexprimível pesar. Com efeito, se até os que não somos ituanos
custamos a conceber aquela cidade privada do Sacerdote que por suas virtudes e
aptidões soubera tornar-se o centro e o ápice de toda vida intelectual e
espiritual bem como de todas as atividades beneméritas do lugar, o que se dirá
da impressão que a ausência de Mons. José Maria Drost
Monteiro causará aos ituanos?
Compreendemos
amplamente esses sentimentos. Mas a mesma ordem de fatos nos leva a considerar
com antecipada alegria a perspectiva risonha de um trabalho apostólico
desenvolvido sob a irradiação de uma figura de tão alto valor.
* * *
Deixei
expressamente para o fim a figura de Mons. Antônio de Castro Mayer. Uma amizade
que já se tornou antiga justifica que, a respeito dele, minhas palavras se
revistam de uma comoção particularmente intensa. Penso não ser necessário dizer
os sentimentos de todos os que trabalhamos no “Legionário” a respeito de Mons.
Mayer. Os leitores desta folha sabem que S. Ex.a Rev.ma é nosso Assistente
Eclesiástico. Os afazeres inerentes ao jornalismo impõem aos redatores desta
folha um convívio quase quotidiano, em que as idéias se debatem e se
cristalizam, as amizades se fundem e se desenvolvem, e a recíproca compreensão
dos temperamentos os mais diametralmente opostos cria um ambiente de verdadeira
fraternidade, de uma fraternidade viril e sobrenatural, que constitui para a
vida de cada um de nós uma grande graça, e nos faz sentir, quando estamos
reunidos, as emoções que experimentou o Escritor sagrado ao exclamar “Quam bonum et quam jucundum est
habitare fratres in unum”. A identidade de
ideais solidamente vincados em nossas inteligências, e servidos com uma
inteireza de devotamento que exclui qualquer reserva
e estigmatiza como uma traição qualquer restrição, fez com que esse grupo de
rapazes, pertencentes todos a condições bem diversas, a idades tão
desencontradas, seguindo carreiras tão variadas, e dotados de feitios pessoais
tão antagônicos, apresente o aspecto de uma coesão maciça e sem fendas, que sem
personalismos nem falsos regionalismos
se coloca inteiramente ao serviço da Santa Igreja de Deus. Nessa vida de
família, que com mais propriedade se poderia comparar a uma vida de regimento,
mas de um regimento de cruzados em que cada qual tem bem viva a convicção da
fraternidade sobrenatural que no corpo místico de Cristo o une aos demais, o
papel de Mons. Mayer é ao mesmo tempo o de um guia, um chefe e um pai. À
confiança, o respeito e a estima que nesta casa todos lhe têm, prova à
saciedade que S. Ex.a Rev.ma possui no mais alto grau o dom de impressionar e
cativar os moços que dele se acercam. Com efeito, as lições que de S. Ex.a
Rev.ma continuamente recebemos estão cheias daquela “luz intelectual plena de
amor” de que fala Dante. Luz intelectual, sim, porque
as irradiações do talento do novo Vigário Geral se encontram em todas as suas
palavras e todos os seus atos. A solidez invulnerável de sua doutrina, seu amor
heróico às posições mais ortodoxas, às virtudes mais árduas, às atitudes mais
difíceis, dá à alma generosa dos moços aquela largueza ilimitada de horizontes
sobrenaturais, em que a inteligência se sacia de verdade e as dedicações se
saciam de sacrifícios e de heroísmo, indo sempre mais longe neste caminho e
descortinando perspectivas sempre maiores. Ao par desta constante elevação de
vistas, quanta e que esplêndida simplicidade de trato em Mons. Mayer! Que
alegria exuberante e brilhante, que tesouros de espírito, de autêntico chiste,
de finura de inteligência, fulguram constantemente em suas conversas. Por isto
mesmo, Mons. Mayer não é reputado apenas um guia e um pai, nos momentos de luta
e de trabalho, mas a companhia indispensável dos raros mas esplêndidos momentos
de lazer.
Apenas colocado
por uma sapientíssima e providencial disposição do Ex.mo e Rev.mo Sr. Arcebispo
à testa da Ação Católica, começou Mons. Mayer por generalizar ali o mesmo
ambiente. E, graças à inspirada energia com que debelou extremismos
intolerantes, messianismos irrequietos e mordazes,
imprecisões doutrinárias perigosas e dissenções
supérfluas, a Ação Católica é hoje uma grande família, na qual o Assistente
Geral é o Pai respeitado e obedecido, o próprio reflexo da autoridade do Ex.mo
e Rev.mo Sr. Arcebispo Metropolitano.
Tantas
qualidades, se impressionaram a Ação Católica, ainda deveriam impressionar
muito mais o zeloso Pastor da Igreja Paulopolitana,
confirmando e ampliando a autoridade de Mons. Mayer, dá o Ex.mo e Rev.mo Sr.
Arcebispo Metropolitano merecido galardão à tão brilhantes êxitos, e abre
perspectivas ainda mais largas para as atividades do laicato católico.
Sem pretender fazer de seu próprio
Assistente Eclesiástico um elogio que outras folhas, poderão com mais
desembaraço fazer, aqui deixamos de tão auspiciosa nomeação um registro
comovido, carinhoso e grato.