Revelações importantes provenientes da Noruega e da Santa Sé levam-nos a
interromper a série de artigos que tínhamos iniciado sobre corporativismo, a fim
de ilustrar, com o exemplo de fatos altamente significativos, as observações
que havíamos feito em outro artigo, também intitulado “Quisling,
Mosley & Co”. Naquele artigo, havíamos mostrado
que em muitos países contemporâneos há partidos com uma ideologia estritamente
nazista, ou ao menos “nazificante”, que cooperam com
a política internacional do Sr. Hitler, com uma docilidade digna de atenta
análise. Sem falar nos sudetos do Sr. Heinlein, nos nazistas austríacos do Sr. Seyss-Inquart, nos nazistas danzigueses do
Sr. Forster, ou nos partidos nazistas de língua alemã disseminados um
pouco por toda a parte - a solidariedade
destes com o sr. Hitler se explicaria por
simples nacionalismo - mencionamos particularmente os camisas oliva do inglês
Sir Oswald Mosley, os nazistas noruegueses do Sr. Quisling, bem como os rexistas belgas e
os nazistas yankees do Sr. Fritz Kuhn. Poderíamos ainda ter mencionado outros, aliás, porque a lista é grande.
O fato preciso que tínhamos diante dos olhos era o
seguinte: sempre que a diplomacia alemã precisa do apoio destes “nazistisantes” de outros países, tem-no caloroso,
incondicional, completo. Ainda mesmo que os interesses da pátria a que tais “nazistisantes” pertencem sofra com isto, o calor de tal
apoio não intibia. Essa solidariedade precisa de uma
explicação. É impossível que “Sir” Oswald Mosley não perceba os
prejuízos que inflige à sua pátria, fazendo pregar abertamente por seus
partidários uma nova paz à maneira da de Munich. É
impossível que o Sr. Degrelle não note que sua
campanha no sentido de um afrouxamento dos laços da unidade flamengo-belga
provoca, na ordem concreta e atual das coisas, uma porção de conseqüências
altamente apreciadas pela chancelaria alemã. É impossível, ainda, que os guarda
de ferro do defunto Sr. Codreanu não verificassem
qual seria o termo inevitável de sua política germanizante
e quais os riscos que tal política acarretava para a Alemanha.
Tanto amor ao nazismo com o sacrifício de graves
interesses da pátria parecia-nos tanto mais inexplicável quanto todos os nazistisantes, pelo próprio fato de o serem, forçosamente
devem timbrar por um patriotismo rubicundo e agressivo, muito próprio ao hiper-nacionalismo das direitas totalitárias.
Que os comunistas sacrificassem seus próprios
interesses nacionais aos da III Internacional explica-se. Um dos princípios
fundamentais do comunismo é a supressão total da idéia de pátria. Assim, pois,
nada há de mais explicável do que um comunista que superpõe os interesses da
revolução proletária internacional aos de seu respectivo país.
Pois, apesar disto, os dirigentes da propaganda
internacional comunista julgaram não poder articular convenientemente,
sistematizando-o em um largo plano de ação comum o esforço de todos os partidos
comunistas do mundo, a não ser pela criação de uma internacional que orientasse
efetivamente, e com disciplina férrea, todo o trabalho de subversão social
promovido nos quatro cantos da terra.
Em outros termos, julgaram os comunistas mais
experientes e mais conspícuos que não seria possível esperar da simples
afinidade ideológica entre todos os comunistas, um esforço comum sério. Sob
pena de um fracasso, o vínculo ideológico, doutrinário exclusivamente deveria
ser reforçado pelo vínculo prático de uma submissão plena a um organismo de direção mundial. E que
vínculo! A pena de morte é uma sanção trivial para os que, tendo se submetido a
ele, procurem afrouxá-lo com uma insubmissão!
Ora, parece curioso que se o partido internacional
comunista, ao qual ninguém nega disciplina férrea e estruturação rígida (imagem
da disciplina dos demônios para seu chefe, Satanás, e da estruturação do plano
diabólico no mundo inteiro), só com este organismo se sentiu apto a agir, a
solidariedade não menos calorosa, nem menos eficaz, nem menos prestadia dos “nazistisantes” do mundo inteiro com o Sr. Hitler seja
exclusivamente ideológica!
Os que temos uma certa experiência de apostolado
podemos facilmente fazendo embora uma comparação arriscada, fazer neste sentido
uma observação ainda mais vivaz. Na Santa Igreja
Católica, que vincula seus filhos à Cátedra de São Pedro por uma disciplina
amorosa, que é imagem fiel da obediência dos Anjos a Deus, a solidariedade
ideológica de todos os membros é absoluta. Mais ainda. Temos fé, e sabemos que
na Igreja não nos une simplesmente uma convergência intelectual em torno de uma
mesma doutrina, mas que palpita vivo em nós o sacratíssimo mistério da graça
que faz viver em todos nós a mesma vida sobrenatural e nos torna não apenas
membros de uma mesma sociedade, mas de uma sociedade sobrenatural que é um
edifício de que somos as próprias pedras vivas! Pois mesmo assim, se se suprimisse a Ação Católica, se fossem
abolidas todas as associações de leigos, não é exato que a Igreja, humanamente falando, não
poderia esperar da simples afinidade doutrinária uma plena cooperação de seus
filhos para a solução das questões políticas, econômicas, etc., que por
mandato divino ela deve enfrentar?
Se assim é com a Santa Igreja de Deus, ou admitimos
um absurdo, ou devemos confessar que atrás desta afinidade das direitas hitlerisantes há algo mais do que uma simples identidade de
idéias!
* * *
Parece que esta ordem de idéias, como seria normal,
não escapou à perspectiva do “Osservatore Romano”, que em longo editorial
mostra os aspectos singulares de que se revestiu a invasão da Dinamarca e da Noruega. Por toda a parte, diz o jornal da Santa Sé, a
desproporção entre invasores e agredidos era grande, sendo estes últimos muitos
mais numerosos. Se a agressão se tornou possível, é porque já estava tudo
preparado, e todos os pontos nevrálgicos destinados a desnortear a resistência
das nações invadidas caíram imediatamente em mãos do invasor.
Além disto, o “Osservatore” acentua fortemente a
ação dos traidores, que haviam minado de tal modo o aparelhamento
defensivo, especialmente norueguês, que quando se quis tentar a resistência, os
serviços públicos haviam sido desarticulados por pessoas ali colocadas adrede
em conivência com o invasor!
Assim é que -
este é o caso mencionado pelo “Osservatore” - os serviços de mobilização
ficaram inteiramente paralisados tanto na Noruega quanto na Dinamarca.
Acrescenta o órgão do Vaticano que é tão viva a impressão causada por este fato
junto aos países neutros, que estes já iniciaram a repressão dos elementos de
extrema direita e extrema esquerda, a fim de evitar que por ocasião de uma
eventual invasão sofram o mesmo destino.
Como se vê, não apenas o órgão da Santa Sé confirma
nossas impressões, mas mostra ainda como elas também nasceram nos altos
círculos dirigentes de outros países neutros.
* * *
Em rigor, a palavra do órgão da Santa Sé não carece
de confirmação. Mas como há cegos que não querem ver, convém acrescentar que a
Holanda já deu inicio a esta repressão, ordenando o
fechamento do partido nazista holandês e do partido comunista. Esta última
circunstância é digna de nota, pois prova que o governo holandês receia que os
comunistas também auxiliem os invasores. Também na Suécia, o partido nazista foi objeto de pesquisas policiais,
e um jornal, o “Trots
Alet”, publicou um extenso relatório sobre a
organização de células nazistas na marinha sueca. Finalmente, dois jovens
noruegueses concederam recentemente uma entrevista à United
Press em que historiam longamente as decepções que sofreram
quando se apresentaram às autoridades de seu país para defendê-lo contra o
invasor. Todos os serviços de defesa estavam tão prejudicados pela traição, que
qualquer resistência se tornou impossível.
* * *
Aí estão os fatos, clamorosos e dolorosos em sua
crueza. Como explicar que os traidores se recrutem entre os próprios nacionais,
em tal número? Como explicar que o Sr. Hitler encontre sempre, a seu serviço,
tais traidores? Como explicar que a propaganda nazista produza sempre tais
frutos?
É este o grande enigma que submetemos à argúcia de
nossos leitores.