Legionário, N.º 422, 13 de outubro de 1940

O FUTURO CONGRESSO EUCARÍSTICO

A imprensa já tem noticiado a constituição da junta organizadora dos trabalhos do Futuro Congresso Eucarístico, a realizar-se em São Paulo.

Do ponto de vista dos recursos humanos, o êxito do Congresso está assegurado de antemão pelas qualidades raríssimas que podem desenvolver neste assunto as duas mais altas autoridades eclesiásticas da Arquidiocese.

S. Ex.a Rev.ma, o Sr. Arcebispo Metropolitano elaborou para a realização do Congresso uma série de planos que revela uma largueza de vistas, um feliz e justo arrojo de concepções, uma magnificência de espírito capazes de fazer do futuro Congresso, não apenas um Congresso nacional, mas um certâmen de fé verdadeiramente ecumênico pela sua repercussão no mundo inteiro.

Mons. Ernesto de Paula, Vigário Geral, é uma excepcional figura de realizador. Inteligente, vivo, enérgico, de uma capacidade de trabalho que chama a atenção de quantos dele se acercam, colaborou ele intimamente com o Ex.mo Rev.mo Sr. Arcebispo na elaboração dos planos extraordinários do Congresso, e será certamente, ao lado de nosso dinâmico Pastor, um incomparável fator de êxito do Congresso.

Quanto à junta organizadora numerosa, incluindo em seu grêmio elementos da maior projeção em nossa vida religiosa e social, pode ela elevar à altura de nossas esperanças e de nossos desejos a extraordinária realidade que, só a graça de Deus, será o Congresso Eucarístico.

Na modesta medida de sua possibilidades, quer o “Legionário” cooperar na realização desta grande homenagem ao Rei Eucarístico. E, por isto, dedica ele algumas linhas ao assunto.

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É de tal maneira feita a inteligência humana, depois do pecado original, que muitas vezes a visão do acidental lhe tolhe a noção do essencial. Corre risco qualquer Congresso Eucarístico de ver dar-se isto consigo. Efetivamente, sendo um Congresso Eucarístico, coisa excelente sob todos os pontos de vista, produz uma tal abundância de frutos admiráveis, que a inteligência como que se perde em sua contemplação. E, insensivelmente, paulatinamente, a pluralidade de frutos faz esquecer o grande fruto essencial, a grande conseqüência fundamental que a Santa Igreja, e portanto a Autoridade Eclesiástica, tem ao realizar um Congresso Eucarístico. É conveniente esclarecer do modo mais preciso o povo, a este respeito.

Se bem que, entre as grandes vantagens que o Congresso pode produzir, não se deve esquecer o significado, extraordinariamente oportuno, de uma grande afirmação de Fé que faça sentir a todos que o Brasil é e quer continuar a ser absolutamente católico, não é este o principal objetivo do Congresso. O Congresso se reúne para um fim todo sobrenatural. Não é ele um pretexto para uma manifestação de Fé. É uma autêntica manifestação de Fé, feita com o intuito essencial de manifestar a Nosso Senhor Jesus Cristo, realmente presente no Santíssimo Sacramento do Altar, toda a adoração humilde e contrita daqueles a quem Ele mesmo elevou na ordem da graça à sublime dignidade de membros de Seu Corpo Místico.

É para esta finalidade sobrenatural que o Congresso se enche de magnificências, que as multidões acorrem de toda a parte, e que toda a Hierarquia da Igreja no Brasil acorrerá para São Paulo. Por mais útil e santo que seja dar lições aos homens, o Congresso será  antes de tudo e acima de tudo um ato de piedade, destinado a apresentar a Deus Nosso Senhor a adoração, o louvor, as ações de graças e a reparação de seus humildes filhos brasileiros. E o Congresso se realizaria exatamente como se realizará, ainda que não tivesse outra conseqüência senão agradar o Pai Celeste, pois que é esta sua grande finalidade essencial.

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Isto prova, antes de tudo, que está nas intenções da Santa Igreja que o Congresso tenha, além de uma preparação material, uma preparação espiritual. Aos olhos de Deus, o grande valor do Congresso estará sobretudo na profunda humildade e sinceridade dos sentimentos com que O adorarem os fiéis. É certo que se estes predicados forem muito autênticos, o esplendor material será grande. Qual a razão por que Madalena escolheu tão esplêndidos ungüentos para  perfumar o Mestre, se não porque sua adoração era profunda?

E o que demonstrou a observação avara de Judas, senão que ele já não tinha amor de Deus?

Entretanto, se o emprego da maior magnificência possível é uma conseqüência lógica e necessária do amor de Deus, é certo que Deus amará a magnificência na medida do amor com que ela for desenrolada aos olhos do mundo inteiro.

Assim, a grande tarefa do momento consiste, para cada um de nós, em afervorar ardentemente seu espírito eucarístico, e progredir resolutamente na vida espiritual a fim de que, quando Jesus-Hóstia caminhar pelas ruas de São Paulo, Ele possa encontrar em nossas inteligências uma chama sempre mais viva de espírito de Fé, e em nossos corações um amor sempre mais ardente. Se assim intensificarmos nosso amor, não haverá dedicação de que não sejamos capazes para que os esforços da Autoridade Eclesiástica sejam coroados de pleno êxito.