O “Legionário” se tem ocupado, reiteradamente, com
as figuras lamentáveis que, parodiando por toda a parte o Sr. Hitler, lhe servem de poderoso meio de domínio sobre os países
visados pela propaganda nazista. Seyss-Inquart, Forster, Quisling, Mosley, Degrelle, Antonescu... e tuti quanti outra coisa não são senão pequenos “Hitlers de bolso”, que a propaganda totalitária põe em
circulação com o objetivo de debilitar a resistência nacional contra o nazismo,
e, em seguida, servir de cômodo paravento atrás do
qual a dominação da cruz gamada se possa estabelecer à vontade.
Neste sentido, é muito significativo a posição do
pequeno “Hitler” holandês, o Sr. Mussert. Chefe do partido nazista holandês já antes da guerra,
trabalhava ele ativamente por uma aproximação batavo-alemã,
e pela transformação radical das instituições holandesas, que deveriam ser
substituídas por uma organização política tipicamente totalitária.
Evidentemente, se alguém dissesse, antes da guerra, que o Sr. Mussert estava ao soldo da internacional totalitária das
direitas, seus partidários prorromperiam em altos brados, afirmando que se
tratava de vil calúnia, uma vez que entre o nazismo holandês e o alemão nada
havia de comum. Pergunta-se a um fascista se ele não considera as milícias da camisa negra diversas das da
camisa parda; pergunta-se a um inglês partidário do Sr. Mosley
se ele não considera seus milicianos de camisa oliva diferentes dos falangistas do Sr. Serrano Suner;
pergunta-se a um “Guarda de Ferro” romeno se ele não considera sua organização
diferente dos “camisas douradas” do México: todos responderão que sim, que seus
respectivos programas são absolutamente nacionais, e não se inspiram em
qualquer ideologia exótica. Entretanto, por mais que se examine, a diferença
não vai além da cor da camisa. Assim, o Sr. Mussert
também tinha uma ideologia muito diversa
da do nazismo, uma ideologia genuinamente batava, que
se diferenciava das demais ideologias das direitas, por meio de características
profundamente nacionais. Seriam vis caluniadores os que pretendessem o
contrário. Mas se se examinasse um pouco mais de
perto o assunto, pouca diferença se encontraria, além da dos distintivos
partidários.
* * *
Assim, nazismo e fascismo holandês eram coisas
inteiramente diversas. O Sr. Mussert nada tinha a ver
com o Sr. Hitler. Apenas, não se sabe bem nem como, nem porque, quando a
invasão alemã se deu, não teve ela na Holanda simpatizantes mais sinceros nem
mais decididos do que os partidários do Sr. Mussert.
E agora, quando toda a Holanda já está em mãos dos nazistas teutos,
e o Sr. Seiss-Inquart governa os súditos
da Rainha Guilhermina, o partido do Sr. Mussert se está desenvolvendo sensivelmente, sob os olhares
afetuosos da administração nazista.
O interesse da Alemanha no desenvolvimento
do partido do Sr. Mussert facilmente se explica.
Enganam-se os alemães que pensam que a Alemanha venceu a guerra. Quem venceu
foi o nazismo. Não há um plano de imperialismo nacionalista no fundo das
concepções do Sr. Hitler. Seu imperialismo é sobretudo ideológico. O objetivo
supremo a ser atingido é a expansão da ideologia totalitária.
O Sr. Hitler não repetiu o erro de Napoleão de reconstruir, com
bases germânicas, o colosso com pés de argila, que o Corso ergueu na Europa com
apoio na França. Não interessa ao Sr. Hitler fazer da Holanda um novo reino de Westfalia, que, em suma, seria tão instável em suas mãos
como foi nas do monarca francês. O que sobretudo lhe interessa é a expansão do
nazismo na Holanda, a formação de uma Holanda profundamente pagã e nacional-socialista, governada por holandeses, certamente,
mas por holandeses que reconheçam por convicção própria que o Sr. Hitler é o
sumo pontífice do mundo novo, e Berlim a Meca dos todos os estatolatras
modernos. Uma Holanda nazista, uma França nazista, uma Bélgica nazista, uma
Escandinávia nazista, governadas todas por nazistas do naipe do Sr. Mussert ou do deplorável norueguês que é o Sr. Quinsling, interessam muito mais ao III Reich, do que uma
Europa transformada, sob guante alemão, num imenso braseiro que continua a
crepitar debaixo das cinzas da dominação estrangeira e acabará por vencer
irremediavelmente seu efêmero dominador. Os planos expansionistas
do Sr. Hitler nada tem de comum com os de Alexandre Magno, de César ou de Napoleão. Ele
é, antes, da família espiritual de Maomé, de Juliano ou de Lutero: o que lhe interessa é a expansão de uma ideologia muito
mais do que a de um povo.
* * *
Assim, nada será mais conforme aos objetivos do Sr.
Hitler do que um tal desenvolvimento do nazismo holandês, que este chegue a
poder galgar as escalas que conduzem à chefia do estado, e uma Holanda
governada por holandeses, sem a ocupação de um único soldado alemão, seja por
convicção ideológica própria, uma província fidelíssima dessa Cristandade às
avessas que seria a grande comunhão das nacionalidades constituídas não mais
sobre o Santo Evangelho, mas sobre a doutrina de Nietzche.
Assim, gradualmente, os nazistas holandeses vão
substituindo os alemães na gestão dos negócios públicos na Holanda conquistada. Dois
dos cinco procuradores gerais da Holanda foram substituídos por nacional-socialistas do Partido nazista holandês, e o Chefe
de Polícia de Haya foi substituído por um homem que
tem dado sempre a mais ativa ajuda ao partido nacional-socialista
da Holanda.
Os nazistas holandeses, por sua vez, encetaram uma
vigorosa luta contra os semitas, e entregam-se atualmente à tarefa de organizar
em vários “fronts”
os operários batavos como por exemplo a “Frente do Trabalho”, a “Frente
Agrícola”, a “Frente Teatral”, que lembram até a organização da Ação Católica
com seus ramos especializados de JOC, JAC, etc. O comissário alemão que
dirigia, na Holanda ocupada, as Uniões Trabalhistas Socialistas também foi
substituído por um totalitário holandês.
Aliás, paralelamente ao partido do Sr. Mussert, também há outra corrente de sabor nitidamente
nazista, que é dirigida por um Sr. Arnold Meyer, e conhecida por “Frente Nacional”. É uma corrente de
sentido corporativo, que também pode servir de meio de ação para os
totalitários nazistas, desde que suas concepções sobre corporativismo tenham
caracter suficientemente estatal.
Assim, o objetivo da nazificação
da Holanda se vai realizando por processos que o “Legionário” de há muito
estava em condições de suspeitar e de prever.