Não quis o Ex.mo Rev.mo Sr. Arcebispo Metropolitano
aceitar as homenagens que a Arquidiocese de São Paulo lhe iria tributar hoje.
Não conseguirá, entretanto, S. Ex.a Rev.ma, que essas homenagens, assumindo
formas diversas, por mil modos cheguem até o solio
pontifício, a fim de atestar ao Preclaro Antístite o afeto sincero e tocante
que a S. Ex.a tributam seus diocesanos.
Pelo grande número de telegramas e mensagens
provenientes não só de São Paulo mas de
outros lugares, pelas visitas, pelos cumprimentos, pelos artigos, pelas radio
emissões, pelas orações e cerimônias litúrgicas
sobretudo, saberá certamente S. Ex.a Rev.ma como a data de hoje comove São
Paulo e enche de júbilo nossa população.
A esse júbilo o “Legionário” quer dar uma contribuição, manifestando
também ele seu contentamento e reconhecendo de público quanto deve ao eminente
Pastor.
* * *
O “Legionário” sempre obtivera a benevolente
simpatia do grande e inesquecível D. Duarte. Nomeado o novo Bispo Auxiliar,
que situação teria perante ele nosso
jornal? Pela grande confiança que no
Bispo titular da Barca depositava D. Duarte, pela alta investidura que
recebera com a sagração episcopal, pela autoridade moral decorrente de sua tão
marcante personalidade, o novo Prelado teria, certamente, grande influência no
futuro do jornal. E assim foi em um ambiente de viva expectativa que os
primeiros contatos se estabeleceram, respeitosos por parte desta folha e
bondosos por parte de S. Ex.a Rev.ma.
Tendo uma opinião muito precisa e uma orientação
muito nítida, o “Legionário” jamais pretendeu ser um monopolizador de
catolicidade. Se há muitos pontos de vista que ele sustenta e dos quais um
católico não pode dissentir, jamais teve esta folha a pretensão, que seria
audaciosa e ilegítima, de afirmar que em nenhum ponto dela se poderia divergir
sem implicitamente se divergir da doutrina definida pela Igreja. Em muitas
matérias que a Igreja deixa a livre discussão, temos atitudes próprias que nos
parecem interpretar melhor o pensamento católico, que nos esforçamos pois por
inculcar aos leitores, mas que, entretanto, nem por isto deixam de ser matéria contingente.
Assim, pois, mais do que qualquer outro tipo de
jornal católico, precisa o “Legionário” não só do consentimento mas da simpatia
da Autoridade. Um simples “laisser faire, laisser passer” não lhe basta para ir vivendo, como bastaria a um
jornal que só se definisse em matéria incontroversível
entre católicos. E isto principalmente porque, desde que o “Legionário”
recebesse uma ordem em sentido contrário, graças a Deus obedeceria com uma
disciplina tipicamente católica.
Ora, o novo Bispo Auxiliar, colocado tão perto do
grande D. Duarte e recebendo dele tão largo
apoio, poderia facilmente por o “Legionário” em situação muito complexa
e talvez de insuperável dificuldade. E por aí se explica nossa simpatia e nosso
reconhecimento, quando desde logo verificamos que S. Ex.a Rev.ma possuía um grande e largo coração de Pastor, transbordante de afeto, cheio do desejo de nos compreender
bem a mentalidade, os pontos de vista e as opiniões, dominado pelo elevado
propósito de, sem renunciar à sua autoridade e exercendo-a quando preciso
fosse, nos dar ao mesmo tempo uma ampla liberdade e, quiçá, em muita situação
crítica, um apoio tão discreto quanto decisivo.
Sem lembrar a este propósito fatos que ainda é cedo
para divulgar, algumas reminiscências podem entretanto ser invocadas. Nunca os
dirigentes do “Legionário” se esquecerão das visitas que S. Ex.a Rev.ma nos fez
quando Bispo Auxiliar, durante uma das quais chegou a nos trazer... um bolo saboroso, a fim de aliviar e estimular
os trabalhos redatoriais. Eram visitas afáveis, eu diria mesmo carinhosas,
durante as quais se denunciava um imenso interesse por nossos trabalhos, uma
ardente simpatia pelos jovens universitários que conosco trabalhavam e um
desejo perseverante e determinado de que o “Legionário” prosseguisse para a
frente. Assim, embora respeitosos da autoridade, tomávamos com S. Ex.a Rev.ma
uma ou outra pequena liberdade, que o bondoso Prelado fingiu não perceber. Uma delas pode hoje ser
contada. S. Ex.a Rev.ma nos fizera uma visita. Mas, ou por esquecimento, ou por
excesso de ocupação, ou porque a visita fosse imprevista, não havia um
fotógrafo para bater uma chapa que ilustrasse a notícia que sobre o
acontecimento daríamos no próximo número. Mas o “Legionário”, que raramente se
atrapalha, também aí não se atrapalhou. Tomou uma fotografia em que S. Ex.a
aparecia sentado junto a uma mesa com um aparelho rádio emissor, cortou da
fotografia o aparelho, deixando apenas aparecer o jovem e ilustre Bispo sentado
junto à mesa. E sem cerimônia a fotografia foi inserta na notícia, cujo título
era mais ou menos “O Bispo Auxiliar visita o Legionário”. Mas para evitar qualquer
mentira, a fotografia não trazia legenda, de sorte que não afirmamos que a
fotografia fora tirada durante a visita. O leitor que conjeturasse o que
entendesse. O então Bispo de Barca notou certamente nosso pequeno estratagema,
que não deixava de implicar em uma respeitosa “sans façon”. Mas fingiu
paternalmente que nada viu e tudo continuou muito bem. Pequenos fatos como
este, audiências pedidas fora de hora, atrasos infelizmente clássicos nessas
audiências, de um dos dirigentes,
reiterados pedidos de cartões com apoios e recomendações, tudo isto passava com
a indulgência do jovem Bispo, que fingia nada notar, ou que se limitava a algum
gracejo a respeito da falta de horário do dirigente sempre atrasado.
* * *
Durante sua permanência em Itanhaem,
falecido o grande Dom Duarte, não se esqueceu o “Legionário” de seu ilustre e
constante protetor. E assim, tendo enviado a S. Ex.a Rev.ma um relatório de
seus trabalhos, recebeu em resposta uma carta que deixava transparecer
claramente, através da inalterabilidade dos mesmos sentimentos de afeto, um
apoio cada vez mais decidido à destemerosa orientação do jornal.
Nomeado para suceder nosso primeiro Arcebispo,
claro está que o “Legionário” tinha razões para muito esperar do Dom José de
Afonseca e Silva.
Entrementes, a situação internacional se foi
tornando mais tensa, as paixões se foram tornando mais acirradas, os nacionalismos alienígenas mais imprudentes e mais
intransigentes. De toda a parte, bem sabíamos disto, pedia-se ao Arcebispo uma
palavra, uma só palavra, que faria calar o “Legionário”. Mas essa palavra nunca
veio. E pelo contrário, recebendo em audiência, há tempo atrás, os redatores e
empregados desta folha, S. Ex.a Rev.ma, depois de algumas palavras paternais,
manifestou todo o seu apoio ao “Legionário”, ao qual qualificou de o mais
perspicaz de nossos jornais católicos ou profanos, atribuindo essa perspicácia
exclusivamente a nosso zelo e à inteira despreocupação de qualquer outras
causas que não fossem a da Santa Igreja de Deus.
Esses os fatos públicos. Quanto aos apoios dados em
particular ao “Legionário”, em circunstâncias delicadas, quantas vezes ele se
verificou! Ainda não é tempo de contar esta história, mas se algum dia houver
oportunidade para tanto, certamente não ficará ela em silêncio. Um deles é um
dos mais belos fatos que tenho visto!
* * *
No dia de hoje, o “Legionário” se permite uma
grande satisfação em anunciar que S. Ex.a Rev.ma virá brevemente visitar esta
folha, aqui recebendo como homenagem uma coleção do “Legionário” em 1940, para
a biblioteca do Palácio São Luiz.
Para esta festa, que será um eco da festa de hoje,
o “Legionário” desde já convida quantos ao seu lado lutam, por ele rezam e por
ele trabalham. Será esta, para nosso jornal, uma oportunidade para reiterar a
S. Ex.a os votos respeitosos que hoje lhe apresentamos.